Não ultrapassaram a dezena os “coletes amarelos” que durante a manhã de sexta-feira (21 de Dezembro) se juntaram na rotunda da Rainha, em consonância com o protesto que decorreu a nível nacional. A fraca adesão levou a que nem se realizasse a manifestação prevista desde a rotunda até ao Hospital Termal.
Em contraponto com a fraca adesão de manifestantes, esteve o forte dispositivo da PSP, com vários agentes a controlar a zona da Rainha, mas também da Expoeste, onde se reuniram também alguns “coletes amarelos”.
No evento “Vamos parar Portugal – Caldas da Rainha” criado no Facebook, mais de 180 pessoas disseram que iriam marcar presença junto à Rainha, na manhã de 21 de Dezembro. Outras largas dezenas mostraram interesse em ir. Contudo, às 7h00 da manhã de sexta-feira eram apenas quatro pessoas a envergar um colete amarelo perante um forte dispositivo da PSP, que estava no local para garantir a segurança.
Nas horas seguintes viriam a juntar-se mais alguns manifestantes, mas o grupo nunca ultrapassou a dezena e só alguns resistentes ali permaneceram até à hora de almoço. Devido a esta fraca adesão não se concretizou a manifestação que estava prevista decorrer entre o largo da Rainha, Rua de Camões e largo do Hospital Termal.
O evento nas Caldas foi criado por Fernanda Francisco, juntamente com alguns amigos, por considerar que é “preciso mudar”. Na página que criou e onde apelava à mobilização, defendia a redução do preço dos combustíveis e o aumento das reformas mais baixas. Fernanda Francisco considera que o valor mínimo da pensão deveria aumentar para 500 euros e diz que os idosos não conseguem viver com o que recebem actualmente, em que alguns dos casos é de 260 euros. “Há quem diga que essas pessoas recebem a reforma mínima porque nunca descontaram, mas não têm noção que quando elas trabalhavam não havia Segurança Social nem descontos”, fez notar aos jornalistas.
Entre as reivindicações estavam também o apoio financeiro para famílias cujo rendimento não cobre as despesas. E Fernanda Francisco dá outro exemplo: “uma mãe sozinha e com duas crianças, que ganhe 600 euros e pague 300 euros de renda de casa tem muitas dificuldades, ainda para mais tendo em conta que estas pessoas não têm apoios sociais”. O apoio financeiro aos deficientes, fim à isenção de impostos aos privilegiados, redução do IVA e IRS, alteração das condições de trabalho para as forças policiais e tempo de reforma igual para todos, eram outras das reivindicações dos “coletes amarelos”.
“As pessoas estão acomodadas”
A falta de adesão leva Fernanda Francisco a reconhecer que as pessoas “querem que as coisas aconteçam, mas não se querem dedicar pelas causas”. Acha que o que aconteceu nas Caldas é um bocado o espelho do que acontece no mundo, em que “gritamos mas não agimos”, disse.
A mentora do evento reconheceu que tinha bastantes expectativas, tendo em conta as manifestações de interesse nas redes sociais. Também colocaram cartazes pela cidade e sinalizaram a Rainha com os coletes amarelos, chamando a atenção para a concentração. “Levam-me a acreditar que as pessoas estão mesmo contentes com o que está a acontecer no país, com a corrupção em massa, as desigualdades que se notam”, manifestou, acrescentando que acha que as pessoas estão acomodadas.
Formadora de profissão, Fernanda Francisco fez questão de salientar que dinamizou este evento a pensar nos outros, até porque muitos destes problemas não a afectam directamente. Garantiu que não sai muito desiludida desta experiência porque, afinal, ainda vieram algumas pessoas. “Enquanto há um que queira manifestar-se, existe a esperança da mudança”, disse.
Houve um outro grupo de “coletes amarelos” que protestou junto à Expoeste, mas também esse não chegou à dezena de pessoas.
Também a nível nacional o protesto, inspirado no movimento francês, não teve expressão e esteve bem longe de parar Portugal.