Colóquio sobre abusos alerta para prevalência de desigualdade de género

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O colóquio contou com a participação de diversos especialistas para falar sobre abusos e violência
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O colóquio “Amor não é abuso”, onde se falou de violência nas suas diversas formas, foi o primeiro evento organizado pelo Rotary Club de Óbidos

“A Rita procurou-me há uns anos, tinha 23 anos, acabada de sair de uma relação saudável. Tinha-se apaixonado e pensava que aquele era o amor da sua vida. Juntou-se e os problemas começaram no dia em que o filho nasceu. Foi maltratada, teve a sorte de ter uns pais que a acolheram. No dia em que me procurou disse-me: não sei como vou viver sem o amor da minha vida. Sim, a Rita continuava a chamar amor da vida dela ao homem que a tinha maltratado”. O testemunho, um de muitos, foi partilhado por Marta Leal, mediadora familiar e formadora na área do desenvolvimento pessoal e comportamental, que acompanha mulheres que viveram casos de violência. A todas elas, aconselha a construir uma nova história, fazendo uma analogia entre a vida e um livro, com vários capítulos.
E, para criar uma nova história, é necessário “trabalhar o autoconhecimento, a autoaceitação e o autocontrole”, explicou, acrescentando que as crenças que nos movem, por vezes, são limitadoras. “A história pessoal tem de ser reconstruída, de uma forma mais empoderada, mais calma, mas com a certeza de que qualquer mulher merece uma vida melhor, onde seja bem tratada e respeitada”, concretizou.
O longo caminho que ainda é preciso fazer ao nível do autoconhecimento foi debatido por Marta Andrada, psicóloga clínica e responsável pela área de coaching no Hospital da Luz. De acordo com a oradora, tem de se trabalhar mais a prevenção e de forma mais interativa. “Nunca ninguém nos ensinou a olhar para nós”, referiu, apontando o dedo à própria sociedade, que “é a primeira a violentar”, naquilo que exige como norma e não permitindo a cada um olhar para dentro de si e perceber o que quer.
A médica de saúde pública do ACES Oeste Norte, Fátima Pais, apresentou uma retrospetiva da temática, destacando as questões de género e as violentações por que ainda passam as mulheres em muitas culturas. No caso da mutilação genital, está a haver formação para profissionais de saúde, em Portugal, pois estima-se que 6576 mulheres, sobretudo oriundas da Guiné, possam ter sido sujeitas a esta prática.
Também Cristina Teotónio, diretora do Serviço de Urgência das Caldas e de Peniche, realçou a necessidade de debate sobre a problemática da saúde mental e da violência, que é um fenómeno transversal a toda a sociedade. Falou dos hiper utilizadores (que vão mais de 10 vezes por ano) e dos frequentadores (mais de quatro vezes) do Serviço de Urgência, especificando que aí encontram-se pessoas com problemas de saúde mental e vítimas de relações abusivas. A médica alertou também para a necessidade de terem de se identificar as atitudes abusivas, sobretudo nas camadas mais jovens. Na sessão, que contou com um momento musical com Nelson Wrt Cauda de Tesoura e a apresentação de um filme, participaram ainda o cabo da GNR, César Ferreira, e a responsável da APAV, Patrícia Ferreira. Também os presidentes da Câmara e do Rotary de Óbidos integraram o colóquio, moderado por Ricardo Duque. ■

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