Comunidade unida para recuperar Capela do Casal da Areia

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A Capela de N. Sr.ª da Conceição, no Casal da Areia (Salir de Matos), está a ser alvo de obras de reparação das paredes no valor de 4.000 euros. População não tem memória de semelhantes obras, pois os usuais trabalhos consistiam apenas em caiar. Verba angariada através de peditório e atividades

 

A Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Casal do Areia, Salir de Matos, está, pela primeira vez, a ser alvo de obras nas paredes no valor de 4.000 euros.
A iniciativa partiu, espontaneamente, da comunidade, que se uniu para recolher fundos em prol daquele ex-líbris, através de um peditório, uma caminhada com visita guiada àquela capela, à Capela do Formigal e à Igreja Paroquial de Salir de Matos, e um almoço no Centro Pastoral de Salir de Matos, os dois últimos decorridos a 25 de junho.
As iniciativas permitiram custear por completo a empreitada, tendo ainda sobrado algum dinheiro. As obras incluíram remoção da cal antiga, com várias camadas, inserção de reboco e de uma rede de fibra para segurar os locais com rachaduras e endireitar as paredes, sendo o próximo passo a pintura com tinta, a qual se prevê que dure entre dez e 15 anos, segundo Nuno, o pedreiro. Também se arranjou a escadaria para a torre sineira, construída em 1953, segundo uma placa de pedra descoberta na lateral dessa escada, e que estava tapada pela cal. Agora, não mais ficará escondida e há a intenção de “avivar” o texto embutido.
As paredes da capela e os muros são caiados todos os anos, por altura da festa de Nossa Senhora da Conceição, celebrada a 8 de dezembro, explicou Isabel Sebastião, que zela pela capela e que, ultimamente, era a responsável por caiar, apesar da idade já avançada: 75 anos. Isabel passou a ter a ajuda da prima, Alice Filipe, após o seu regresso do estrangeiro, deparando-se com a cal a cair.
Alice Filipe foi a promotora das obras, e conseguiu mobilizar doze habitantes do lugar e cercanias, que formaram uma “comissão” como já não existia há alguns anos. Aliás, desde há cerca de três anos que se perdeu a tradição de realizar uma procissão por ocasião da Festa de N. Sr.ª da Conceição e outras iniciativas no salão da coletividade local, também fechada. apesar de continuar a haver missa.
A iniciativa veio, porém, trazer uma nova vida à capela e à aldeia, na qual vivem cerca de 20 pessoas, cinco das quais são estrangeiros que vivem em permanência (um deles o pequeno Sidney, de cerca de um ano, o último bebé a nascer na aldeia, após mais de 30 anos), existindo ainda uma família de belgas e outra de norugueses que vivem temporariamente.
As últimas grandes obras, decorridas no interior, haviam acontecido por volta de 1975, 1976, segundo Alice Filipe, quando foram retirados os dois altares laterais, em madeira, devido ao seu estado de deterioração por falta de conservação, tais os tempos que se atravessavam. Mas há uma pintura de 1955, da autoria de José Inácio Sobrinho, que representa a capela antigamente.
A fatura da instalação da eletricidade na capela data de 1992, e há também outra que reporta a compra de um sino, em 2013, devido ao roubo do original, pela calada da noite. “Nunca se soube quem é que o roubou, foi de noite, fora de horas, numa camionete. Foi mais do que uma pessoa”, recorda a sacristã.
“A Capela do Casal da Areia foi erguida em devoção de Nossa Senhora das Necessidades, em data anterior ao ano de 1758, sendo referida nas Memórias Paroquiais desse ano”, explicou o juiz embargador e historiador, Carlos Querido, residente naquele lugar. “Foi posteriormente mudado o nome e a invocação da Capela para Nossa Senhora da Conceição, na sequência da Bula do Papa Pio IX, de 8 de Dezembro de 1854”, continuou.
No Adro da Capela eram sepultadas as gentes dos lugares que a rodeiam, sendo o seu interior destinado às pessoas de mais elevada posição social. Isabel Sebastião recorda-se de quando descobriram ossos no adro. “Quando éramos garotos, eu e o meu marido, que andámos na escola do Casal da Areia, às vezes, vínhamos brincar para o adro com os rapazecos todos, e um dia houve um senhor que fez um buraco para caudar a cal, e deram ali com ossos”, que lá permanecem.
Resta agora o arranjo do telhado que, segundo Alice Filipe, de quem partiu a iniciativa para as obras na capela, ronda os 15 mil euros. A comunidade vai pensar em mais atividades para angariar esta verba. Urge também resgatar a Capela de N. Sr.ª da Piedade, do Formigal, que é particular e remonta ao início do séc. XVII, encontrando-se em severo estado de degradação. ■