Concelho acolhe futuros médicos e sensibiliza-os para realidade na saúde

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Os estudantes fizeram rastreios nas diversas IPSS do concelho

Estudantes de Medicina fizeram rastreios e acções de sensibilização, no âmbito do projeto “Medicina Vai”. Promover a saúde, mas também cativar os futuros médicos para a região são objetivos

Carolina Lopes está a começar o terceiro ano de Medicina na Universidade do Porto, mas a semana passada, entre 4 e 9 de setembro, esteve a pôr em prática os seus conhecimentos nas Caldas. Na tarde de quinta-feira mediu a tensão arterial aos utentes do Centro de Dia de Alvorninha, juntamente com alguns dos seus colegas, voluntários no projeto “Medicina Vai”. Registou, com agrado, que os idosos “têm conhecimento da sua saúde, são muito abertos, o que também nos ajuda porque precisamos de ir praticando e eles estão muito abertos e disponíveis”. A participar pela primeira vez, destaca a iniciativa, da associação de estudantes, que lhes permite praticar a componente médica e, ao mesmo tempo, estar mais perto da comunidade e ver as necessidades e carências mais específicas de cada local. Desta região, Carolina Lopes conhecia a parte turística, “não tanto os problemas da saúde”, reconhece, acrescentando que foram elucidadas sobre essas dificuldades na recepção e que querem ver “como podemos ajudar”. No centro de dia, os voluntários fizeram o rastreio aos utentes e o respetivo registo do valor da hipertensão e da glicemia, e ofereceram um panfleto com as informações e conselhos sobre o risco cardiovascular. Os funcionários que quiseram também fizeram o rastreio e receberam formação de Primeiros Socorros e de Suporte Básico de Vida.

A abertura e simpatia dos seniores foi destacada pelos voluntários

Mas o projeto tenta abarcar todas as faixas etárias. A pensar nos mais novos dinamizaram o Hospital dos Pequeninos (com as crianças das creches e do primeiro ciclo do ensino básico), em que os ajudam a perder o medo de ir ao médico ao cuidarem do seu boneco. Com o objetivo de chegar aos jovens foram para a rua fazer sensibilização noturna sobre educação sexual reprodutiva. No sábado, para assinalar o Dia da Prevenção do Suicídio realizaram, no Parque D. Carlos I, uma ação de sensibilização para a saúde mental.

Iniciativas nas 12 freguesias
O grupo, de 50 estudantes, foi dividido em seis equipas, que percorreram as 12 freguesias das Caldas, promovendo ações de formação e educação, bem como atividades abertas junto da população, em articulação com as uniões e juntas de freguesia e IPSS locais. A trabalhar desde terça-feira, os jovens fazem um balanço “muito positivo”, destacando o facto de encontrarem pessoas bastante informadas sobre as questões da saúde. “Quando há menos pessoas para fazer os rastreios gostamos de explorar a parte humanitária, de falar com as pessoas e saber a sua história de vida”, partilhou Sofia Lopes, 23 anos, natural do Porto, que participa este ano pela primeira vez na comissão organizadora. A jovem, que participou como voluntária nas duas edições anteriores, em Óbidos e em Vinhais, considera o projeto “super completo” e que aquele a ajudou a “tirar as dúvidas de que este era o curso certo para mim”.

O projeto Medicina Vai integra também um Hospital dos Pequeninos, que desmistifica o medo de ir ao médico

Para além disso, apresenta-se como uma oportunidade para conhecerem locais e realidades diferentes. “Podemos ver como é que o resto do território português funciona, perceber as lacunas e onde podemos ajudar e fazer a diferença”, salienta a estudante que está prestes a iniciar o último ano do curso de Medicina. Relativamente às Caldas, salientou a “luta” para manter o hospital no concelho e o “grande interesse e investimento que é feito na saúde. É algo que toda a gente reparou e louvamos imenso”. No entanto, os jovens aperceberam-se também de que “nesta região há muita gente sem médico de família”. Um problema que no Norte do país não tem tanta expressão, mas que Sofia Lopes considera importante para “abrir os olhos aos estudantes para a realidade e também cativá-los para um dia, talvez, virem para cá, tirar a especialidade ou fazer a sua vida profissional”. Ela própria não descarta essa possibilidade. “Nunca fomos tão bem recebidos, estou a adorar as Caldas e via-me a viver aqui um dia!”.
A participar na iniciativa pelo segundo ano, e depois de uma primeira experiência na Sertã, Miguel Dias, de 21 anos, natural de Viseu, vê o projeto como um “excelente complemento” à formação científica que têm na faculdade. “No Medicina Vai temos um contacto humano muito grande e isso é importante, sobretudo, para os estudantes dos primeiros anos do curso, onde isso não se verifica tanto”, concretiza.
A Câmara das Caldas, que já se tinha candidatado para acolher o projeto no ano passado, realça o entusiasmo demonstrado pelos estudantes durante a permanência no concelho. Sara Oliveira, adjunta do presidente e representante da autarquia que está a acompanhar o projeto, fala na “simbiose” perfeita, entre a possibilidade de conhecimento de outros territórios e as carências a eles associadas, e o impacto da educação para a saúde na comunidade. Considera que a população local ficou beneficiada e não esconde que gostariam de os voltar ver na região, no futuro, num contexto profissional.
O presidente da Câmara, Vítor Marques, enaltece o trabalho que a autarquia tem feito ao nível da promoção da saúde, em parceria com várias entidades, e o apoio a obras, tanto no Hospital das Caldas como nos edifícios do Centro de Saúde e Unidade de Saúde Pública (estas últimas estando previstas começar no início do próximo ano). ■