Situado em praças ou nos centros das aldeias e cidades, o coreto chega a Portugal em inícios do século XIX, permitindo ao povo ter acesso à arte e cultura de forma gratuíta. Durante muitas décadas foram um dos principais locais de atração popular juntando à sua volta um vasto público para ouvir a actuação das bandas de música.
Actualmente são poucos os que ainda possuem alguma função, restando a memória colectiva destes símbolos da cultura popular.
O coreto chega a Portugal com o liberalismo, importando o modelo de França (que por sua vez já se tinha inspirado no modelo inglês) e assumia-se como um palco de espectáculo gratuito ao serviço dos ideais liberais. Formadas por um palanque circular e com uma cúpula para abrigar os músicos, coros, ou oradores, estas construções estão directamente ligadas ao apogeu das bandas filarmónicas e à possibilidade destas mostrarem ao povo o seu repertório.
O termo “coreto”, sinónimo de “pequeno coro”, será oriundo da palavra italiana coretto e evoca termos como tribuna, palanque e quiosque. Em inglês chama-sebandstand, em francês kiosque a musique, em alemão misikpavillon e em espanhol é quiosco de musica, designações que mostram a função deste palco que começou por ser desmontável e que depois se tornou uma referência no espaço público.
Mas as alterações sociais, do modo de vida e dos gostos no que respeita ao lazer, fizeram com que gradualmente os coretos fossem perdendo importância e que, actualmente, muitos deles se encontrem abandonados. As bandas filarmónicas também cresceram e têm muitos elementos e por isso não é possível actuar nos coretos, explica Delmar Domingos de Carvalho na obra “Os coretos do distrito de Leiria”, que editou para o Inatel com a colaboração de Carlos Baptista.
A grande maioria destes espaços são propriedade das juntas de freguesia e foram apropriados pela comunidade. Nas Gaeiras, por exemplo, o coreto datado de 1947 mantém-se como um símbolo da cultura local por vontade da população, que não permitiu que fosse retirado aquando do projecto de requalificação do Largo de S. Marcos. O arquitecto alterou então a proposta, integrando-o no espaço, devidamente reabilitado.
Um exemplo oposto: no Cintrão (Bombarral), o velho coreto dos anos 70 do século passado não resistiu à requalificação do largo principal da aldeia e foi demolido sem que, no seu lugar, ficasse qualquer peça marcante no espaço público.
Voltando às Gaeiras, o presidente da Junta, Luís do Coito, tem 57 anos e ainda se lembra de, na sua juventude, ouvir a banda tocar no coreto da então aldeia. “Depois o coreto deixou de ter essa função porque as bandas também cresceram” conta o autarca à Gazeta das Caldas, acrescentando que o imóvel permanece no espaço central vila, também conhecido por Largo do Coreto e onde se continua a realizar a festa anual.
O CORETO DO PARQUE
Também o coreto que se situa no Parque D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, teve recentemente obras de reabilitação ao nível da pintura e também com a colocação de quadros eléctricos, que permite a realização de actividades naquela zona. A União de Freguesias de Nossa Sra do Pópulo, Coto e S. Gregório (que tem a gestão do Parque) tem dinamizado algumas actividades naquele palco, desde actuações mais tradicionais a outras mais vanguardistas. Ali têm actuado bandas de música popular e de jazz, ali foram realizadas exposições e até récitas de poesia aquando do Caldas Late Night. Ao seu redor têm actuado bandas filarmónicas e ranchos folclóricos.
A junta de freguesia quer dinamizar ainda mais este espaço, tendo já convidado o Conservatório de Música das Caldas da Rainha a dinamizar ali iniciativas e pretende que ali haja música com regularidade.
Quase 60 coretos no distrito de Leiria
De acordo com o inventário feito na obra “Os coretos do distrito de Leiria” (cujas imagens também reproduzimos) existem perto de 60 coretos no distrito edificados, a que acrescem algumas dezenas de imóveis que foram destruídos e outros transformados para outros fins, como, por exemplo, local de quermesse.
No concelho de Óbidos existem coretos em A-da-Gorda, A-dos-Negros, Gaeiras, Bairro da Senhora da Luz e Olho Marinho. Já nas Caldas, a freguesia de A-dos-Francos conta com dois destes imóveis e existem outros em Alvorninha, Nossa Sra do Pópulo (parque D. Carlos I), Casal da Coita (Santa Catarina), Nadadouro e Foz do Arelho. No caso da Foz do Arelho, o livro refere que foi edificado um primeiro coreto com algumas pedras “retiradas da Quinta Grandela [propriedade de Francisco Almeida Grandela]”, que viria a ser demolido. Mais tarde, na década de 70 foi construído outro imóvel, “uma construção de linhas simples, com os materiais mais usados nessa época”, e que permanece no centro da vila.
Mas houve coretos que desapareceram, como é o caso do que estava em Alcobaça em frente ao mosteiro e que tinha sido edificado em 1887 e destruído durante o Estado Novo. Também as localidades da Benedita e de S. Martinho do Porto viram desaparecer estes símbolos da cultura popular.
O coreto que estava situado no Largo da Igreja do Bombarral deixou de existir em meados do século XX, permanecendo um exemplar no Cintrão (já demolido) e dois no Senhor Jesus do Carvalhal.
Para além destes imóveis, fixos, chegaram a haver outros que eram montados apenas nos dias de festa e arraial popular.