Escolas preocupadas com falta de meios para ensino em casa

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O terceiro período deste ano lectivo será feito a partir de casa
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As escolas preparam o início do 3º período com as aulas não presenciais, o que traz vantagens e desvantagens. Os directores dos agrupamentos mostram-se preocupados com a falta de meios.

Este ano, o 3º período escolar será feito de forma não presencial para a esmagadora maioria dos alunos, uma realidade que acarreta desafios, tanto para os alunos como para os professores e até para os encarregados de educação.
Os directores dos agrupamentos alertam para a necessidade de manter a igualdade no ensino e fazem notar que existem alunos sem computador ou sem ligação à Internet. “É um problema grave”, assumiu à Gazeta João Silva, director do agrupamento Raul Proença. Dos 2750 alunos do agrupamento, 365 não têm computador e 169 não têm acesso à Internet. A solução, para já, passará por serem os professores a compilar os materiais, que serão impressos pelos serviços de reprografia (que irão estar a funcionar para este fim). “Depois temos de criar um mecanismo para os fazer chegar”, explicou. “A OesteCIM e a autarquia já nos pediram estes dados e não sei se não estarão a trabalhar para ajudar a providenciar uma solução”, revelou.
João Silva refere a necessidade de não criar situações de maior desigualdade. “Temos de ter consciência de que, em casa, os alunos estão acompanhados pelas famílias e há alguns que têm ajuda e outros que não”, salienta.
Já no Agrupamento Rafael Bordalo Pinheiro há 50 alunos sem os equipamentos informáticos necessários.
A directora do Agrupamento, Maria do Céu Santos, considera que este é um “factor alarmante, diria mesmo, dramático” e que “compromete a universalidade do ensino e o princípio da equidade. Há alunos que, por razões económicas das famílias, não dispõem de equipamentos que lhes permitam em condições de igualdade com os restantes colegas, beneficiar do ensino à distância”.
O próprio agrupamento conseguiu, “por ora, reunir 30 tablets, que colocará à disposição dos seus alunos, e ainda não desistiu de conseguir responder a todas as situações de carência”. Uma das soluções que defende é que o Ministério crie condições legais que permitam a deslocação desses alunos à escola para utilizarem os equipamentos existentes sob supervisão de um docente. “Não seria fácil, dado o estado de emergência e as medidas de confinamento. Mas o que não é admissível é a exclusão de alunos do processo educativo, devido à carência económica das respectivas famílias”, nota.
Acresce a falta de socialização com os colegas e a ausência da interacção e do debate de sala de aula. Ainda assim, desta forma existe uma “maior focagem dos alunos na aprendizagem e não no ambiente da aula”, mas também “o reforço da necessidade de pensar e de reflectir sobre as matérias lectivas, por ausência física do professor que na sala rapidamente esclarece qualquer dúvida” e ainda “o desenvolvimento da autonomia dos alunos”.

EMPRÉSTIMOS

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No Colégio Rainha D. Leonor houve apenas quatro pedidos de equipamentos informáticos, que foram resolvidas com o empréstimo de equipamentos da escolas. “Em dois casos, os alunos não tinham, nos outros dois foi para facilitar a logística familiar, pois os pais estão em teletrabalho e também necessitam de computador, ou têm irmãos também com aulas à distância”, explicou a directora Sandra Santos. Naquela escola, entre outras mudanças, foi alterada a plataforma usada no final do 2º período. “Pretendemos canalizar toda a informação para o mesmo espaço, pois foi um dos pontos que sentimos que tínhamos que melhorar: com tantos recursos disponíveis, a informação estava dispersa, os alunos e os professores usavam diversos meios de comunicação”.
A directora do Colégio faz notar que este é um período atípico. “Sabemos que, no próximo ano lectivo, devem ser planeadas estratégias de recuperação, sobretudo para novos alunos que não tenham tido as mesmas oportunidades”, afirma.
No agrupamento D. João II levanta-se a mesma questão do equipamento para 189 dos cerca de 2100 alunos. “É um problema que também sentimos”, corroborou o director Jorge Graça. Também aqui houve uma reorganização para proporcionar aos alunos “as melhores condições possíveis de ensino e de aprendizagem, não descurando a parte relacional, pela importância de que esta se reveste”.
Em Óbidos as principais barreiras identificadas pelo director do agrupamento de escolas, José Santos, passam também pela “falta de meios informáticos, de conhecimentos informáticos e de tempo de preparação do processo”, assim como pela “falta de equidade associada a esta modalidade de ensino e a gestão do processo em família que nem sempre se revela a mais adequada devido às dificuldades evidenciadas pelo contexto”.
Neste agrupamento cerca de 100 dos 1700 alunos não têm ou computador ou acesso à Internet. “Estamos a trabalhar com o Parque Tecnológico e a autarquia para tentar resolver o problema da falta de meios”, esclarece. O director do agrupamento realça os pontos fortes deste método: “o maior será, provavelmente, a relação com as famílias, a dinâmica interpessoal familiar que, apesar do teletrabalho, da reclusão, do confinamento imposto, está a ser cimentada”, além da “autonomia do aluno e a capacidade de trabalhar em projecto”.
O serviço de psicologia e orientação do agrupamento faz notar que estes tempos “podem naturalmente abrir o medo, a angústia, a ansiedade, a depressão… e todas as partes menos construtivas de cada um”, mas salienta que podem “também, como tende a acontecer em situações de guerra ou sentidas como similares, fazer emergir de modo mais intenso um espírito de cooperação, partilha e desejo de contribuir para o bem comum”.
Os responsáveis pelo serviço fazem também notar “naturalmente, os alunos do secundário que farão exames, e os respetivos professores, estão sujeitos a uma pressão acrescida”.

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