Designer das Caldas coordena equipa na Agência Espacial Europeia

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designerHugo Simões, de 38 anos, é director criativo na Agência Espacial Europeia (ESA), em Itália. Natural de Tomar, residiu nas Caldas desde os 12 anos até à altura em que ingressou na Escola Universitária das Artes de Coimbra para tirar Design Gráfico. Desde cedo acalentou o sonho de ter uma experiência internacional e, com o curso terminado, inscreveu-se para um estágio profissional na Finlândia. Um emprego na Agência Espacial Europeia (ESA) levou-o para a Holanda e depois para Itália, onde permanece, a coordenar a equipa de designers.
Ganhar uma viagem à Holanda foi a motivação que levou Hugo Simões a candidatar-se à entrevista de emprego na Agência Espacial Europeia (ESA). Corria o ano de 2002 e este caldense de coração estava na Finlândia, numa situação estável, a trabalhar como designer gráfico e a dar já trabalho a alguns amigos finlandeses.
No entanto, o gosto pelas viagens e o facto de nunca ter estado na Holanda, levou-o a arriscar, preenchendo o formulário no último dia de prazo.
Hugo Simões estava em Portugal, de férias, quando recebe o e-mail da ESA a informar que estava seleccionado e que teria uma entrevista dentro de uma semana. A confirmação de que estava contratado foi dada no dia do seu aniversário, em Setembro, e pouco tempo depois mudou-se para a Holanda, para o Centro Europeu de Investigação e Tecnologia Espaciais (ESTEC), onde integrou a equipa de design, sendo na altura o seu colaborador mais jovem.
Começou como designer gráfico (cabendo-lhe a parte mais criativa, de fazer fotomontagens ou fotocolagens) e cedo percebeu que queria mudar algumas coisas, começando a fazer relatórios com algumas propostas.
“De vez em quando mandava umas propostas para o chefe com pequenas ideias do que podiam mudar e eles gostaram disso” recorda Hugo Simões, acrescentando que a marca podia ser mais potenciada.
Mais tarde foi convidado para ir para Itália, para o Instituto Europeu de Investigação Espacial (ESRIN) da ESA, situado em Frascati, onde passou a ser um director criativo, coordenando uma equipa de seis designers, que trabalha ainda com várias empresas da área.
Considerada a porta da Europa para o Espaço, a ESA é uma organização intergovernamental (20 estados-membros) que tem por missão moldar o desenvolvimento da capacidade espacial da Europa e de assegurar que o investimento no espaço crie benefícios para os cidadãos.
Hugo Simões destaca que as suas actividades não podem ter uso militar e que grande parte da investigação feita é depois aplicada em diversas áreas. Por exemplo aplicações em computadores, telemóveis, os materiais que os bombeiros usam para protecção de aquecimento ou para painéis solares, foram criados há vários anos na industria espacial.
“Mandamos coisas para o ar, mas durante esse processo desenvolvemos técnicas de materiais e nanotecnologias que podem ser usada em diversas actividades”, explica, acrescentando que a ESA possui as patentes, mas oferece à indústria europeia a possibilidade de criar novos materiais nos seus projectos.

“Ir ao espaço para trazer informação para a Terra”

Há dois meses a ESA esteve envolvida em três projectos muito importantes. A Rosetta, formada pela sonda espacial e pelo Lander, que é o Philae pousador-robótico, foi lançada em 2004 e, depois de vários anos “adormecida”, aterrou no cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, a 500 milhões de quilómetros da Terra, entre Júpiter e Marte. A sonda, que tem por objectivo ajudar a entender as origens e evolução do sistema solar, vai agora continuar a seguir o cometa enquanto este se aproxima do Sol (a sua órbita à volta do Sol demora seis anos e meio a completar).
“É um projecto interessantíssimo”, destaca o designer, recordando que ainda se encontrava na Holanda quando a sonda foi lançada e que na altura lhe era difícil imaginar que os resultados seriam apenas conhecidos dentro de uma década. “Como é que alguém cá na Terra consegue fazer esses cálculos com tanta antecedência e acertar em tudo?”, questiona, para de seguida dar nota da “quantidade de pesquisa que foi necessária para que hoje, por exemplo, as fotos, tenham uma qualidade aceitável”.
O trabalho de Hugo Simões centrou-se na campanha de divulgação que foi feita aquando da reactivação da sonda, com vídeos, promoção no facebook, criação de autocolantes para dar às crianças e flyers para distribuir nas universidades. Depois, quando a Rosetta estava a chegar perto do cometa, começou a contagem decrescente com a publicação de fotografias aos 45 quilómetros, depois aos 35 e assim sucessivamente. “De três em três dias era colocada uma nova imagem e as pessoas começam a acompanhar a viagem”, recorda, destacando que este tipo de campanha pretendeu mostrar que a “agência vai para o espaço para trazer informação para a Terra”.
Também recentemente promoveram a primeira italiana astronauta lançada pela ESA, Samantha Cristoforetti, que actualmente está a voar à volta do mundo. Entre as várias actividades estão a planear algumas envolvendo-a com a arte e também com a alimentação.
Em inícios de Dezembro decorreu o Conselho Ministerial da ESA, onde foi decidido sobre o desenvolvimento do Ariane 6 e do Vega C, cujo investimento é de 3,8 mil milhões de euros.

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“Tens que te entregar ao que fazes”

“O que eu acho que é mágico é o desafio e a diversidade”, diz Hugo Simões, que diariamente trabalha com colegas de 20 nacionalidades diferentes, com os atritos e atracções culturais que existem entre eles.
“Hoje posso estar a falar sobre a observação da Terra e desenvolver uma campanha a dizer que é possível controlar a malária em Africa com os nossos satélites, no dia a seguir a mostrar imagens do universo e, depois, mostrar um novo sistema de telecomunicação com quatro operadoras dentro do mesmo satélite”, sintetiza.
O jovem, que em criança tinha o sonho de ser ilustrador na Walt Disney, e depois da Pixar, não pensa agora deixar de olhar para o espaço. “Adoro viajar e a ESA apresenta-me desafios e só isso faz com que queira envolver-me mais com os projectos que têm”, diz.
E valeu a pena ter saído de Portugal? A resposta é pronta e afirmativa. Mas Hugo Simões ressalva: “mas tens que te entregar ao que fazes e aceitar as diferenças dos outros”.
Conta ainda que não é fácil a um jovem estar longe do seu país e da família e que há dias em que as coisas correm mal. “Mas para mim o resultado é 95% positivo, voltava a fazer tudo o que fiz”.

Um apaixonado pelo espaço

O espaço faz agora parte integrante do mundo de Hugo Simões. O jovem colecciona diversos objectos, bem como viagens relacionadas com a temática. Foi ver o último lançamento do vaivém espacial americano em Cocoa Beach (Florida) e depois também conseguiu ver na Guiana Francesa o primeiro lançamento do Veja, o foguetão mais pequeno que a ESA construiu. Mais recentemente, em Maio de 2013, Hugo Simões organizou uma viagem para assistir ao lançamento do Soyuz do porto espacial de Baikonur no Cazaquistão. De destacar que esta viagem contou com a participação do primeiro astronauta da última selecção da ESA, o italiano Luca Parmitano.
“Foi uma aventura incrível para arranjar vistos e entrar naquele local porque eu queria ver tudo, desde a zona onde constroem o foguetão até ao seu levantamento”, conta à Gazeta das Caldas.
A próxima viagem poderá já acontecer este ano, novamente à Guiana Francesa, para ver o lançamento do Ariane 5 no Centro Espacial de Kourou.

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