Depois de passar por grandes produções do cinema nacional, a alemã, a residir na Foz do Arelho, ensina como tornar produções audiovisuais mais ecológicas
Dörte Schneider Garcia, a residir em Portugal há mais de 25 anos e na Foz do Arelho desde 2016, foi assistente de realização e/ou editora de pós-produção em grandes produções portuguesas, como a longa-metragem “Esquece Tudo o que te Disse” (2002), de António Ferreira, “Comboio Noturno para Lisboa” (2013), de Bille August, ou “São Jorge” (2016), de Marco Martins, entre outros trabalhos audiovisuais. Mas esta alemã, de Dresden, é uma verdadeira ativista atrás das câmaras.
Atualmente, a germânica, já com nacionalidade portuguesa divide os dias entre a coordenação do primeiro curso em Green Consultancy em Portugal, na Universidade Lusófona, ações de limpeza de praia na Foz do Arelho através do grupo LinDoMar, do qual é co-fundadora, e ações de formação para diversos países acerca de como tornar as produções cinematográficas e televisivas mais sustentáveis e eficientes, do ponto de vista “ecológico, económico e social”.
Foi recentemente que a vida de Dörte mudou de rumo, depois de ter sido acometida por um “azar de saúde”, em 2018, que a obrigou a colocar um travão ao ritmo de vida acelerado que levava, com “semanas de seis dias”, dias de trabalho de catorze ou mesmo dezasseis horas, com o recorde de um dia de 27 horas num trabalho publicitário,
Forçada a fazer uma pausa no trabalho, viu-se com tempo para repensar a carreira, então essencialmente baseada na assistência de realização em trabalhos publicitários, os mais abundantes no mercado e física e emocionalmente menos esgotantes que as grandes produções cinematográficas, em que decidiu deixar de trabalhar aquando da mudança para as Caldas. Sentia-se em meio de um cada vez “maior dilema interno”, perguntando-se se estaria “a contribuir para a coisa certa”, explicou, num português impressionante.
Com as opções de trabalho mais limitadas, decidiu tirar um curso de Marcenaria no Cencal, mas as “saudades do meio cinematográfico”, responsável pelo seu estabelecimento em Portugal, no final dos anos noventa, ainda aluna, começavam a apertar. Não tardou, no entanto, a que recebesse um convite de um amigo que tinha uma produtora para o auxiliar a tornar os processos inerentes à mesma mais “amigos do ambiente”.
Dörte, que, à altura, já começara a atuar no sentido de tornar as produções mais ecológicas, com a elaboração de um manifesto em conjunto com colegas do meio para a eliminação das célebres garrafinhas de plástico que andam por todo o lado no plateau, muitas vezes abandonadas após sorvido apenas um gole, bem como os copinhos de café de plástico, ficou radiante com a proposta. Mas surgiu a pandemia.
Em casa, a alemã, que se considera uma “ativista” pelo facto de não conseguir ver uma coisa que está mal e ficar parada, participando nas greves climáticas estudantis “Fridays for Future”, dedicou-se à pesquisa e descobriu um curso na Alemanha acerca do “green shooting”, que foi estrear, tornando-se assim a primeira (e, para já, única) “green consultant” em Portugal.
As suas funções são variadas, sendo transversais a todo o processo de conceção de uma obra audiovisual, desde a escrita do guião à pós-produção e distribuição. A título de exemplo, na fase da escrita, o green consultant pode aconselhar a que sejam selecionados locais de gravação num raio próximo, para diminuir a pegada ecológica da produção, em que os transportes e as viagens representam cerca de metade do total.
Agora, é à “transferência de conhecimento” que se sente chamada, contando, por abril, aquando da conclusão da 1ª edição do curso na Lusófona, já ter mais catorze colegas com os quais partilhar a missão “verde” atrás das câmaras. ■