Editorial

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Caldas da Rainha e a Europa

Caldas da Rainha não consta deste mapa distribuído numa feira de turismo em Madrid

Caldas da Rainha, assim como a maioria das localidades do país, está a sofrer a maior crise que cada um de nós já conheceu desde sempre. Isto não significa que hoje se viva pior do que há 30, 40, 50 ou 60 anos (só para nos recordarmos dos tempos que foram vividos pela maioria das actuais gerações), mas sim que é uma evidência que descemos bruscamente de um nível de vida superior ao que agora temos.
O 15 de Maio que vamos comemorar na próxima semana seria um momento ideal para fazermos algumas reflexões sobre o que têm sido as últimas décadas no nosso país e nas Caldas da Rainha, bem como os momentos vividos mais recentemente desde a grande crise que emergiu nos EUA em 2008 e que, paulatinamente se estendeu a todo o mundo, fazendo os portugueses, como muitos outros povos, viveram momentos que nunca sonharam.
É evidente que há causas nacionais, que se juntaram e potenciaram às externas, que os portugueses não fizeram o trabalho de casa e que se inebriaram com os frutos de uma prosperidade ilusória e momentânea, que lhe foi facilitada pelos juros baixos e por um excesso de oferta fácil de bens e serviços que muitos não sonhavam antes.
Contudo, muito deste exagero e excesso foi proporcionado e incentivado, tanto por responsáveis e financiadores internos, como e principalmente por externos, que na busca do lucro fácil,  ignoraram a miséria e problemas que iriam acarretar aos outros a prazo, nunca se tendo preocupado com a situação que estavam conscientemente a gerar.
Infelizmente, apesar de se terem aproveitado muitos oportunidades que melhoraram substancialmente as nossas vidas com os fundos redistribuídos por Bruxelas, à mistura fizeram-se investimentos ou gastos de pouca viabilidade económica e de fraca sustentabilidade, que se transformaram em custos que oneram no futuro a todos.
E esta acusação vai desde os submarinos às auto-estradas sem custos para o utilizador (vulgo SCUT´s), que foram lançadas depois da guerra das portagens para a auto-estrada do Oeste,  em que fomos dos poucos a defender o sistema do utilizador pagador, contra todos os partidos do espectro partidário (localmente o PS também era contra as portagens), como várias outras obras que se sabia que alguém teria de pagar a prazo.
Também por incompetência, desmazelo ou falta de visão, outras oportunidades foram perdidas. Oportunidades que outros em idênticas condições beneficiaram, como foi o caso dos fundos do POLIS para a modernização das cidade, e de que Caldas da Rainha só agora está a ver algumas migalhas.
Mas como nesta edição testemunhamos, há ainda mais desmazelo na forma displicente como a cidade olha para factores “tão insignificantes” e básicos, como a limpeza, arranjo e promoção da cidade e concelho, que faz com que Caldas da Rainha nem já apareça nalguns guias oficiais do turismo português, distribuídos nas feiras internacionais, tal como quase desapareceu qualquer informação nos guias estrangeiros.  Diariamente visitam Lisboa milhares de turistas de todas as partes do mundo, que não são seduzidos por nenhum evento ou atracção caldense, razão pela qual é mínimo o número daqueles que passam pelas Caldas da Rainha, ao contrário do que se passa com Óbidos, Alcobaça, Nazaré, ou mesmo Peniche. Até há 20 ou 30 anos isto não era assim, uma vez que muitas das excursões que se deslocavam a Óbidos e Nazaré atravessavam a cidade das Caldas, fazendo em alguns casos paragens no mercado da Praça de Fruta, que era um momento inusitado para fazer algumas fotografias e comprarem (a exemplo do que é feito noutros países). Até isso se perdeu.
Nos últimos tempos as notícias para Portugal não têm sido boas, e por arrasto a região Oeste tem sido penalizada aos mais variados níveis, sem que haja uma esperança, uma luz ao fundo do túnel em qualquer sentido. Tanto nas questões básicas da saúde, justiça e transportes, como nas áreas estratégicas de desenvolvimento da agricultura, à indústria, turismo, comércio, etc., as notícias não têm sido boas nem há qualquer vislumbre de uma inversão de tendência.
Como escrevíamos há alguns meses, talvez que as notícias que vêm de França, em que se quebra o tandem Sarkozy e Merkhel, seja a alavanca que faltava na Europa para inverter a obsessão pelo défice e para dar vida ao processo de recuperação pelo investimento e pelo crescimento económico.
Nunca antes, numas eleições na Europa, Portugal e muitos dos restantes países europeus torceram tanto pelo afastamento de um candidato que nada havia trazido de interessante para a Europa nos últimos anos. Provavelmente Hollande não fará milagres, mas só a tentativa de travar o radicalismo da chanceler alemã já pode ser positivo para o nosso país.
E Caldas da Rainha e o Oeste estão dependentes fortemente desta mudança, uma vez que vemos a economia local e regional definhar, sem se ver no horizonte alguma sinal positivo.
Cabe-nos a todos, dentro das possibilidade de cada um, criar as condições para contribuir para inverter o actual estado de coisas e criar as alavancas necessárias para captar novos clientes e visitantes que possam beneficiar dos recursos que dispomos.
Agora temos de acordar desta sonolência para a qual fomos atirados, quer pela conversa melancólica e arrastada do ministro das Finanças, quer pela inevitabilidade do discurso de Passos Coelho.
Esperemos que em breve a Europa possa dar o primeiro pontapé e que o país queira e saiba seguir esse impulso. Estamos mais confiantes hoje do que estávamos há uma semana e achamos que este 15 de Maio devia servir de ocasião para mobilizar os caldenses nas missões que se lhes impõem.