As vantagens deste modo de produção tanto para o consumidor como para a sustentabilidade do planeta foram evidenciadas por especialistas
João Baptista “entrou” na agricultura biológica com 55 anos. Convidado a integrar um curso, acabaria por ir “forçado” para que este pudesse avançar, mas tudo mudou durante a formação de tal modo que, após o seu término foi falar com o presidente da Câmara de Óbidos para fazer um mercado biológico na vila. Existe há 17 anos.
A experiência foi relatada na primeira pessoa durante o “Colóquio de Primavera – Hortofruticultura biológica”, que decorreu a 21 de março na EHTO, no âmbito da edição de 2024 da Frutos – Feira Nacional de Hortofruticultura e que juntou diversos oradores.
A Dinamarca e a Suécia são os maiores consumidores de agricultura biológica, explicou o engenheiro agrónomo e consultor na área da agricultura biológica, Jorge Ferreira, dando registo da apetência pelo consumo destes produtos especialmente no norte da Europa. O também produtor salientou que tem tido bons resultados nos pomares de pera e maçã cultivados em modo biológico. “A qualidade da fruta é bastante boa”, destacou.
Hugo Zina, da Horta do Pé Descalço, partilhou a sua experiência de vida até chegar ao Campo (Caldas da Rainha), onde em 2017, juntamente com a companheira, alugou o terreno e começou a horta. Reduzir a pegada ecológica, além de ser biológico e local é o objetivo da Horta do Pé Descalço cujos produtos são vendidos na Praça da Fruta e também em cabazes distribuídos entre Óbidos e Peniche. O respeito pelo solo foi evidenciado pela engenheira Ana Teresa Ferreira, que também abordou a sua regeneração para ter eficiência nos processos dos ecossistemas agrícolas.
Na Lourinhã existe uma empresa que possui 50 hectares em produção biológica, com 40 culturas diferentes por ano, três lojas próprias e que o ano passado comercializou quatro mil toneladas de produtos. Com parcerias com 250 outros produtores, a Biofrade teve, em 2023, um volume de negócios na ordem dos seis milhões de euros, referiu o empresário António Gomes.
Centro experimental precisa-se
A conferência realizou-se no âmbito da programação Frutos 2024, que irá decorrer de 21 a 25 de agosto. José Alexandre, presidente da Coopsteco, uma das entidades parceiras na organização do evento, lembrou que nos últimos anos as jornadas técnicas têm sido centradas no modo de produção biológica. Apesar das Caldas ter perdido um centro experimental, nos Casais da Ponte, existe no local ainda terreno livre que José Alexandre gostaria de ver aproveitado na realização de ensaios de agricultura biológica. O responsável defendeu a importância da Frutos, mas que é “estratégico o estatuto nacional desta feira, para poder dispor de acordos específicos e não ficar o orçamento dependente apenas da boa vontade do município”.
Presente na sessão, o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, realçou que no certame pretendem que os visitantes possam ter uma visão das diversas ofertas. “Vamos querer crescer mais no biológico mas tem de haver um equilíbrio”, disse, incentivando os jovens a usar estes produtos nas suas criações. Para o autarca de Óbidos, Filipe Daniel, a palavra biológica remete para um tema mais amplo, da ecologia, defendendo uma visão cada vez mais ecológica do ecossistema. Em Óbidos estão a trabalhar nesse equilíbrio, com o fomento de abrigos para morcegos, para que se possam alimentar de borboletas, que são pragas para muitas culturas, e a existência de aves rapinas noturnas para controlar micro roedores. ■
Inaugurada eco-horta, vencedora do prémio Bairro Feliz
Couves, cebolinhas, cenouras, alfaces, pimenteiros e tomateiros, são algumas das hortícolas que compõem a eco horta da EHTO, inaugurada a 21 de março. A horta biológica nasceu de um desafio que a direção da escola lançou à equipa para se candidatarem à iniciativa Bairro Feliz, do Pingo Doce, que acabaram por vencer, com um prémio de 960 euros.
Para a concretização do projeto,a escola pediu um orçamento à empresa Algubio, que depois ergueu a horta urbana. Tendo em conta que o terreno não é apropriado para agricultura, foram criados quatro canteiros, delimitados por blocos de betão expandido, que contêm a terra. Para além do apoio da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro com a terra, contaram também com a oferta de plantas por parte da Horta do Pé Descalço e outros particulares. “O intuito é trazer os alunos da cozinha à horta, ver do que dispõem, aquilo que é sazonal, e utilizarem nas confecções”, explicou Marina Braz, coordenadora do programa Eco Escolas.
Com uma área total de 25 metros quadrados, a responsável espera que antes do final do semestre possam colher os primeiros produtos. ■