Encerramento da cirurgia do cancro da mama gera contestação

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ULS do Oeste entre as sete que vão perder o serviço a partir de abril

A Unidade Local de Saúde do Oeste está entre as sete ULS no país que, a partir do próximo dia 1 de abril, vão deixar de realizar cirurgias ao cancro da mama, por decisão da direção executiva do SNS. Elsa Baião, presidente do CA da ULSO diz respeitar a decisão, “apesar de não ter sido acolhida a proposta efetuada”. De acordo com a responsável, a unidade das Caldas “está dotada de todos os meios físicos e humanos necessários para o tratamento do cancro de mama, tendo havido um grande investimento humano e material nesta área, ainda que não cumpra todos os requisitos definidos pelo grupo de trabalho para definição da rede de referenciação hospitalar para cirurgia geral”. Em causa está o número de cirurgias/ano. Em 2023 foram operadas 32 doentes, mas “nem todas as doentes com estas patologia têm indicação cirúrgica imediata. Encontram-se em tratamento na ULSO mais do dobro destas doentes”, faz notar a responsável. Elsa Baião espera que a Unidade de Patologia Mamária se mantenha a funcionar, ainda que em articulação com outras entidades, pois “tem capacidade de resposta médica e cirúrgica nesta patologia, com tempos de espera mínimos comparativamente com outras instituições”, justifica.
António Curado, presidente do Conselho da Sub-Região Oeste da Ordem dos Médicos, vê esta decisão da Direção Executiva do SNS com “enorme preocupação” e espera que a “mesma seja revertida, à semelhança do que se passou com outras ULS”. Considera que implica a “despromoção dos cuidados hospitalares no Oeste e a diminuição da diferenciação das equipas cirúrgicas, com consequente menor atractibilidade de profissionais”. Ao mesmo tempo, “há riscos de afetação negativa da idoneidade formativa de novos cirurgiões nos hospitais do Oeste”, salienta o também médico, que não compreende este desinvestimento quando se projeta um novo Hospital.
Destaca os investimentos recentes em tecnologias associadas à terapêutica cirúrgica na Unidade de Patologia da Mama que, “apesar de não ter atingido o número mínimo de 100 cirurgias em 2023, tem uma equipa completa de três cirurgiãs dedicadas e conta ainda com um cirurgião plástico recentemente contratado”. Entende que os médicos da Sub-Região do Oeste “não poderão aceitar esta decisão de ânimo leve” e lembra que o bastonário Carlos Cortes já se pronunciou sobre o tema, considerando a decisão “surpreendente, que vai diminuir a resposta às populações e ter um impacto negativo”.
De acordo com o médico, muitos dos casos diagnosticados na região eram diretamente reportados para o IPO de Lisboa, agravando as listas de espera. Com a criação da ULS espera uma maior integração de cuidados e, olhando para as estatísticas do cancro da mama (cerca de 7040 novos casos/ano), para uma população oestina é expectável um número estimado de cerca de 165 novos casos de cancro da mama, por ano, o que “justifica plenamente” a existência desta Unidade, conclui.
Também o presidente da Câmara, Vítor Marques, mostrou-se “preocupado” com a decisão da Direção Executiva da SNS. Lembrou que tem havido um investimento na Unidade e que esta tem uma “capacidade de resposta muito acima da média nacional”, pelo que o normal seria que “esta pudesse acolher doentes provenientes de outros locais, com tempos de espera superiores.
A Câmara das Caldas vai pedir o agendamento de uma reunião como responsável do SNS para mostrar a sua “preocupação e indignação” com a decisão tomada, alertando para o esvaziamento de respostas desta ULS. ■