Vera Duarte, 24 anos, Tornada
Escola: Escola Superior de Saúde de Leiria/Curso de Enfermagem
País de destino: Brasil
Escola anfitriã: UNIVATES, em Lajeado, Rio Grande do Sul
Período: 5 meses (um semestre)
GAZETA DAS CALDAS – Porque escolheu o Brasil?
VERA DUARTE – Essencialmente pelo idioma e tinha muita curiosidade de conhecer o Brasil. Quando vemos na televisão ficamos fascinados pelo Rio de Janeiro, mas eu sabia que ia ficar longe de lá, mas foi muito pela curiosidade e queria abrir novos horizontes. E também porque o protocolo oferecia algumas vantagens: tinha a viagem paga, tinha uma bolsa todos os meses e alojamento garantido.
GC – Sendo um país considerado “irmão” de Portugal, quais foram as primeiras diferenças que notou?
VD – A principal diferença foi a comida! Muito pouco peixe, sopa e não existia café! Pensamos que por ser tão próximo de Portugal, haveria muitos cafés, mas não. Bebia-se mais chimarrão, que é um tipo de chá bebido muito quente num recipiente chamado cuia. No início foi um pouco diferente, mas quando dei por mim já bebia chimarrão todos os dias e a toda a hora. Tirando isso, não notei assim muitas diferenças, tirando que eles tinham muita dificuldade em me compreender por causa do sotaque.
GC – E as semelhanças?
VD – Eu acho que eles são muito acolhedores como nós, se calhar, até um pouco mais. A receptividade que nós, portugueses, damos a um brasileiro não é tão boa. Parece que existe o estigma de “ah, ele é brasileiro!”. O estilo de vida era muito semelhante, mas havia muito menos stress e viviam para o dia a dia.
GC – Havia outros alunos de intercâmbio na universidade onde estava? Que contacto teve com eles?
VD – Sim, éramos cinco portugueses, três colombianos e três suecos. Criámos uma boa amizade e eu vivia com um colombiano. Foi muito bom viver com ele; compartilhámos experiências diferentes e pudemos comprovar que as culturas eram bastante diferentes. Os colombianos têm muita curiosidade em conhecer Portugal e esperamos que um eles venham cá e eu possa ir à Colômbia. Em relação aos suecos era mais complicado porque eles só falavam sueco e tinha que ser por gestos e às vezes desenhos.
GC – Que diferenças notou no sistema de saúde brasileiro para o português?
VD – Eu fiz estágio na área de saúde materna, de neonatologia [Pediatria], de Saúde Pública e de Psiquiatria. Em termos de psiquiatria achei que eles estavam muito bem preparados, apostavam muito em evitar suicídios e esse tipo de coisas. Cá em Portugal, nós temos condições muito melhores em termos de hospital e eu vi fazerem coisas muito básicas com condições mínimas. Eles faziam coisas com uma agulha em que nós cá usamos montes de material. Faz-nos valorizar mais no nosso país e o nosso sistema de saúde.
GC – E na relação entre as pessoas dentro do hospital?
VD – Lá, o enfermeiro tem um cargo muito equiparado ao do médico, de chefia. Muitas vezes o enfermeiro toma decisões ou o médico pede ajuda ao enfermeiro antes de tomar uma decisão. No Brasil existem técnicos de enfermagem e o enfermeiro só coordena e faz os procedimentos mais invasivos. Quem trabalha mesmo são os técnicos de enfermagem e o enfermeiro acaba por ter menos contacto directo com o paciente.
GC – O que acha que esta experiência lhe trouxe a nível profissional?
VD – Trouxe um grande crescimento e permitiu-me ver que com pequenas coisas posso fazer a diferença. Sinto-me mais preparada para o mercado de trabalho por causa de todas as novas aprendizagens e experiências.
GC – E a nível pessoal?
VD – Eu acho que me fez amadurecer e valorizar mais a minha família, os amigos, a cultura e as minhas raízes. É uma experiência que fica para a vida e nos faz crescer imenso.
GC – Tem alguma experiência mais marcante que, na sua opinião, só poderia ter acontecido no Brasil?
VD – Tudo o que se passou no Brasil é único de lá. Mas em Psiquiatria trabalhei na área de álcool e drogas e fiz coisas que cá seria mais complicado. Fomos para a rua atrás de toxicodependentes para os levar para as clínicas de reabilitação, em bairros em que sabíamos que as pessoas ali eram contratadas para matar outras e eu estava lá dentro. Tive bastante medo e pensava várias vezes: “é hoje que vou levar um tiro”, mas em Portugal nunca teria essa experiência.
Outra experiência foi que ia a uma comunidade indígena, quando estive no centro de saúde, para lhes levar vacinas e medicamentos.
GC – No futuro, gostaria de regressar ao Brasil em trabalho ou em férias?
VD – Pelos meus colegas voltava quando quisesse e tenho oportunidade de, se não encontrar emprego cá em Portugal, voltar para aquele hospital. Em férias não hesitava em voltar, principalmente porque tentei visitar todo o estado de Rio Grande do Sul e não tive tempo para ver tudo. Havia cascatas lindíssimas, imensos espaços verdes… E consegui ir ao Rio de Janeiro! Adorei.
GC – Aconselha o Erasmus a outros alunos?
VD – Sem dúvida. Isto é abrir asas e voar! O intercâmbio faz-nos crescer muito, criar novas amizades e viver novas experiências. Mas se a pessoa tiver a oportunidade, deve aproveitar.
Positivo
– Amadurecimento em termos pessoais e académicos
– Maior independência
– Novas amizades que se tornaram muito importantes para mim
Negativo
– As saudades, que são o nosso maior inimigo, e acho que é só. Não há mais pontos negativos!
Marina Araújo