Erasmus

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Fiz o meu Erasmus a 3000 quilómetros de casa: em Łódz (Polónia). Durante seis meses pude conviver com várias culturas e maneiras de pensar.|DR

Polónia: estudar a 3000 quilómetros de casa

Por: Isaque Vicente

Fiz o meu Erasmus em Łódź, cidade no centro da Polónia, que fica practicamente a três mil quilómetros de Caldas. Estudava em Portalegre e, depois de um ano e meio no Alentejo, quis ir experimentar o frio do Leste. Parti para a Polónia no segundo semestre do segundo ano e é óbvio que é sempre um passo complicado o sair para ainda mais longe da nossa zona de conforto. Mas para mim era uma aventura que até queria viver.

Dentro do leque de opções que a minha universidade apresentou, e tendo em conta as minhas possibilidades económicas, escolhi o meu destino, a Polónia. Queria algo que fosse diferente da realidade que conhecia. Sabia muito pouco sobre este país, além das equipas e jogadores de futebol e um pouco da História. Conhecia a bandeira e a capital, mas sabia que era diferente de Portugal. Sabia da neve e do frio e o pouco conhecimento histórico que tinha abria-me a curiosidade para saber mais.
Em termos académicos, os seis meses que passei por lá foram bastante bons para desenvolver as capacidades na língua inglesa e para aprender a ‘arranhar’ polaco. Mas o grande benefício do meu período de Erasmus, foi a diversidade de culturas que me deu a conhecer.
Além da Polónia, fiz amigos de Espanha à Rússia, passando por Holanda, Letónia, Turquia, Eslováquia, Itália, Grécia, Bielorrússia, Brasil e Tunísia. E realço isto porque considero que o Erasmus tem também muito a ver com a experiência social e cultural, com a aprendizagem de outras maneiras de pensar.
Creio que o espírito desta experiência está muito relacionado com um objectivo de tolerância e aceitação que vêm naturalmente com o conhecimento de outras culturas.
Não quero com isto dizer que devem ser umas férias, mas defendo que há que ter alguma liberdade para viver a cidade que nos acolhe.
No regresso, senti que fiquei algo prejudicado em relação aos meus colegas de curso que tinham ficado cá, mas isso pode ser compensado pelo esforço de cada um.
Uma das grandes dificuldades, senão a maior, são as saudades de casa. As tecnologias ajudam, mas não é a mesma coisa.
Outra dificuldade foi gerir o dinheiro, porque como lá não se usa o euro, mas sim o złoty, ao início perdia-me muitas vezes nas conversões. Além da taxa de conversão, é bom ter em conta as taxas do banco por movimento.
Se pensas ir em Erasmus procura informar-te sobre todos os campos possíveis e imaginários. Há pormenores que podemos saber cá, que nos serão muito úteis lá. O ideal é falar com alguém que já lá tenha estado.
Tratar atempadamente do alojamento e do seguro de saúde e saber se o cartão e conta bancária podem ser usados lá, são alguns dos detalhes que é preciso acautelar, mas, regra geral, as próprias universidades ajudam neste processo.
A tecnologia já ajuda a “desenrascar” em muitas das situações, mas deves tentar sempre saber se é uma cidade com “conflitos” e de que ordem. Como são recebidos os portugueses ali é uma boa pergunta à qual deves procurar resposta.
Aprender algumas palavras na língua local é um bom princípio e cai bem entre os residentes.
Depois, não é nada mal pensado aprender um pouco sobre o sistema judicial do local que te acolhe para perceber em que difere do português. Lá, por exemplo, havia regras muito restritas em relação ao consumo de álcool na rua principal – a Piotrkowska – que é uma avenida com quatro quilómetros com lojas e restaurantes (abertos durante o dia) e com cafés, bares e discotecas (à noite).
Palco de amores e desamores, de sorrisos e de lágrimas, é ali que “tudo acontece”. É uma rua de arquitectura antiga combinada com as luzes e cores das mais modernas lojas, cadeias de fast-food e clubs. Pelo meio esconde a Off-Piotrkowska, uma antiga fábrica transformada em galerias de arte e esplanadas.
Outro exemplo de reaproveitamento de edifícios, mas esse longe da tal rua principal, é o Manufaktura, uma antiga grande fábrica de lanifícios que foi transformada em centro comercial, cinema e dois museus (um de lanifícios que conta a História da fábrica e daquela indústria na cidade e outro de arte moderna).

Łódź – Uma cidade de dicotomias

A cidade que me acolheu significa barco, mas não está perto do mar, nem nunca lhe descobri um rio. E esta é apenas a primeira dicotomia que Łódź apresenta. Há muitas outras…
Łódź é uma cidade histórica e tradicional, mas ao mesmo tempo moderna na forma como respira e como os seus cidadãos vivem.
É uma cidade industrial, mas que tem vários parques verdes. Uma cidade estudantil e com uma forte vertente artística, onde, porém, a mentalidade ainda é algo fechada.
Łódź é arquitectura antiga de cortar a respiração e é blocos de apartamentos antigos, todos seguidos, todos iguais e todos numerados. É neve e é sol. É simpatia e inospitalidade. É um sítio que por vezes tem pouca cor, mas que tem sempre muita vida.