Escavações de Eburobrittium paradas há quatro anos

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Beleza Moreira
Beleza Moreira lamenta que se tenham interrompido os trabalhos que permitiam continuar à descoberta da cidade romanda
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Desde 2006 que não se fazem trabalhos arqueológicos na antiga cidade romana de Eburobrittium porque caducou um protocolo entre a Câmara de Óbidos e a Associação Nacional de Farmácias (que é proprietária do terreno), no âmbito da qual esta última financiava o projecto. Os actuais tempos de crise e as polémicas legislativas que têm envolvido as farmácias não auguram nada de bom para a prossecução daquela projecto arqueológico.

Era uma actividade de Verão que envolvia dezenas de jovens e entusiasmava muitas pessoas que acompanhavam as escavações de Eburobrittium. O que está à vista é apenas uma pequena ponta de um iceberg que ocupa uma vasta extensão e pode conter em bom estado muitos edifícios romanos.
“Continuamos sem prosseguir com as escavações, não podemos ir à descoberta de parte da cidade, que é uma coisa que tem impacto em termos culturais e turísticos”, queixa-se o arqueólogo Beleza Moreira, responsável científico pelo projecto.
“Todos os anos tínhamos conseguido tirar partes da cidade a descoberto, mas sem as escavações não é possível. Alguns jovens que lá trabalhavam têm-me contactado e ainda costumam telefonar-me durante o Verão porque estavam a contar lá ir”.
O que se passou foi que em 2006 fechou-se uma torneira decisiva para alimentar este projecto – a Associação Nacional de Farmácias deixou de despender para as escavações os 12500 euros anuais a que estava obrigada por via de um protocolo, ainda dos tempos do então presidente Pereira Júnior.
Nesse documento, datado de Junho de 2001, a Câmara e a ANF comprometiam-se a garantir o financiamento e o apoio logístico para as campanhas, mas este caducou em 2006 e desde então não mais houve escavações.
“Deixámos de ter condições para manter isso”, disse à Gazeta das Caldas, Paulo Duarte, secretário-geral da ANF. “Antes olhávamos para estas questões culturais de uma forma diferente. O dia a dia das farmácias era mais estável, mas com esta revolução que houve no sector, tivemos que deixar de nos dedicar a estas coisas”, explicou este responsável, referindo-se às inúmeras “alterações legislativas” que estão a afectar o sector.
Em todo o caso, diz, a ANF continua a ceder o terreno caso a Câmara ali queira prosseguir com as escavações.
Num e-mail enviado à Gazeta, a autarquia diz-se “fortemente empenhada e interessada” no desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos e faz notar que o protocolo com a ANF não foi denunciado por nenhuma das partes “embora careça de ser actualizado”.
Foi com vista a essa actualização – e também na sequência das perguntas relacionadas com este assunto que a Gazeta das Caldas tem vindo a fazer ao município e à ANF desde o princípio do Verão – que se realizou há 15 dias uma reunião em Óbidos entre as duas entidades. Num e-mail endereçado à Gazeta, a Câmara diz que “o Município de Óbidos ficou de propor os termos para um novo protocolo a estabelecer, de forma a permitir a realização de acções de salvaguarda e fruição, designadamente através da realização de visitas guiadas regulares, previamente marcadas”.
O futuro protocolo, diz a autarquia, procurará desta vez envolver outras entidades como a Direcção-Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo e o IGESPAR.
Entretanto foi pedido o processo de classificação das ruínas romanas, que poderá ter o estatuto de Monumento Nacional ou de Imóvel de Interesse Público.

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Casa do Farmacêutico mais voltada para o turismo

A ANF pretende construir nas Gaeiras – nos terrenos próximos às escavações arqueológicas – a Casa do Farmacêutico, um empreendimento de 15 milhões de euros, com casa de repouso, estabelecimento hoteleiro, picadeiro, campo de golfe, piscinas, spa e uma unidade de turismo rural.
Paulo Duarte, secretário geral da ANF diz que este investimento é para ser feito em três anos “após tomada de decisão”, mas salvaguardou que “não estamos propriamente a avançar com ele porque, à luz da politica de medicamentos deste governo, suspendemos o projecto”.
A ANF tem agora outras preocupações e as suas prioridades estão concentradas naquilo que considera uma ofensiva do actual governo contra os seus interesses. As Gaeiras terão de esperar.
O problema não é o investimento, para o qual a ANF dispõe de recursos, mas sim a sua exploração, esclarece Paulo Duarte. Daí que a associação procure agora um parceiro da área da saúde ou da hotelaria para trabalhar em conjunto.
Por outro lado, descobriu-se que grande parte dos potenciais utentes da Casa do Farmacêutico preferem viver em Lisboa. “Temos, por isso, que repensar o projecto mais para o turismo, embora mantendo o apoio social”, diz o secretário-geral.
A verdade é que aquela localização permite a abertura do projecto ao exterior através de vários produtos como termas, turismo rural e golfe. Paulo Duarte diz que desde 2008 têm vindo a realizar estudos geológicos sobre a qualidade das águas termais que ali existem (e que poderão ter justificado a fundação de Eburobrittium, uma vez que existem vestígios em bom estado das termas romanas).
“Não desistimos do projecto. Está é parado”, conclui o mesmo responsável.

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