Escrito a Chumbo – 1

0
379
“Escrito a chumbo” é o nome do exercício que a partir desta primeira semana do ano de 2024 nos propomos a fazer na Gazeta das Caldas. Semanalmente iremos olhar para as edições de 1974 e analisar, 50 anos depois, o seu conteúdo. Tratou-se de um ano de grandes mudanças a nível nacional, com a Revolução dos Cravos (recorde-se que a reunião dos capitães, em Óbidos, já tinha ocorrido, no final do ano de 1973), mas também na própria Gazeta das Caldas.
O primeiro número do “Escrito a Chumbo” é hoje publicado, quando faltam 109 dias para celebrar meio século da revolução.
Prometemos todas as semanas trazer histórias mais ou menos conhecidas, mas também situações insólitas ou que, à luz do olhar dos nossos dias nos parecem já estranhas.
Meio século é muito tempo, mas passa muito rápido. As mudanças na sociedade foram muitas, numa constante mutação.
5 de janeiro de 1974
A primeira edição do ano de 1974 trazia-nos um tema curioso: a “Venda de terrenos a baixo preço (10.00) para fomentar a industrialização”, é o título do artigo, que explica que a autarquia caldense estava a vender terrenos do seu património numa tentativa de atrair mais indústria para o concelho. Foram 68 hectares que foram então afetados para este fim.

A iniciativa surge dado que havia empresas interessadas, mas que “algumas dificuldades se têm levantado por virtude dos terrenos necessários” e que “os particulares, ao se aperceberem da necessidade elevam os preços de forma a porem fora de concretização as hipóteses quantas vezes conseguidas com esforço e, quando assim não acontece, ou as áreas disponíveis ou as localizações não se coadunam, por regra, com os interesses gerais e públicos”.
Assim, “pode, porém, a Câmara, e entende-se que deve, resolver este problema pondo à disposição das indústrias que venhas a considerar válidas, os terrenos onde outrora fora o pinhal municipal”, em terrenos “entre as estradas conhecidas por da Foz do Arelho e do Campo, a cerca de quatro quilómetros da cidade”.
O preço mínimo ficou fixado nos 10 escudos por metro quadrado (que são, hoje, 5 cêntimos).
Meio século depois, o cenário nas Caldas não é muito diferente, sentindo-se ainda a falta de indústrias, de mais unidades fabris relevantes, que possam dar emprego a centenas de trabalhadores e que possam ser fator de desenvolvimento.
“Transportes? E os caldenses continuam a andar a pé!”, lê-se noutro artigo, que aborda a falta de transportes urbanos e que aponta o dedo ao secretário de Estado que “ainda não se pronunciou. Eis um silêncio que faz com que milhares de caldenses se continuem a deslocar a pé. Silêncio que ninguém considera ditado por razões atendíveis”, lê-se.

 

 

Percebemos também nesta primeira edição de 1974 que houve baile de fim de ano no casino, com uma banda caldense e que nesta fase se publicava a grelha de programação da RTP.

Aos mais novos será complicado perceber a importância ou pertinência disto, mas questionem os mais velhos, que será certamente um momento curioso quando perceberem como funcionavam as coisas nesta época em que nem tudo era imediato.

 

 

 

Mas na mesma edição não resistimos a partilhar mais duas curiosidades com o nosso caro leitor.

Uma é a “Promessa por cumprir com risco para as pessoas” e trata das obras de restauro da Igreja de N. Sra. Pópulo, que haviam  sido terminadas, mas não concluídas! Ora, em 1974 contava a Gazeta das Caldas que desde o final da obra de restauro até este ano “vem estando sem vedação o fosso que ladeia o templo, separado da via pública com apreciável desnível”. Mais, “o gradeamento existente foi retirado para ser substituído por outro novo. E nunca mais”. O jornal recorda ainda que dois anos antes “esteve nesta cidade em visita oficial o ministro das Obras Públicas que prometeu dar solução imediata ao problema. Até hoje!”.

Meio século depois, a Igreja de N. Sra. Pópulo foi novamente alvo de obras de restauro, numa empreitada avaliada em meio milhão de euros. Mas desta vez o gradeamento não foi retirado!
O último pormenor é um pequeno artigo, que dispensará comentários, mas que é um documento da sociedade de então. Intitulado  de “Casamentos” diz assim: “Cinco raparigas honestas e trabalhadoras que vivem em Inglaterra pedem-nos que tornemos público desejam conhecer jovens para fins matrimoniais. São elas: Amélia, Isilda, Sara, Leonor e Cecília, todas naturais da região caldense. Os interessados deverão escrever para Cambe Edge, Oakhill Way, London, N. W. 3, England”.
Para a semana trazemos-lhe mais artigos Escritos a Chumbo. Não perca!