Escrito a Chumbo 4

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23 e 26 de janeiro Na edição do dia 23 do primeiro mês de 1974 encontramos as “Garantias à Nação dadas pelas Forças Armadas”. Trata-se de um interessante artigo, conhecendo o que ocorreu depois neste ano, e que começa assim: “Vem desde há decénios os Portugueses a sentir pele Exército, pela Marinha e pela Aviação admiração e apreço muito altos” e que “numa época já histórica, as Forças Armadas apresentaram-se à Nação como garantes seguras da ordem e da firmeza das fronteiras, uma vez que o Governo de Salazar, nos anos 30, lhes conferiu base e estruturas”. E prossegue que “em 1961 as unidades militares deixaram os quarteis onde, embora pacifica e quietamente, estavam atentas, e ingressaram no combate insidiosamente deflagrado por inimigo oculto e cobarde”, numa referência ao início da guerra em Angola. O artigo nota que “as Forças Armadas passaram duma passividade adequada ao corrente e normal, para situações bélicas a impor os maiores dos riscos e das incertezas”. Num artigo que reflete, por um lado, o regime de então, mas por outro a instabilidade que já se vivia, nota-se que “Portugal vai entrar, no mês de Março, que se avizinha, no 14.° ano de guerra. E os que combatem pela Patria continuam iguais a si mesmos, assegurando a defesa da integridade lusa com o mesmo afinco e com o mesmo denodo com que o Condado do século XII foi erguido a pais independente”. E lê-se uma curiosa afirmação “nunca houve, nos últimos 40 anos, nem há agora, razões para recear que assim não seja, ou que assim deixe de ser”, num artigo que de jornalístico nada teria, mas que é histórico. “As Forças Armadas permanecem como garantes da serenidade da Pátria. Pois os militares continuam a pautar a sua conduta na rígida obediência aos sagrados princípios da ética militar” e termina: “que a Pátria não seja confundida com idealizações equívocas”.

Outro dos temas que nos interessa na primeira página desta edição é que “a inclusão do termalismo no esquema dos beneficios vai favorecer a cidade”, uma notícia de 1974, mas que poderia ser de 2017, quando o governo retomou a comparticipação dos tratamentos termais, que havia sido suspensa em 2011.

“O termalismo, muitos anos esquecido começa a ser de novo considerado como elemento valioso de tratamento por numerosos médicos”, lia-se em 1974. “E é de salientar o facto de Portugal ser um país rico em águas medicinais, importando, contudo, que se adaptem os estabelecimentos existentes às necessidades actuais e às exigências dos processos mais modernos para a sua actualização”. Sim, continuamos em 1974!

A crise do petróleo, que recordámos na última edição do Escrito a Chumbo, estava agora alegadamente “praticamente debelada”. Nas páginas do jornal é-nos dito que “não só em Lisboa como nesta região, decresce notavelmente o aparato oferecido, pelas filas de viaturas aguardando o abastecimento de gasolina e de gasóleo” e que “os postos estão durante mais tempo providos de carburante”. Contudo, tal não aconteceria, como iremos ver nas semanas seguintes.

Pelo que “tudo indica, pois, que este é agora em quantidade, exactamente porque os açambarcadores se convenceram já de que o crime não compensa”. O jornal diz ainda que “adaptados a um regime de economia, os automobilistas e camionistas honestos disciplinaram por sua vez os consuntos” e concluiu: “e, nesta matéria, assim se vai regressando, a pouco e pouco, à normalidade. Ainda bem”.

Interessante será também recordar a estiva camarária para aquele ano, ou seja, a intervenção administrativa nos preços. Por exemplo, para o arroz foi definida nos 7,50 escudos, para um cabrito nos 250 escudos e para um porco (60 quilos) fixava-se nos 1600 escudos.

Outra curiosidade, uma carta de um leitor que informava que “na Foz do Arelho cheirava a petróleo” depois da abertura de um poço, a umas centenas de metros de Picoto.

 

 

Temos também um artigo sobre “A imprensa não-diária nos tempos decorrentes” e a publicação da Postura de trânsito do concelho de Caldas da Rainha”.

Nesta época realizavam-se as sessões para vacinação de todas as crianças entre os 12 meses e os 5 anos contra o sarampo.

Na edição do dia 26 ficamos a saber que “a Câmara deliberou pedir audiência colectiva ao secretário de Estado das Comunicações face à demora (inexplicável) de decisão quantos aos transportes urbanos” pedidos para as Caldas e que obrigavam a despacho do governo. O processo aguardava resposta do governante há cerca de um ano e a autarquia solicitou-lhe uma audiência.

De Peniche vinha também uma interessante novidade: é que havia recomeçado “o estudo da distribuição de energia elétrica na Berlenga de forma a ter a instalação legalizada e pronta no próximo verão”, informava-se em reunião de Câmara.

 

A Gazeta trazia-nos também um artigo que, à luz dos nossos dias ganha um valor acrescentado, porque é demonstrativo da sociedade de então, da forma como o homem via a emancipação da mulher.

Para a semana trazemos mais artigos escritos a chumbo. Até lá!

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