O jogo mais popular do momento – Pokémon Go – também já é um sucesso nas Caldas da Rainha, principalmente entre as camadas mais jovens. Por isso não estranhe se num dos seus passeios pelo Parque D. Carlos I ou Praça da Fruta, por exemplo, der de caras com vários grupos de pessoas com o rosto colado aos ecrãs dos smartphones. São apenas jogadores que andam à caça dos pokémons, aquelas criaturas fictícias que fizeram parte da infância de muitas crianças a partir do final dos anos 90.
“O Pokémon Go é o sonho concretizado de muita gente, pois desde pequenos que jogávamos no Gameboy ou víamos a série (embora eu não fosse grande fã dos desenhos animados). Ansiávamos poder apanhá-los todos”. É assim que Luís Pinto, 23 anos, um dos jogadores mais experientes das Caldas, descreve o jogo, que instalou no seu smartphone seis dias antes da versão oficial ter chegado a Portugal.
No nosso país o jogo só ficou disponível na App e Play Stores (IOS e Android) a partir do dia 15 de Julho, mas Luís conseguiu começar a jogar antes através de uma versão pirata.
Actualmente, ou melhor, até segunda-feira, 1 de Agosto, quando encontrámos o Luís a jogar no Parque, este já colecionava 123 dos cerca de 150 pokémons disponíveis. Atenção que algumas das criaturas só podem ser capturadas noutros países. Há delas que só estão disponíveis no Japão, por exemplo.
Mas, afinal, como se joga? E quais os truques para se chegar tão longe? Luís Pinto, que já vai no nível 31 (numa escala de zero a 40), explica-nos que o principal objectivo do jogo é capturar os pokémons com as pokébolas para ir completando a pokédex (uma espécie de caderneta de cromos em que ficam registadas as criaturas apanhadas). O mais interessante (e inovador) é que o jogo é de realidade aumentada, ou seja, o pokémon surge no ecrã sobreposto à realidade.
Para se jogar Pokémon Go (o primeiro jogo da Nitendo para telemóveis que foi criado pela Niantic Labs) o utilizador precisa de um smartphone que tenha câmara fotográfica e GPS e necessita de acesso à internet (dados móveis ou Wi-Fi). Um acessório que se torna quase indespensável ao jogo é a powerbank (carregador de telemóvel portátil, que pode ser transportado no bolso) porque o jogo consome bastante bateria ao dispositivo.
Depois só há que sair de casa para iniciar a busca pelos famosos monstrinhos. Luís Pinto, que joga diariamente entre 10 a 12 horas, já perdeu a conta dos quilómetros percorridos.
“Ando muito, mesmo muito e faço as Caldas de uma ponta à outra. Tanto que já sei identificar pontos específicos onde se podem encontrar determinados pokémons”, conta, revelando que a Cidade Nova, junto ao Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor, é um dos melhores locais para capturar espécies raras.
Este expert em Pokémon Go diz algumas dicas para uma evolução mais rápida: “é muito importante apanhar tudo, mesmo os pokémons que já temos, pois é assim que ganhamos experiência e ‘candies’ que servem para evoluir os pokémons [Luís já apanhou cerca de 1000 Zubats, uma das espécies mais comuns]. As incubadoras também são essenciais para abrir os ovos, de onde pode sair qualquer espécie”, explica. Existem três tipos de ovos e para chocá-los é necessário andar dois, cinco ou 10 quilómetros, sendo que quanto maior for a distância percorrida, mais raro será o futuro pokémon.
Embora o jogo seja gratuito, também disponibiliza uma loja onde é possível adquirir vários itens (como as incubadoras). Luís Pinto já investiu no jogo, mas não quis revelar a quantia, acrescentando apenas que “com 20 euros e uma gestão dos recursos inteligente consegue-se fazer muita coisa para evoluir e ganhar experiência”.
CONHECER A CIDADE E FAZER AMIGOS
Os críticos do Pokémon Go afirmam que os jogadores andam pelas ruas de cabeça virada para baixo, alienados do que se passa à sua volta. Há inclusive inúmeros vídeos publicados nas redes sociais que gozam com o jogo, exibindo jogadores que vão contra postes de electricidade ou fazem parar o trânsito porque nem reparam que o semáforo está vermelho para os peões.
Luís Pinto não nega uma possível alienação, mas defende que esta sempre existiu – “dentro das casas, em frente aos computadores, televisão ou consolas, só que estava escondida” – e agora encontra-se à vista de todos.
Diogo Coutinho, 22 anos, outro jovem que encontramos no Parque e que já colecciona 77 pokémons, argumenta que o jogo é muito social e permite explorar as cidades. É que as pokéstops (paragens onde os jogadores se podem abastecer de pokébolas, por exemplo) estão “marcadas” em monumentos, estátuas e pontos de interesse cultural. Nas Caldas, o Chafariz das Cinco Bicas, os murais da Casa dos Artistas e dos Silos, vários painéis de azulejos, a rã da Rota Bordaliana, a Igreja, esculturas, museus e o Jardim da Água (obra do mestre Ferreira da Silva) são alguns exemplos de pokéstops. Só no Parque existem 10.
“Ao procurarmos as pokéstops encontramos pontos de interesse turísticos e ficamos a conhecer o seu nome. Se nas Caldas já conhecia quase todos, bastou-me ir a Óbidos para encontrar várias obras e edifícios em que nunca tinha reparado antes”, realça Diogo Coutinho.
É também nas pokéstops que se podem colocar os “lures”, uma funcionalidade que permite atrair diferentes pokémons durante meia hora. Os “lures” têm que ser aplicados por um jogador mas ficam disponíveis a todos os utilizadores que estiverem perto daquela pokéstop.
O Parque e a Praça da Fruta, principalmente à noite, são dois locais em que frequentemente se encontram “lures”, motivo suficiente para se juntarem mais de 50 pessoas ali a jogar. O mesmo pokémon pode ser capturado por todos os jogadores, por isso o espírito é de entreajuda entre os “caçadores”. É normal que, assim que alguém aviste um pokémon raro, anuncie em voz alta que este anda perto.
Foi inclusive criado um grupo no Facebook – “Pokémon Go Caldas da Rainha” – onde as pessoas publicam constantemente as espécies que apanharam e os locais onde as encontraram. Há até quem avise que vai pôr um “lure” num determinado sítio.
“Conheci muita gente nova graças ao jogo e sinto que partilhamos conhecimentos entre todos, independentemente se somos ou não da mesma equipa”, refere Luís Pinto. Existem três equipas – amarela, azul e vermelha – e só uma pode ser escolhida pelo jogador.
O trabalho de equipa é acentuado porque também há “ginásios” espalhados pela cidade e cada um deles só pode pertencer a uma cor. Os jogadores juntam-se para conquistar os ginásios (onde podem treinar um dos seus pokémons) e para defendê-los, sendo que a quantos mais ginásios um jogador pertencer, mais prestigio ganha.
“AGORA PASSO MAIS TEMPO COM O MEU FILHO”
Não são só os jovens que jogam Pokémon Go. Há muitos adultos que aderiram à moda e Ana Capitão, 40 anos, é um bom exemplo. Influenciada pelo filho, que lhe instalou o jogo, diz que ganhou gosto pelo Pokémon Go porque promove o espírito competitivo. “Quero estar sempre mais avançada que o meu filho e a minha irmã e é isso que me dá pica”, conta.
Assim que chega do trabalho, Ana coloca a powerbank a carregar – a jogadora garante que se viu aflita para encontrar uma, pois estavam esgotadas em muitas lojas das Caldas – e, depois do jantar, sai com o filho Leonardo, 14 anos, para apanharem pokémons. Normalmente vai de carro e, assim que recebe o sinal de que há uma criatura perto, abranda a velocidade e pára para capturá-la.
“Agora passo mais tempo com o meu filho porque ele gosta de sair comigo. São momentos divertidos que passamos a dois”, comenta Ana Capitão, acrescentando que “nunca tinha visto tanta gente nas ruas das Caldas como agora”.
Como mãe, Ana reconhece que o Pokémon Go tem alguns perigos (a PSP já emitiu um comunicado com cuidados a ter). “As crianças mais novas não podem andar sozinhas na rua, por isso só devem jogar com o acompanhamento dos pais. Aconselho a jogarem pais e filhos, assim é mais divertido e ninguém se chateia”.
Já se conhecem casos de gangs que colocam “lures” em becos escuros, atraindo jogadores para depois os assaltar. Luís Pinto defende que “é preciso ter bom senso, muita cautela e idealmente jogar em grupo”.
O jogador adiantou que tem conhecimento que em breve dois jovens empresários irão lançar um negócio ligado ao Pokémon Go nas Caldas: será um comboio eléctrico que inicialmente circulará pelo Parque e onde serão colocados “lures”. O acesso à internet será gratuito e haverá postos de carregamento de telemóvel.
Nas próximas actualizações do Pokémon Go, os jogadores anseiam que seja possível fazer batalhas entre dois utilizadores em qualquer lugar (neste momento as lutas só são permitidas nos ginásios) e que possam trocar entre si as várias espécies de monstrinhos.