Passeio botânico pelo Casal da Areia, Salir de Matos, foi promovido pela Escola d’Aldeia
“E se eu vos disser que as folhas de tília, aqui neste local, são tenrinhas e ótimas para comer? As mais pequeninas são mais tenrinhas. Podem colocar-se numa salada, são muito mais saborosas que a alface e têm o mesmo, que é a clorofila. A substância viscosa são mucilagens que têm propriedades anti-inflamatórias, portanto, é bom para as aftas, inflamações da boca, do estômago ou do intestino”, explicou Fernanda Botelho, especialista nos usos medicinais e culinários das plantas silvestres, com mais de vinte livros publicados.
Foram vários os que, de entre os mais de 30 participantes da caminhada botânica, experimentaram a “entrada” colhida da árvore, naquele que se provaria ser um passeio repleto de reconhecimento (e alguma degustação) de espécies, localizadas nos caminhos ou à beira da estrada e habitualmente chamadas de ervas daninhas. A iniciativa, que aconteceu a 15 de maio, foi promovida pela Escola d’Aldeia, sediada na antiga escola primária do Casal da Areia, na Torre, Salir de Matos, por sua vez, dirigida pela designer de cerâmica Sílvia Jácome.
O passeio teve também o intuito de mostrar o quão importantes as plantas silvestres são para o planeta no seu todo, apelando à sua preservação. “Um campo todo verde não arde, arde mais facilmente depois de estar tudo seco e cortado, e sem ele não temos plantas para conhecermos, comermos e fazermos chá”, explicou a guia. Desde os anos 1950, quando “apareceram os herbicidas, que as pessoas se habituaram a dizer ‘Isto é uma erva daninha, não a quero na minha horta ou à minha porta’. Mas as ervas não são lixo. Em Inglaterra, realizam o ‘No Mow May’, em que, no mês de maio, ninguém corta a relva”, e é “ver os insetos no meio do Hyde Park; eu estive lá e vi”, continuou. “Os insetos também são importantes porque fazem a polinização da nossa comida. E, se cortarem as plantas, os insetos morrem porque não têm comida”, acrescentou Fernanda Botelho.
A botanista salientou também uma tendência atual, o “foraging”, que consiste na coleta de comida selvagem, como ervas, o que “os nossos avós faziam, mas por necessidade”, para explicar que se deve ter atenção às espécies protegidas ou que não existem em grande número, evitando a sua colheita. E alertou ainda para as áreas afetadas pelos herbicidas ou pela poluição das cidades, nas quais as plantas são impróprias para consumo. “Na cidade usam-se herbicidas, ainda que menos do que dantes, mas há mais corte”, lamentou.
No final do passeio, houve um lanche caseiro numa das salas da escola e venda de livros acompanhada de uma sessão informal de autógrafos. Os participantes, alguns dos quais já haviam estado em formações com Fernanda Botelho, outros que se recordavam dos nomes que os pais ou avós davam às plantas e outros ainda que gostaram de expandir o seu conhecimento na área, mostraram-se muito satisfeitos com o passeio e apelaram a um bis.
Com efeito, Sílvia Jácome admitiu a possibilidade do mesmo se repetir em outubro, quando Fernanda Botelho vier ao Folio para apresentar o seu novo livro, “Plantas do mundo: usos medicinais, histórias e tradições”, que será lançado na Feira do Livro de Lisboa, a 9 de junho.
No âmbito da visita da autora, Sílvia e o ceramista Carlos Oliveira, ambos residentes em Salir de Matos, aliaram-se para realizar uma peça de cerâmica, uma D. Urraca em miniatura, da autoria de Carlos Oliveira, adornada das “flower song” de Sílvia, para ofertar. “Acho que o que a Fernanda nos veio transmitir tem muita importância, e também quisemos partilhar com ela aquilo que fazemos”, rematou Sílvia Jácome. ■