Historiadora e caldenses mostraram diferentes pontos de vista sobre o Golpe das Caldas
“Ninguém do Estado Novo tinha a ideia de que estava em curso um golpe militar”. Afirmações da historiadora Joana Tornada – que foi convidada a escrever o verbete sobre o 16 de março – no dicionário de História sobre o 25 de Abril (no volume 7) – e que foi convidada pelo Património Histórico para uma conferência que teve lugar a 15 de março, na Universidade Sénior. Esta focou-se nos acontecimentos entre o 16 de março e o 25 de Abril. A também docente deu a conhecer que durante este período estiveram em Portugal vários jornalistas estrangeiros que queriam testemunhar o que se iria passar”. Um profissional francês veio inclusivamente “fazer um documentário que testemunhasse os últimos dias da ditadura”, referiu. Joana Tornada explicou também que o governo mandou prender e transferir todos os militares que estiveram envolvidos no Golpe das Caldas. Estes mantiveram-se firmes nas suas intenções: mudar o regime e acabar com a guerra colonial. “Além da falta da Liberdade, muitos queriam evitar uma derrota militar em África, como já tinha acontecido na Índia”, referiu a historiadora, recordando que o que aconteceu a 16 de março deu a Otelo Saraiva de Carvalho a perceção de que a estratégia “a delinear teria que ser diferente”. Relembrou que existia grande camaradagem entre os militares pois a maioria tinham estado juntos em cenários de guerra bem mortíferos. Como tal, era preciso libertar “os nossos”, diziam em relação aos oficiais presos por causa da Intentona caldense..
As fotos que existem referentes ao 16 de Março, “não se vê ninguém, as ruas estão vazias, havia medo e agentes da DGS e da Legião Portuguesa por todo o lado”. Ao invés, no 25 de Abril, o povo saiu à rua pois “já não era preciso ter medo!”, disse a investigadora. E se algo falhasse no 25 de Abril, “eles não iriam parar, de golpe em golpe, os militares avançariam até ao derrube do regime”, rematou. Presente na iniciativa, a vereadora Conceição Henriques sublinhou o facto da revolução portuguesa ser “única” pois “não conheço mais nenhuma intervenção militar que tivesse resultado numa democracia plena”.
“Maioria não sabia disparar!”
Joaquim Miguel é caldense e testemunhou o que se passou a 16 de março, pois pertencia ao Regimento de Infantaria 15, de Tomar.
Era alferes miliciano e veio a comandar um pelotão da companhia que veio fazer o cerco ao quartel. Essa companhia de prevenção era de “um amadorismo total pois era composto por soldados básicos que nem sequer sabiam manobrar a G3 que lhes deram para as mãos”. Segundo o caldense, de Santa Catarina, trouxeram dois morteiros: um pequeno e o maior que tinham ao passo que as munições que vieram eram de um morteiro médio. Joaquim Miguel partilhou ainda que eram vários os militares que saíram de Tomar para o cerco do quartel das Caldas sem munições. “Lá dentro decidiram render-se…Na verdade ninguém queria andar aos tiros”, disse Joaquim Miguel, que é também aluno da Universidade Senior. “Como eu era alferes, fui o primeiro oficial de dia no quartel das Caldas, das tropas ocupantes”, acrescentou. E recorda-se que, nessa noite, apareceu na porta de armas um jornalista da Gazeta das Caldas. Surgiram também familiares dos oficiais que tinham sido presos, que foram perguntar por eles. “Tinha ordens para dizer que estava tudo bem…”, rematou. ■
Poema
Das Caldas até à vitória!
Leais aos compromissos acordados
Duzentos bravos ousam avançar,
Milicianos, capitães, soldados,
Missão: o Aeroporto ir controlar.
É dezasseis de Março, madrugada,
Das Caldas marcham, mas vão isolados;
Não sabem que a missão foi abortada,
Em vez de heróis…vão ser condenados.
Mas a chama leal dos camaradas
É forte, nada a pode destruir!
E o Movimento das Forças Armadas
Faz o vinte e cinco de Abril… Florir!
Das várias prisões são libertados,
Os cravos já dão cor…um novo dia!
E ao Armando Marques abraçados
Há vivas…! na mais fraterna alegria.
Memória…é dar presente ao passado,
Orgulho…em lembrar atos de glória,
O golpe das Caldas é pra ser honrado
É um feito importante…é nossa história!
Refrão
Foi o golpe falhado… mas venceu,
O povo livre nunca esquece tal!
A Intentona com Abril… venceu!
A força de ser livre, é imortal!
Joaquim DiBeira
11-02-24
(Caetano Santos )