A autarquia caldense vai ajudar os grupos das regiões africanas a realizarem as suas festas na mata depois de o Centro Hospitalar ter passado a cobrar 1270 euros por cada fim-de-semana de utilização naquele espaço.
Tendo em conta que estes encontros são realizados por associações sem fins lucrativos, os seus responsáveis queixaram-se que tal medida poderia acabar com estes eventos que costumam trazer milhares de pessoas às Caldas.
Foi isso que levou a Câmara Municipal a atribuir 270 euros a cada grupo que queira continuar a reunir-se na mata. Um contributo pequeno, mas que serve de estímulo à manutenção desta tradição.
A Câmara das Caldas vai apoiar os grupos das regiões africanas que se reúnem na Mata Rainha D. Leonor nos meses de Junho, Julho e Agosto para que seja possível a continuação dos fins-de-semana de convívio entre quem nasceu e residiu nas províncias do Huambo, Huila e Moçamedes. Quem o diz é o presidente da Câmara, Fernando Costa, ciente da movimentação económica que estas reuniões trazem às Caldas, já que atraem à cidade milhares de pessoas.
Como tal compromete-se a pagar as despesas relacionadas com a utilização do espaço e que ultrapassem os 1000 euros. Ou seja, nos casos da Huila e de Moçamedes, a Câmara das Caldas contribuiu este ano com 270 euros de modo a que cada grupo tenha que angariar apenas 1000 euros entre os seus associados. O edil diz que já falou com todos os responsáveis dos grupos a quem comunicou a decisão.
O autarca não equacionou novos locais para a reunião destes grupos pois gostaria que os eventos-convívio tivessem continuidade na mata. “Por mim, os grupos continuarão a vir às Caldas e a ficar na mata”, disse Fernando Costa à Gazeta das Caldas, acrescentando ainda que “o valor que o CHON cobra aos grupos não é muito elevado”.
Os Amigos de Moçamedes (Angola) reuniram-se nos dias 6 e 7 de Agosto e durante esse fim-de-semana estiveram nas Caldas cerca de 1500 pessoas. O seu encontro decorre desde 1999 na Mata Rainha D. Leonor e é organizado pela ADIMO (Amigos do Distrito de Moçamedes). Nele participam não só gente que mora em Portugal como também pessoas “que estão na Bélgica, Luxemburgo, EUA, Brasil e Angola e que não faltam à festa”, contaram Carlos Santos e Albano Júnior, elementos da organização.
Os responsáveis da Adimo dizem que entre os sócios há muita gente de várias categorias sociais, mas muitos têm vencimentos ou reformas baixas. No entanto, há vários anos que trazem “benefícios para os hotéis, restaurantes e até para a Praça da Fruta pois muita gente vem alguns dias antes para passear”.
Carlos Santos e Albano Júnior dizem que não se recusam a pagar a utilização do espaço mas acham que o valor é elevado para a associação.
Contam que esta festa já tem custos de quatro mil euros relacionados com a contratação de segurança, aluguer de palco e contratação da banda para os dois dias e que, por isso, “dificilmente conseguiremos cotizar-nos para mais uma despesa tão elevada”.
E quanto poderiam pagar? “O ideal seria se nos reduzissem para 500 euros…”, disseram os responsáveis.
“Contribuímos muito para a economia das Caldas”
João Pedro, 72 anos, veio de Olhão para participar. “Fazemos isto por carolice”, disse o conviva, que vem às Caldas desde 1999. “Apesar da crise, não quisemos faltar, mas não podemos pagar tanto pelo espaço pois temos muitas despesas com as viagens!”, acrescentou.
José Augusto, também de Olhão, tem vindo sempre às Caldas para fazer “a nossa festa” e por cá “gastamos muito dinheiro”. Diz que não come nos restaurantes da cidade, mas pelo menos “vou comprar os legumes à praça para cozinhar”.
António Gancho tem uma ligação especial à cidade pois jogou futebol no Caldas entre 1978 e 1979. Também entende que o valor pedido pelo CHON é muito elevado pois “não há segurança nem nada que nos proteja da chuva”. Na sua opinião a associação a que pertence está disposta a pagar desde que sejam criadas boas condições para a permanência das pessoas.
“Contribuímos para a economia das Caldas, ocupando as suas pensões e tomando as refeições na restauração”, disse Cristina Faria, também do Algarve. Diz que o mais importante do evento é o convívio e gostaria de continuar a reunir neste local, “ideal para acamparmos”.
Quem não está de acordo com a sugestão é Carlos Sá, presidente do CHON. Este responsável explica que desde o início de 2011 que toda a gente paga os espaços do CHON independentemente dos fins. Há um regulamento que todos os utilizadores têm que cumprir “estando apenas salvaguardadas de pagamento as actividades escolares”, disse.
Até porque “temos custos de manutenção e estamos a aplicar o princípio do utilizador-pagador”.
Carlos Sá diz que estranha esta atitude do grupo pois – por serem uma associação sem fins lucrativos e a pedido do próprio grupo – “o valor real foi reduzido para metade”, tal como acontecera com os “Inseparáveis da Huila”.
Ao todo, por cerca de 5300 metros quadrados utilizados, pagaram apenas 1270 euros, metade do valor que está estipulado. Carlos Sá considera que o preço “é irrisório e não poderá descer mais”.
“Todo o angolano tem normalmente piri-piri em casa”
Carolina Camati, natural do Lobito, tinha uma banca de venda de produtos angolanos. Trouxe jindungo (piri-piri), chá príncipe, maçarocas, mandiocas, batatas doces e uma bebida designada quisangua que é feita à base de farinha de milho.
Muito sucesso fizeram a Paracuca e a Quitaba, feitas com base de amendoim. A primeira é doce pois é feita com amendoim torrado e açúcar, enquanto que a segunda é similar à manteiga de amendoim mas leva sal e piri-piri. “É muito bom para comer no pão ao lanche”, explicou a vendedora.
Segundo Carolina Camati, um dos produtos mais procurados é o piri-piri pois normalmente “todo o angolano tem picante em casa”. No recinto da festa há sempre um restaurante bar e entre os pratos mais pedidos reinava a Muamba, o Churrasco e a Feijoada Angolana.