Guarda do Alcaide de Óbidos recria acampamento com as artes da guerra e da vida da Idade Média

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A Guarda do Alcaide de Óbidos tem participado em diversas recriações, não só no país como também já em Itália

 

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A Guarda do Alcaide de Óbidos nasceu em 2007 como um projecto na área das armas para realizar pequenas recreações no Mercado Medieval. Inserido na Associação Espeleológica de Óbidos, o grupo que nasceu com sete elementos, já ultrapassa os 30 e, além de participar em recriações com os seus homens de armas, também garante um acampamento militar e civil por estes dias em Óbidos.
Entre ferreiros, carpinteiros, carvoeiros e agricultores, é possível encontrar o dia-a-dia de uma aldeia da Idade Média. Mas à noite, e em tempos de conflitos, os mesmos homens lutam pelo seu senhor ou defendem as suas famílias, de espada e arco em punho. Uma viagem no tempo que este grupo vive mais intensamente no Verão, mas que prepara durante todo o ano.

Paulo Nascimento trabalha durante quase todo o ano numa companhia de seguros. A situação altera-se nos meses de verão, quando troca as vestes do século XXI pela armadura de homem de armas, ou coloca a máscara, pega no machado e torna-se num temível carrasco, castigando os malfeitores.

O carrasco é das personagens que mais atrai os visitantes do Mercado Medieval

À semelhança de Paulo Nascimento, também Thomas Van Braekel, um jovem de origem belga e a residir em Óbidos há vários anos, enverga as vestes medievais durante os torneios e depois acumula as funções de ferreiro para dinamizar o acampamento que está instalado junto ao castelo de Óbidos, no interior da cerca.
Ambos integram o grupo Guarda do Alcaide de Óbidos (GAO), criado em 2007 e inserido na Associação Espeleológica de Óbidos. A ideia inicial foi de Filipe Pessanha, que então trabalhava na autarquia e era um dos dinamizadores do Mercado Medieval, que achou que os elementos daquela associação, dada a actividade que desenvolviam, poderiam realizar um projecto na área das armas medievais.
Alguns dos elementos gostaram da ideia e, depois de alguma formação com o mestre de armas João Maia, da Espada Lusitana, estrearam-se como grupo nesse mesmo ano, no mercado medieval de Óbidos, com algumas actuações.
“Aprendemos a manejar espada e a lança e neste momento estamos também a dedicar-nos ao arco porque temos várias pessoas interessadas”, explicou à Gazeta das Caldas Vítor Rodrigues,

O acampamento civil e militar recria o dia-a-dia de uma aldeia da Idade Média

presidente da Associação Espeleológica de Óbidos.
Inicialmente o grupo era composto por sete elementos, mas com o tempo foi crescendo e actualmente já são mais de 30, com idades compreendidas entre os oito e os 50 anos.
“Fiquei maravilhado com este mundo e entrei”, conta Paulo Nascimento, que aderiu ao GAO em 2010, na altura em participaram na reconstituição da Batalha dos Atoleiros, em Fronteira. Para além desta recriação, o grupo já esteve em Elvas, Castelo de Vide, Leça do Balio, Alvalade do Sado, Silves e Finale Ligure (Itália), na sua primeira internacionalização. O grupo tem trabalhado essencialmente com a Vivarte, que os iniciou nestas andanças, mas também com outras associações de recriação histórica como é o caso da Espada Lusitana, com quem têm um projecto comum – o assalto ao castelo -, que decorre todas as sextas-feiras do mercado medieval.
Paralelamente, o grupo tem sido convidado a dinamizar algumas iniciativas na região e fazer demonstrações de armas em escolas.

SENTIR A HISTÓRIA AO VIVO

Nos últimos três anos o grupo tem também recriado um acampamento medieval em Óbidos. Este ano a réplica da vida quotidiana numa aldeia da época está situada junto ao castelo e cada um dos elementos do grupo retrata um ou dois ofícios, como é o caso do ferreiro, carpinteiro, carvoeiro, tecelão, ou mesmo agricultor, com um canteiro onde estão plantadas alface e tomate.
Para que tudo esteja em conformidade com o tempo histórico, é necessária alguma pesquisa histórica e uma grande atenção aos pormenores. “Para ter este acampamento como está é preciso um trabalho de, pelo menos, dois meses antes da feira começar”, explicou Vítor Rodrigues, acrescentando que o grupo reúne-se uma vez por semana para treinar e discutir algumas propostas na sala que lhes foi cedida pela Associação Recreativa Pinhalense (Pinhal de Óbidos).
A recriação do acampamento tem, além da componente lúdica, uma atitude pedagógica, permitindo aos visitantes visualizarem as armas e os objectos usados naquela altura, como é o caso da bigorna, que muitas crianças desconhecem. “É sentir a história ao vivo”, conta o responsável, acrescentando que tudo o que se vê no acampamento é espólio da Associação de Espeleologia ou de algum dos seus elementos, até porque quando se anda nestas andanças encontra-se sempre algum adorno diferente que acabam por adquirir.
No passado domingo estrearam mais um projecto, um torneio de tiro com arco, que decorreu no mercado medieval. E, seguindo as normas da época, o vencedor ganhou 20 torreões e uma flecha de ouro e o segundo classificado 10 torreões e uma flecha de prata. Todos os outros recebem um certificado de participação. “Nestes torneios, destinados à plebe, todos recebiam prémios monetários”, explicou Paulo Nascimento, que tem feito bastante pesquisa histórica para o GAO.
No futuro, o grupo gostaria de ter um projecto fixo em Óbidos, que pudesse estar a funcionar além do período em que decorre o Mercado Medieval. O objectivo passa por ensinar a manejar as armas e permitir a recriação medieval ao vivo durante mais tempo. “As pessoas vivem muito a ideia da conquista, desta forma seria possível dar-lhes oportunidade de estar com uma espada ou experimentar o arco”, explica Vítor Rodrigues.
Para além disso, querem continuar a comprar novos equipamentos, e materiais, tornando mais rico o seu espólio.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

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