Há 90 anos houve o primeiro happening nas Caldas

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A primeira iniciativa do aniversário do Museu foi dedicada a Delfim Maya

Iniciaram-se as celebrações dos 90 anos do Museu Malhoa, com uma sessão onde foi dado a conhecer um acontecimento pouco comum

No dia em que o Museu de José Malhoa abriu ao público, a 28 de abril de 1934, decorreu, por iniciativa do artista Delfim Maya o que hoje se define como um happening, isto é, um acontecimento espontâneo, normalmente planeado e que envolve a participação do público.
O autor arranjou uma avioneta que sobrevoou a então vila e que espalhou panfletos com um poema da autoria de Branca Gonta Colaço, autora que desejava “espalhar versos pelo povo”. A autora escreveu sobre o quadro “Os Bêbedos”, numa homenagem ao pintor caldense que falecera em outubro de 1933. O poema foi publicado na Gazeta das Caldas, numa edição especial que o jornal dedicou à abertura do Museu.
Deste modo, no dia em que o museu abriu ao público, o poema foi “lançado” do céu, conseguiu rapidamente chegar às mãos do público caldense. E há uma fotografia que comprova o facto, apesar deste não ter sido noticiado na Gazeta das Caldas.
O episódio foi descrito no sábado, 13 de abril, numa conferência sobre Delfim Maya, que decorreu no Museu Malhoa e que abriu a programação que visa assinalar os 90 anos deste museu, o primeiro construído de raiz para tal fim. Maria Maya, neta do artista e que fez o mestrado sobre o seu avô, “O Modernismo de Delfim Maya”, confirmou este acontecimento e contou que o avô terá tido a colaboração do seu irmão, António Maya, que era na época o comandante da Base Aérea de Tancos. Naquela altura havia muito poucas avionetas e, por isso, “este foi um acontecimento raro e antecessor no domínio das artes”, acrescentou. E isto porque os primeiros happenings em Portugal datam dos anos 60 do século passado.
Além do mais, há várias peças no Museu de José Malhoa oferecidas pelo próprio Delfim Maya, sensível aos pedidos do então diretor António Montez, que escreveu a vários artistas para que doassem obras para o Museu que iria em breve abrir ao público e precisava de enriquecer a sua coleção.
Nessa altura, Maya ofereceu uma das suas peças mais importantes e que tinha estado em exposição em Paris, o Jockey. “Havia uma ligação afetiva com este museu e, no final da sua vida, o meu avô doou mais obras a este espaço”, referiu Maria Maya. A autora deu ainda a conhecer que foi possível publicar o livro, baseado no seu mestrado com o apoio da Liga dos Amigos do Museu José Malhoa e que foi apresentado pela primeira vez nas Caldas.
Artista representado na exposição de longa duração do museu caldense, Delfim Maya (Porto, 1886 – Lisboa, 1978) foi o primeiro a introduzir em Portugal a escultura em folha de metal recortada. Nas artes “foi um autodidata que colocava na sua arte , a sua própria vida”, disse a neta acrescentando que o avô, monárquico e cavaleiro, esteve preso por ser contra o regime.
“Era uma figura inconformada e inconformista que olhava a vida olhos nos olhos, com algum desafio”, disse a neta, cuja apresentação foi antecedida por Samuel Rama, artista e professor na ESAD.CR, que abordou o tema “Esculturas entre a Massa e a Graça”.
No próximo sábado, 20 de abril, pelas 16h00, decorrerá uma atividade que tem a colaboração da Associação José Afonso – Núcleo Caldas, em volta do 25 de Abril e que tem por base a exposição “Da noite ao dia Claro” que está patente na Galeria do Turismo.
Segue-se, no dia 20 de abril, a apresentação do projeto “Novíssimas Cartas Portuguesas” que aborda o livro e cria uma peça cinematográfica com base nas “Novas Cartas Portuguesas” (1972), de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta (“As Três Marias”). No Museu José Malhoa, a exibição do filme será acompanhada por um debate, com a participação de mulheres da região e das realizadoras. Às 16h00, haverá concerto à volta de Abril, com o Coral das Caldas.
As celebrações dos 90 anos do Museu de José Malhoa vão estender-se ao longo dos próximos meses. ■