A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém ESGTS), que faz parte do instituto politécnico daquela cidade, tem sido escolhida por muitos caldenses, alguns dos quais a frequentam em horário pós-laboral para fazer os seus cursos de licenciatura e mestrado, sobretudo desde que a A15 aproximou as duas cidades.
Pretexto para uma entrevista, realizada por e.mail, ao seu director, Ilídio Tomás Lopes, que faz uma defesa acérrima da manutenção dos politécnicos e dá a sua visão do que deve ser o ensino da Gestão. O director não se exime a criticar o modelo ultraliberal vigente e lamenta que hoje se estejam a perder princípios de coesão social e de valores que, por este caminho, “comprometem a geração dos nossos estudantes e dos nossos filhos”.
GAZETA DAS CALDAS – Qual a origem da maioria dos alunos da sua escola?
ILÍDIO LOPES – A maioria dos alunos é proveniente do distrito de Santarém embora existam cada vez mais estudantes dos distritos limítrofes. Efetivamente, os institutos politécnicos acabaram por dar um grande impulso na fixação de populações pois neles podemos encontrar igualmente ofertas educativas de qualidade. A região de Caldas da Rainha/Alcobaça tem um peso importante na nossa população estudantil.
GC – Qual a taxa de empregabilidade?
IL – Não existe ainda na nossa estrutura um sistema integrado que nos permita aferir qual a percentagem de estudantes a trabalhar na sua área de formação.Genericamente, e pelas abordagens de monitorização que temos feito à empregabilidade, é possível afirmar que a taxa de empregabilidade estará acima dos 90%.
GC – Que características tem o vosso curso de Gestão que o diferencia dos outros? Que novos conteúdos e aprendizagens devem hoje ser ensinados aos alunos?
IL – A nossa oferta vai muito para além do curso de Gestão de Empresas. Por isso, a nossa oferta educativa assenta em conteúdos programáticos atuais que ajudam o aluno, durante o primeiro ano a uma estruturação do pensamento, e nos seguintes a uma focalização nas aprendizagens específicas dos ciclos que frequentam.
O processo de Bolonha veio introduzir ao ensino, ainda de forma mais vincada, a orientação para o saber fazer. Para além desta vertente aplicada, é importante que os alunos tomem contacto com as temáticas atuais e que possam desenvolver um conjunto de competências que, para além da componente técnica, possam afirmar-se no âmbito de uma cidadania ativa.
GC – O paradigma ultraliberal é hoje predominante no discurso político em Portugal e na Europa. Concorda? Trata-se de uma inevitabilidade? Devem as faculdades ensiná-lo aos alunos para que estes melhor se acomodem no seu futuro profissional, ou têm o dever de lutar contra a corrente e ensinar e procurar alternativas?
IL – Como sabe, são hoje postos em causa os modelos económicos que orientaram as economias europeias nas últimas décadas e que incutiram na minha e, consequentemente, nas gerações mais jovens, a ideia do progresso e do bem-estar. Esse modelo, alicerçado na intangibilidade e altamente ficcionado, coloca em causa, do meu ponto de vista, os princípios que Robert Schuman defendeu em 1950, aquando da fundação da CEE. Foram princípios de coesão social e de valores que hoje se estão a perder e que estão a comprometer a geração dos nossos estudantes e dos nossos filhos.
Não concordo com o discurso ultraliberal que tem pautado a cena política pois poderá estar em causa uma das principais conquistas do 25 de Abril, que foi a possibilidade de grande parte da população portuguesa ter acesso à educação, aliás direito consagrado na nossa Constituição. Refuto totalmente a ideia de que o ensino volte a ser privilégio de uma elite que tenha capacidade para o poder financiar.
Claro que a atitude do estudante tem de ser hoje muito mais ativa. Tem de procurar desenvolver mais e melhores competências que lhes permitam integrar-se num mercado de trabalho mais exigente, mais complexo e muito mais volátil. É por isso que as próprias instituições têm também de evoluir para poderem corresponder ás necessidades emergentes dos seus alunos.
GC – O que pensa sobre a promoção de 50% nas compras efectuadas no 1º de Maio por uma grande superfície? É um caso de estudo para o ensino da Gestão?
IL – É sem dúvida um caso que merece estudo e reflexão em diversas vertentes: Comercial/Marketing, Financeira, Jurídica, mas também ao nível do comportamento e Psicologia do Consumidor e até no âmbito da Ética nos Negócios.
“O caminho não passa obrigatoriamente pela fusão de instituições de ensino superior”
GC – Se for proposta, ou tornada indispensável para dar sustentabilidade ao sistema, a fusão de politécnicos, que opções é que considerava e como acha que se devia articular as ofertas das diversas escolas?
IL – Racionalmente, penso que a reorganização da rede de ensino em Portugal é uma inevitabilidade pois está para além de aspetos meramente economicistas. Do meu ponto de vista, o caminho não passa obrigatoriamente pela fusão de instituições de ensino superior.
A primeira questão que deve ser respondida é se a opção estratégica e política passa pela manutenção do sistema binário que atualmente temos: ensino universitário e ensino politécnico, numa canibalização permanente ao nível das ofertas educativas.
Eu defendo o sistema binário, cujas missões devem ser claramente definidas e assumidas e só a partir daí se deve passar à racionalização da rede e das ofertas educativas.
Fala-se muito da evolução dos institutos politécnicos para Universidades de Ciências Aplicadas. Não me parece ser essa a essência da questão, mas sim o assumir e o operacionalizar da missão de cada um dos subsistemas, caso seja essa a opção estratégica. Quanto à racionalização da oferta, é tempo dos presidentes das instituições politécnicas e universitárias colocarem em cima da mesa, e de forma aberta e sem reservas, analisarem os diversos cenários.
GC – Considera a proposta do presidente do ISCTE de integrar os politécnicos na órbita das Universidades, aliás como já acontece em Aveiro e Faro?
IL – Não concordo de forma alguma com essa posição. Aliás, isso só reflete o que referi anteriormente: a não definição e o não assumir da missão de cada um dos subsistemas. É justamente em resultado dessa canibalização descontrolada que alguns advogam a orientação para um sistema único de ensino ou para essa integração. A verticalização dos subsistemas que está inerente a essa posição em nada beneficia a qualidade do ensino.
A formação dada nas universidades não é melhor do que a formação dada nos institutos politécnicos. As universidades acabam por ter estruturas privilégios, legalmente consagrados, e que os politécnicos não têm. Se nos derem as mesmas condições para trabalhar, poderemos cumprir a nossa missão, tão bem ou melhor que muitas universidades.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
Testemunhos
“Gostei bastante de estudar na Escola Superior de Gestão de Santarém”
Nome: Joaquim Conde
Idade: 43 anos
Profissão: Técnico Oficial de Contas e Mediador de Seguros
Ano de ingresso: 1994
Curso: Gestão de Empresas
“Foi bom, gostei bastante de estudar na Escola Superior de Gestão de Santarém”. Palavras de Joaquim Conde que acrescentou que sempre gostou daquela cidade por esta ser “tranquila e possuir animação que é promovida pelo próprios estudantes”.
Quando frequentou o curso de Gestão de Empresas não havia A15, os acessos eram muitos maus pois “tinha que ir por Rio Maior e demorava o dobro do tempo para lá chegar”, conta.
A Escola Superior de Gestão “é boa, o ambiente era familiar e as instalações foram bem adaptadas, já que o edifício era um antigo convento”, resumiu. Hoje Joaquim Conde considera que a escola está muito diferente, cresceu e tem muitos mais alunos. “Antes estacionava bem perto dos lugares dos professores e da última vez que lá fui, tive que deixar o automóvel bem longe”, rematou.
“Tem um bom ambiente e boas instalações”
Nome: Vanda Rodrigues
Idade: 34 anos
Profissão: Gestora
Ano de ingresso: 1997
Curso: Bacharelato em Gestão Autárquica e frequentei e frequência da licenciatura em Administração Pública e Autárquica.
Vanda Rodrigues trabalha na área da Gestão e contou à Gazeta das Caldas que gostou de frequentar a Escola Superior de Gestão de Santarém enquanto se formou.
Salientou que, através do seu curso, adquiriu “bons conhecimentos que aplico actualmente na minha vida profissional”.
A ex-estudante considera que a Escola Superior de Santarém “tem um ambiente familiar, onde quase todos se conhecem e nos sentimos bem”.
A gestora diz que recomendaria esta escola de ensino superior pois “pela experiência que tive, comprovei que nos dá uma boa formação e, simultaneamente, tem um bom ambiente e umas instalações em boas condições”.
“Uma escola acolhedora com equipas pedagógicas muito competentes”
Nome: Mário Tomás
Idade: 36 anos
Profissão: Formador e técnico superior de Higiene e Segurança no Trabalho
Ano de ingresso: 1997 e, após interrupção, 2011
Curso: Administração Pública
Mário Tomás é caldense e trabalha na área da formação profissional. Quando entrou em 1997 começou por ingressar no Instituto Politécnico de Tomar e graças a uma estudante que quis efectuar uma permuta, o caldense acabou por se matricular na Escola Superior de Gestão de Santarém, no curso de Administração Pública.
No ano passado, e após um interregno, regressou à escola superior para terminar a sua licenciatura. “Há um ambiente familiar onde praticamente toda gente se conhece e é também uma escola acolhedora, com equipas pedagógicas muito competentes”, contou o caldense, que é trabalhador-estudante e está a completar o seu curso em horário pós-laboral.
O seu projecto final de curso vai reflectir sobre a reforma na Administração Local e sobre a extinção das freguesias do concelho das Caldas da Rainha.
“Tenho apoio da autarquia e das juntas e além da avaliação académica, pretendo ajudar a resolver esta questão que não é fácil pois cada qual puxa a brasa à sua sardinha”, disse Mário Tomás.
As acessibilidades “estão agora muito melhores com a A15 pois antes era pelo menos uma hora de caminho”. Mário Tomás ainda acrescentou que a escola “é acolhedora, recebe alunos de outros países” e ainda possui “uma boa biblioteca e que todas as salas estão equipadas com as novas tecnologias”.
Na sua opinião, a Escola Superior de Gestão de Santarém integra-se muito com a comunidade onde está inserida: “há pessoas a fazer caminhadas nas instalações da escola”. Além do mais sublinha que possui uma boa biblioteca e que todas as salas estão equipadas com as novas tecnologias.
Mário Tomás, após a licenciatura, pensa em continuar os estudos, avançando para uma pós-graduação também na Escola Superior de Gestão de Santarém.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
Cinco licenciaturas e seis mestrados
A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém (ESGTS) conta actualmente com cinco cursos de licenciatura (Gestão de Empresas; Contabilidade e Fiscalidade; Marketing e Publicidade; Informática; Administração Pública), seis cursos de mestrado (Contabilidade e Finanças; Marketing; Gestão Pública; Sistemas de Informação de Gestão; Empreendedorismo; Gestão de Organizações de Economia Social) e dois cursos de especialização tecnológica (Desenvolvimento de Produtos Multimédia/Web Design; Instalação e Manutenção de Redes e Sistemas Informáticos).
Existem cursos em regime diurno e pós laboral.