Caldense encara o cancro de uma forma diferente, sem se deixar vencer pelo cansaço ou pela tristeza. O apoio familiar e a meditação fazem parte do tratamento, que se tem revelado um sucesso
Irina Fernandes é uma força da natureza e não há pandemia ou a diagnóstico de cancro que lhe tire o sorriso do rosto. Mas nem sempre foi assim.
Em março passado, depois de saber que tinha ficado sem emprego e já a ter de lidar com os primeiros dias de confinamento, soube que tinha cancro de mama, grau 4, com metástases no pulmão.
“A primeira reação foi de choque”, contou a caldense, de 38 anos, à Gazeta das Caldas. Teve de aguardar três meses, em casa, até que lhe marcaram a primeira consulta no IPO. A espera ”foi desesperante”, acrescentando que, desde o início, teve sempre a ajuda do marido, o psicólogo Rui Marques, que a ajudou a encarar o problema de saúde com outros olhos. “O teu tratamento começa contigo” disse-lhe o companheiro, também caldense, e foi nesse dia que Irina sentiu o ponto de viragem para passar a ver a doença sob uma outra perspetiva.
Começou à procura de casos de remissão da doença e deparou-se com pessoas que, 30 anos depois, “ainda cá estão”, disse Irina Fernandes, explicando que há uma série de cuidados que tem e que a ajudam. Assim que pôde, regressou ao exercício físico, algo que já fazia antes do diagnóstico, pois profissionalmente trabalhava para uma cadeia de ginásios. “De pequenas caminhadas passei lentamente às maiores e hoje já faço 11 quilómetros”, contou a caldense, que também se dedica à meditação.
E tudo tem contribuído para o sucesso do tratamento, “a tal ponto que a massa de seis centímetros que tinha no pulmão simplesmente desapareceu!”
Irina Fernandes considera que os bons resultados se devem também a uma mudança pessoal, que crê ser essencial para a cura. “Creio que esta doença me apareceu para me mostrar o meu propósito”, disse a caldense que dá muita atenção à sua espiritualidade e à sua relação com Deus.
Também a alimentação é agora diferenciada. Evita a todo o custo comida processada e evita os açucares. Na sua casa a maioria das suas refeições é feita com produtos biológicos.
A caldense diz que não podemos controlar o que nos acontece “mas sim a forma como reagimos”. Tem também testemunhado em programas de televisão e em sessões, online para as escolas, pois considera ser muito importante partilhar a experiência.
Numa das suas caminhadas pela praia da Ericeira, onde vive, encontrou a apresentadora Cristina Ferreira e contou-lhe a sua história de superação, tendo participado no seu programa Dia da Cristina na TVI. Também a RTP fez uma reportagem sobre ela.
Uma vida pré e pós-cancro
“Na verdade há para mim uma vida pré e uma vida pós cancro”, refere Irina Fernandes, a quem nem o facto de os tratamentos a terem deixado sem cabelo incomodou. Na juventude tinha rapado o cabelo (assim como já o tinha pintado de cores diferentes) e voltou a fazê-lo pouco meses antes do ter recebido o diagnóstico, para assinalar uma etapa do crescimento do filho Santiago. Além de ter conseguido superar uma prova desportiva internacional, o rapaz encontrou “dentro de si a verdadeira resposta a uma adversidade que lhe surgiu”, contou a mãe.
Na verdade, segundo a caldense, a doença tem “trazido mais coisas boas do que más”. Está feliz com os progressos alcançados e conta que não vive “ansiosa com o futuro nem presa ao passado”. E há uma série de projetos que Irina Fernandes quer fazer, relacionados com este processo de superação e que vai concretizar em breve: várias sessões online e até o lançamento de um livro.
Irina, marido e filho mantêm ligação regular com as Caldas, cidade onde está grande parte da família e onde o casal tem muitos amigos. ■