Aos 39 anos e depois de sete anos de vida religiosa, a caldense celebrou a profissão religiosa dos votos perpétuos a 1 de junho, um ritual de renovação solene e permanente dos votos
A primeira memória que Ana Margarida Lucas tem da Igreja é a de, em criança, ir ao terço com a ama Helena, a quem chama de avó. A irmã, que pertence à Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, nasceu nas Caldas da Rainha e estudou na cidade até terminar o ensino secundário, altura em que prosseguiu os estudos em Sociologia em Lisboa. Simultaneamente, viveu sempre “muito ligada à Igreja”. “As pessoas lembram-se de me ver na missa ao colo da minha mãe”, recorda Ana Margarida Lucas, que começou a dar catequese aos mais pequenos, aos 13 anos, numa altura em que ela própria ainda continuava na catequese.
A primeira vez que pensou em vocação tinha 17 anos. Leu um livro sobre padres jesuítas, denominado Jovens de Fogo e, impressionada, foi falar com um padre que lhe disse que ainda era “muito nova” para pensar nisso. Arrumou o assunto e um mês depois estava a namorar. Em 2004, com 19 anos, foi convidada pelo padre Joaquim Duarte para ser ministra extraordinária da comunhão, uma “missão” que, reconhece, foi fundamental, no sentido de se dar aos outros. E foi essa “missão”, que a fez não abandonar a Igreja num período difícil da sua vida, em que estava com “uma aridez espiritual maior”, recorda à Gazeta das Caldas.
Entretanto, enquanto estudava em Lisboa, participou no Encontro de Taizé, acompanhado por uma irmã da congregação, e ficou a conhecer o seu projeto de voluntariado Teresa de Saldanha, que estava a nascer.
Concluído o curso de Sociologia, Ana Margarida Lucas parte para Angola para a sua primeira missão e lá permanece durante um mês. De regresso às Caldas trabalhou no refeitório do hospital, no call center Contact e depois em Tomar, onde foi diretora técnica de uma empresa de Serviço de Apoio Domiciliário. Ao mesmo tempo recebe o convite, por parte da congregação, para ir para Timor. “Respondi que não podia, mas o desejo ficou”, recorda a Irmã que, depois de “recarregar baterias” na Jornada Mundial da Juventude em Madrid e de algum descontentamento com a nova gestão da empresa onde trabalhava, decide abandonar o emprego e partir em missão, onde esteve durante um ano. Aprendeu a língua, a conduzir à esquerda e, sobretudo, percebeu que “somos felizes sem nada”, disse, exemplificando que, por vezes, não havia água nem eletricidade e que as compras tinham de ser feitas na cidade vizinha.
Na congregação desde 2014
De regresso a Portugal foi trabalhar para um call center em Lisboa, mas a questão vocacional ía crescendo e acompanhava-a a pergunta: “foste tão feliz em Timor porque não hás-de de continuar a sê-lo?”. A 18 de maio de 2014 tomou a decisão de entrar na Congregação e em setembro começava a primeira etapa na vida religiosa, com o postulantado. Seguiu-se o noviciado de dois anos, período durante o qual fez um estágio de seis meses no lar de idosas de Estremoz, e em 2017 fez a primeira profissão, altura em que deixa o véu branco e recebe o véu preto e a cruz. Voltou para a comunidade de Estremoz, onde esteve durante dois anos e meio (tendo começado outra etapa de formação que se chama juniorado). Em 2019 parte em nova missão, desta vez para a Albânia, onde esteve pouco mais de três anos, tendo regressado há um ano para a preparação da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
Com sete anos de profissão, Ana Margarida Lucas pediu os votos perpétuos, o que a torna Irmã de plenos deveres e direitos. Continuará a trabalhar no Externato de S. José, mantém-se responsável pelo voluntariado e, no futuro, pretende fazer uma formação para acompanhamento, em Salamanca. “Fazer os votos perpétuos é estar disponível para aquilo que a congregação precisar”, conta aquela que foi a primeira caldense a celebrar os votos perpétuos na sua cidade natal. ■