A cerimónia que assinalou a distinção das Caldas da Rainha como cidade criativa da UNESCO teve lugar a 28 de Novembro, no Centro de Artes e contou com as intervenções de João Serra, que sai da coordenação da iniciativa.
A Câmara vai investir 1,8 milhões de euros na programação e em edifícios que servirão de apoio à programação na cidade que foi distinguida na área dos Crafts and Folk Art.
A candidatura das Caldas a Cidade Criativa sagrou-se vitoriosa e foi antecipada em um ano, já que quando o trabalho começou, em 2015, com a equipa da ESAD, liderada por João Serra, apontava-se para a apresentação da candidatura à Unesco apenas em 2020. No entanto, o historiador admitiu que o programa delineado em 2015 “não foi integralmente cumprido, certamente por deficiência nossa e talvez excesso de ambição”.
No entanto, “estabelecemos parcerias e abrimos linhas de actuação que, se forem prosseguidas, consolidarão a médio prazo o objectivo de consagrar Caldas como cidade cerâmica sustentável”. O investigador caldense anunciou que chegou a hora de sair, mas no entanto, deixou notas sobre as responsabilidades da autarquia e parceiros, tendo em conta a nova distinção.
É necessário, para o orador, reforçar as parcerias com as escolas e centros de formação cerâmica e associações culturais que inscrevem o estudo e a promoção da actividade cerâmica. Chamou a atenção para a necessidade de reforçar a investigação no domínio da história, da tecnologia, da sustentabilidade, assim como a de elaborar um programa de acções de estímulo ao contacto internacional e à internacionalização do sector cerâmico artesanal. É necessário um plano de incentivos à fixação de novas unidades de pequena produção autoral e de apoios ao desenvolvimento do seu negócio. Defendeu um plano de salvaguarda e protecção do património cerâmico público urbano, “muito ameaçado, designadamente do património azulejar (que vem sendo destruído a um ritmo intenso) e artístico (com destaque para a obra de Ferreira da Silva, em risco muito sério de degradação)”.
Bienal multidisciplinar
João Serra sugeriu a adopção de um plano de médio prazo de musealização da Cidade Cerâmica, “contratualizado com outras entidades públicas e privadas e pôr de pé os instrumentos de gestão e de financiamento ajustados” e o lançamento de um grande evento bienal – para o que sugere que se recupere a designação Molda – “de âmbito multidisciplinar, no qual se possam materializar os objectivos e instrumentos da política pública para o sector”.
O historiador propõe ainda a inscrição destas acções no programa regional de cultura que sustentará a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027. E por fim deixou a sugestão que a Câmara deveria “garantir um modelo adequado de gestão e de financiamento da Cidade Criativa, interlocutor da rede Unesco, e “braço armado” do município no cumprimento destas finalidades”.
Para a docente Luísa Arroz, que liderou a elaboração do dossier de candidatura à Unesco, a cidade é um ponto de encontro para a cerâmica e os ceramistas doutras zonas do país que “sentem necessidade de vir às Caldas ver o que está a acontecer”.
Nesse sentido defendeu que “com uma gestão mais profissional e equipamentos mais adequados se poderá maximizar a cerâmica e o trabalhos dos ceramistas”. Pretende também recorrer não só a recursos digitais como criar um observatório para avaliar as práticas de sustentabilidade, além da criação de um catálogo de boas práticas e um centro de conhecimento na área da sustentabilidade.
A docente – que em breve se vai deslocar à Coreia do Sul para uma conferência relacionada com as Cidades Criativas e com políticas de sustentabilidade – sublinhou que da candidatura faz parte a criação de um ecoponto para o tratamento de resíduos cerâmicos. “Primeiro é necessário estudar o impacto destes pequenos ateliers no ambiente”, disse a responsável acrescentando que as soluções encontradas vão permitir “diferenciar o produto mais sustentável e mais amigo do ambiente”.
Disponível para financiar
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira sublinhou que as sugestões de João Serra “serão seguidas” e ainda quis deixar nota que a Câmara vai apostar também na requalificação do Museu de Cerâmica. Futuramente “queremos que este seja um museu nacional verdadeiro”.
O edil caldense deu a conhecer quais os edifícios que irão ter programação da Cidade Criativa. O primeira ficará na Parada e o segundo, Pátio dos Burros, situado no centro da Cidade, previsto para acolher um espaço de trabalho e de venda implicando um investimento de 442 mil euros.
Haverá também o edifico junto ao Posto de Turismo onde vão surgir novos espaços de exposição. No total em programação e no edificado, a Câmara vai investir 1,8 milhões de euros. Tinta Ferreira fez questão de relembrar a estratégia municipal sugerida há vários anos por João Serra da constituição de um corredor criativo que liga a ESAD à zona do CCC, que vai ser retomada.
Questionado sobre a recuperação do Jardim de Água, obra de arte pública de Ferreira da Silva, que neste momento se encontra abandonada e em degradação, servindo mesmo de campo de skate perante a indiferença geral, o edil caldense afirmou que “a Câmara não está a pensar fazer nada, dado que o dono da obra é o Hospital”. No entanto, Tinta Ferreira reafirmou que a Câmara “está disponível e pronta a colaborar na reabilitação da obra”.
A cerimónia prosseguiu com um concerto de Solistas da Metropolitana que interpretaram Sonatas em Trio, no Museu Leopoldo de Almeida.