Jorge Mangorrinha apelou à mobilização da sociedade civil para o relançamento das Caldas como cidade turística

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Potenciar o hospital Termal, a cerâmica e a ESAD.CR, e criar novos eixos estratégicos que envolvam a comunidade, a diáspora caldense e os concelhos limítrofes foi a receita deixada por Jorge Mangorrinha para o futuro do turismo nas Caldas.
O caldense e presidente da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal destaca que o turismo de saúde e arte são essenciais para as Caldas e avança que três mandatos são o suficiente para regenerar uma cidade e um concelho.
A palestra, subordinada ao tema “Portugal, que Turismo? Caldas da Rainha, que Marca?”, encheu o auditório do pólo caldense da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste na noite de 26 de Março.

“Acho que a comunidade deve fazer mais pela sua terra. A pedra de toque no futuro passa por sabermos por onde passa a diáspora caldense, pois há muita gente, inteligente e que gosta das Caldas, que pode fazer mais pela cidade, não é só ir a Newark (Estados Unidos) buscar dinheiro para as campanhas eleitorais”. Palavras de Jorge Mangorrinha, que considera que o capital humano é o principal recurso a ter em conta, pois, tudo o resto já existe, disse, dando como exemplo as termas e 30 hectares de espaço verde no centro urbano.
O orador defendeu ainda que é preciso repensar a relação com Óbidos e com Alcobaça, pois o turismo “não tem fronteiras e deve existir para além de cada concelho”. No entanto, a rede de transportes não é a ideal, devendo ser potenciada a linha férrea como o caminho ideal para a deslocação dos turistas na região.
Na opinião de Jorge Mangorrinha em três mandatos (12 anos) conseguir-se-á regenerar uma cidade e um concelho. Considera que a autarquia tem um peso importante mas que, no caso caldense, há outras instituições como a associação comercial e o centro hospitalar que se devem unir para construir uma cidade melhor.
Garantindo que não tem pretensões políticas, o actual arquitecto na Câmara de Lisboa e docente universitário, lembrou que deixou na autarquia das Caldas (onde foi vereador entre 2002 e 2005) um plano estratégico que “continua actual”.
Nele defende que a estratégia para o sector deve assentar nas termas (turismo de saúde com a vertente curativa e de saúde e bem-estar), na Praça da Fruta e sua interligação ao mundo rural e na tentativa de dar á agricultura uma nova importância na região.
Para além disso, as pessoas “querem que o seu património seja classificado”, disse, lembrando que o hospital termal, considerado o mais antigo do mundo, não tem qualquer classificação. “Existe há 10 anos um processo no Ministério da Cultura e ainda não foi classificado porque localmente não quiseram”, denunciou, destacando que a sua classificação seria uma mais valia para a cidade.  O orador falou ainda da importância da formação, defendendo que as Caldas poderia ter um centro de conhecimento ligado ao termalismo.
Jorge Mangorrinha partilhou ainda com os presentes que a sua concepção da cidade era diferente da do presidente da Câmara que quis fazer o CCC, enquanto que o então vereador do Urbanismo entendia que a prioridade devia ser dada ao centro histórico.

Empresários querem mais visitantes

Entre os participantes, Ali Azimbhai, empresário na área do turismo há mais de 25 anos nas Caldas, denunciou a falta de visitantes, sobretudo excursionistas. Lembrou que há três décadas entravam diariamente na cidade, 30 a 40 autocarros para deixarem visitantes, nas poucas unidades hoteleiras que havia e que agora, são poucos os que fazem cá paragem e muitas unidades hoteleiras correm o risco de fechar.
“As pessoas vinham comprar cavacas e beijinhos, visitavam a Praça da Fruta e as lojas de cerâmica”, lembrou, acrescentando que com o tempo tudo se foi perdendo.
O empresário criticou ainda o facto de o folheto promocional das Caldas ter, pelo menos, 30 anos, e que actualmente, “se houver um turista que o queira dão-lhe uma fotocópia”, pedindo mais investimento por parte da autarquia.
Também Mário Gonçalves reconheceu que as Caldas tem perdido preponderância a nível turístico. O ex-administrador do Centro Hospitalar falou das termas e da importância que continuam a ter, apesar de, a partir de meados da década de 90, ter sido detectada a bactéria, obrigando a encerramentos temporários.
“Cheirar a água da Copa é um incentivo e quem teve essa oportunidade sente-se pesaroso por não ser entendido que a água termal constitui um bem inquestionável”, disse Mário Gonçalves, acrescentando que é importante fazer a tutela perceber que a água termal tem propriedades curativas.
De acordo com o empresário Francisco Vogado há que mudar o cenário comercial para atrair turistas, disse, dando como exemplo o facto da maioria dos estabelecimentos comerciais da cidade estarem fechados ao fim-de-semana. Por outro lado, registou a cooperação entre a associação comercial e a empresa Óbidos Patrimonium, durante o Festival de Chocolate.
Também o empresário de hotelaria, Artur Domingos, deu conta que as iniciativas de Óbidos ajudam à ocupação das unidades dos concelhos limítrofes, sobretudo durante a época baixa.
A necessidade de criar ofertas inovadoras aliadas à tradição, que permitam ao cliente viver uma história foi defendida pelo director da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, Daniel Pinto, que questionou a alavancagem que tem tido para a região o facto de nas Caldas existir o hospital termal mais antigo do mundo. A resposta foi dada por Helena Pinto, investigadora e ex-directora do Museu do Hospital e das Caldas, que considera que podem ser vendidas experiências, mas a partir de um território real. Estas podem ser das mais variadas formas, desde a restauração e gastronomia, à agricultura.

“O alojamento é crucial na escolha do turista”

De acordo com Jorge Mangorrinha o turismo deve ser pensado tendo em conta as tendências internacionais e que um destino turístico de sucesso terá que garantir a segurança, conhecer onde cresce a procura turística, utilizar as redes sociais, estabelecer partilha global e apostar em nichos de mercado.
Para além disso, a qualidade tem que estar sempre presente, “tanto nas infra-estruturas e equipamentos turísticos, como na arte de bem receber”, por exemplo, no comportamento de taxistas e dos empregados de restauração.
O orador destacou ainda que o aspecto do alojamento é crucial na escolha do turista, pelo que a hotelaria precisa de criar tendências novas, tendo em conta a identidade do projecto. Neste sentido, nestas novas tendências distinguiu cinco  tipos de hotéis de cidade, os clássicos, os de design, de eco-design, de destino com envolventes excepcionais e os temáticos.
Referindo-se a Portugal, o orador deu conta da história e patrimónios, que lhe conferem um posicionamento importante como país de turismo, aliado a um clima temperado, boa gastronomia e um povo de brandos costumes e hospitaleiro.
Jorge Mangorrinha falou também sobre a marca, definindo-a como um conjunto de símbolos distintivos, que “potencia um valor económico” para a cidade que a tem.
Tendo por base  os resultados do Estudo da Arca do Imaginário (que pretendeu apresentar um retrato de Portugal), o orador, fez um exercício académico com os seus alunos, extrapolando os resultados para as Caldas da Rainha, considerando a nível sensorial que a cor escolhida foi o cinzento, o som o do automóvel, o cheiro o do enxofre, o sabor o dos beijinhos das Caldas e a textura a dos legumes.
A personalidade que os inquiridos mais relacionaram localmente com as Caldas foi, na pesquisa realizada pelos alunos, Fernando Costa, enquanto que a nível nacional o estudo apontava para Mário Soares.
O hospital termal, a rainha D. Leonor, José Malhoa e os Pavilhões do Parque foram também assinalados como aspectos culturais identificativos desta cidade.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

Escola de termalismo nas Caldas?
Daniel Pinto garantiu, no passado dia 26 de Março, que tudo fará, na qualidade  de director da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste para que as Caldas possa acolher um centro de especialização, conhecimento e ensino na área do termalismo. Esta pretensão vem no seguimento da intenção do Turismo de Portugal em instalar na cidade da Guarda uma escola vocacionada para o termalismo.
O responsável considera que, face à actual conjuntura, “provavelmente será difícil orçamentar instalação desta escola na Guarda”, pelo que pretende encetar contactos no sentido de atrair esta especialização para a região oeste. Daniel Pinto lembrou ainda que era já uma aspiração de Jorge Mangorrinha a criação de uma escola nacional de termalismo.
De acordo com Jorge Mangorrinha cabe ao Turismo de Portugal decidir em qual das escolas que possui em todo o pais (num total de 16) deve possuir uma especialização em termalismo.
Já Helena Pinto destacou que esta área do termalismo trará muitas mais valias para a gastronomia. “Pelas termas, hotéis termais e pensões passou a mais inovadora técnica de evolução de gastronomia, desde as dietas especializadas à alta cozinha, pelo que é um universo sensorial excelente”, concluiu.

F.F.