
A decisão do partido foi agora conhecida, 18 meses depois de instaurado o processo ao então militante socialista
A Comissão Federativa de Jurisdição da Federação Distrital de Leiria decidiu-se pela expulsão de Jorge Sobral do Partido Socialista, do qual era militante há 28 anos. A decisão, tomada em meados de julho, é resultado de um processo aberto ainda em 2021, na sequência do apoio de Jorge Sobral à candidatura de Vítor Marques à Câmara das Caldas, pelo movimento Vamos Mudar, integrando a sua comissão de honra. De acordo com o documento, o então militante socialista “agiu de modo livre e consciente”, sabendo que “não podia apoiar uma candidatura autárquica à Câmara Municipal das Caldas da Rainha (a candidatura Vamos Mudar) contra a candidatura autárquica do PS, encabeçada por Luís Patacho. Para esta comissão constituem “circunstâncias agravantes a premeditação e a repercussão pública e o mau ambiente resultante para o partido, da prática da infração”. Por outro lado, reconheceram como atenuantes a “militância antiga e ativa” no partido.
À Gazeta das Caldas, Jorge Sobral explicou que, quando ainda se desenhava a possibilidade da candidatura de Vítor Marques, “exigia-se ao PS local que tudo fizesse para que houvesse uma conversa no intuito de perceber até que ponto este pudesse estar disposto a entender-se com o PS”, lembrando que era conhecida a intenção deste se candidatar e que havia um “mal estar crescente” dentro do PSD local, ligado ao problema da distribuição de lugares para a Câmara. “Adivinhava-se que se nada fosse feito, pela direção local do PS, este seria o maior perdedor”, recorda Jorge Sobral, dando nota da grande aceitação que Vítor Marques tinha junto da população. Diz que tentou “chamar à razão” os responsáveis da concelhia para a necessidade de alargar a discussão aos militantes, mas esta decidiu, “com mais de um ano de antecedência, nomear para candidato à Câmara Luís Patacho, matando assim qualquer hipótese de entendimento”. Depois desta decisão, Jorge Sobral escreveu, “já em desespero, um documento de acusação sobre o caminho para onde estavam a empurrar o PS”. Considera que para a maioria dos eleitores do PS, esta era a grande oportunidade de derrotar o PSD. “Era o momento irrepetível para derrotar um partido que estava esclerosado, sem capacidade para inovar, repetitivo nas suas atuações, a tratar o poder autárquico como se fosse a sua casa”, argumenta, acrescentando que havia uma confusão de que o PSD e a autarquia eram a mesma coisa.
“Grande parte da população já o tinha percebido. Só os interesses mesquinhos e pessoais levaram a direção do PS a não ouvir ninguém”, critica Jorge Sobral, que diz ter escolhido tendo por base o interesse da população. E também não tem dúvidas que, se os militantes do PS que votaram no “Vamos Mudar” o declarassem, “esta concelhia local ficaria reduzida a metade, ou então não teriam a coragem de fazer de mim o bode expiatório, transformando-me no causador da perda de cerca de três mil votos para esconder que foi a sua incompetência e os interesses pessoais que levaram à derrocada”.
Militante do PS durante quase três décadas, Jorge Sobral exerceu vários cargos de eleição na estrutura do partido e autárquicos. Participou ainda em listas candidatas a Assembleia da República e exerceu funções por nomeação.
PS caldense não foi informado
Pedro Seixas disse à Gazeta das Caldas que, “enquanto presidente da Concelhia do PS das Caldas, nunca foi informado sobre processos de jurisdição a militantes do PS inscritos na secção das Caldas da Rainha” e que até ao momento aquela concelhia “não foi notificada, nem informada sobre tais processos”. Explica que cabe à jurisdição federativa e nacional a responsabilidade nessa matéria, sendo que apenas teve conhecimento informal, antes de exercer as atuais funções, de que teriam sido notificados alguns militantes inscritos na secção das Caldas após as eleições autárquicas de 2021.
Pedro Seixas considera que “actos ou processos desta natureza só devem acontecer em situações muito específicas e que coloquem em causa o nome da instituição ou os valores e ideologias pelos quais subscrevemos a inscrição de militante”, e que, na sua opinião, “não estamos nesse ponto”. O líder da concelhia caldense defende que há deveres e direitos enquanto militantes e não apenas aqueles que estão inscritos nos estatutos do partido, mas que o partido e os seus órgãos “também têm deveres perante os seus militantes que devem ser prementes na acção colectiva da instituição”.
No caso do PSD, o partido não tomou qualquer medida de afastamento, mas já em 2022 os militantes José Cardoso e Luís Paulo Baptista pediram a sua desfiliação e integram o movimento VM. ■