Foi recentemente lançada a obra “Peregrinação pelas igrejas de Lisboa”, um inédito do padre que nasceu em Salir de Matos e que foi uma figura de relevo na luta contra o Estado Novo
No dia 14 de dezembro, data do 22º aniversário da morte do padre caldense José da Felicidade Alves. foi lançada a obra “Peregrinação pelas igrejas de Lisboa”, um inédito do padre. A obra está organizada em sete tomos e é fruto de uma recolha de fichas que o pároco fez entre 1981 e 91 e que intitulou de “Peregrinação pelas igrejas de Lisboa, desde os seus longínquos alvores até aos nossos dias”. No entanto, essa obra ficou inédita à data do falecimento do autor, ocorrido em 1998. Ainda assim, “o manuscrito desta obra foi conservado na Livros Horizonte, onde o autor desempenhara funções de assessor literário”, explicam os responsáveis pelo lançamento da obra, no site onde estão já disponíveis os e-books dos primeiros três tomos.
“Posteriormente, no processo de organização do espólio de José da Felicidade Alves, levado a cabo por João Salvado Ribeiro e Abílio Tavares Cardoso, o manuscrito foi entregue, em janeiro de 2009, à herdeira Maria Elisete Nunes de Ascensão”, esclarecem, acrescentando que se seguiu o processo de edição.
A obra pode ser consultada no Portal de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
Os primeiros tomos dedicam-se aos “Templos anteriores à conquista de Lisboa aos Mouros (1147)”, “As Igrejas medievais (1147-1495)” e “As Igrejas do século XVI (1495 -1580)”. Seguir-se-ão “As Igrejas de Lisboa desde 1580 a 1755 – Análise crítica – Miguel Soromenho”, “As Igrejas de Lisboa ao Tempo do Terramoto – Análise crítica – José Daniel Soares Ferreira e Paulo Almeida Fernandes”, “As Igrejas de Lisboa desde 1755 a 1834 – Compilação – Abílio Tavares Cardoso e João Salvado Ribeiro” e ainda o “Panorama das Igrejas existentes no séc. XIX e séc. XX (1834-1995) – João Alves da Cunha”.
Uma voz contestatária
José da Felicidade Alves nasceu a 11 de março de 1925, no Vale da Quinta, na freguesia caldense de Salir de Matos. Desde os 11 anos que obteve formações nos Seminários do Patriarcado e foi ordenado sacerdote a 24 de junho de 1948, tendo sido de imediato nomeado Professor de Grego e de Matemática no Seminário de Almada, e um ano depois, convidado a lecionar, no Seminário dos Olivais, Teologia Fundamental e Teologia Dogmática, Patrística e História Eclesiástica. “Dotado de uma inteligência brilhante e de uma força de carácter inconfundível, contribuiu, ao longo de oito anos, para a formação teológica de mais de uma centena de padres, um terço do total de sacerdotes que à data pertenciam ao Patriarcado de Lisboa”, referem os autores no site.
Em 1956 foi nomeado pároco de Santa Maria de Belém (Jerónimos) e de São Francisco Xavier, onde desenvolveu um notável trabalho. Ainda assim, em 1968 “o Cardeal Cerejeira decretou o seu afastamento compulsivo da paróquia de Belém e a suspensão “a divinis”, contrariando o parecer da Comissão que o mesmo Cardeal Cerejeira nomeara expressamente para obter elementos de informação”, recordam. O pretexto para tal decisão foi a divulgação de uma “Exposição feita ao Conselho Paroquial de Belém”, “onde o padre equacionou, com extraordinária lucidez, os grandes problemas que se colocavam à Igreja Católica, em Portugal, denunciando a censura, a polícia política, a prisão sem culpa formada, a tortura física e moral, o totalitarismo do medo e defendendo o direito de reunião, o direito à informação e à plena autonomia dos povos colonizados”.
Em 1970 foi preso pela PIDE, tendo sido julgado e absolvido pelo Tribunal Plenário. Nesse mesmo ano celebra o casamento civil com Maria Elisete, na Conservatória do Registo Civil das Caldas, tendo sido excomungado e trabalhado durante cerca de 30 anos em vários empregos. “Em 1998, o novo Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, promoveu a sua reconciliação com a Igreja, apresentando oficialmente um pedido de perdão e presidindo ao seu casamento canónico, a 10 de junho de 1998, poucos meses antes da sua morte, que ocorreu a 14 de dezembro desse mesmo ano”. ■