
Não foram uma nem duas. Foram quatro vezes, nos últimos 13 anos. Em 2005, 2009, 2012 e 2013 o Hospital Termal das Caldas encerrou devido à presença de legionella na água. Por isso, quando há quatro anos um dos maiores surtos afectou Vila Franca de Xira e a legionella ganhou mediatismo nacional, para os caldenses o assunto não foi uma novidade. Afinal a legionella já era uma sua velha conhecida.
Só no ano passado foram detectados no país 233 casos de infecção por legionella e entre 2005 e 2015 esta bactéria infectou 1.300 pessoas, causando a morte de uma centena de doentes em Portugal. Dados da Direcção Geral de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. Gazeta das Caldas diz-lhe o que deve saber sobre a bactéria.
Existem 47 espécies de Legionella, mas a Legionella pneumophila é reconhecida como a mais patogénica. Estas bactérias encontram-se em ambientes aquáticos naturais e sem risco (como em lagos e rios) e em sistemas artificiais (como redes de abastecimento/distribuição de água, aparelhos de ar condicionado, chuveiros e torneiras, jacuzzis e saunas, canalizações de água quente e fria e sistemas de arrefecimento presentes em edifícios como hotéis, centros comerciais, termas e hospitais).
A doença dos legionários é uma forma de pneumonia grave que resulta da exposição à bactéria Legionella pneumophila e foi assim designada porque em 1976 morreram 34 pessoas e adoeceram outros 221 participantes da Convenção da Legião Americana, no hotel Bellevue Stratford, em Filadélfia. Já em Portugal a doença apareceu pela primeira vez três anos mais tarde e desde 1999 que pertence à lista de Doenças de Declaração Obrigatória.
Como se transmite? A Legionella transmite-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) que são tão pequenas que veiculam a bactéria até aos pulmões. Mas não se contagia de pessoa para pessoa nem através da ingestão de água contaminada.
São vários os factores que favorecem o desenvolvimento da bactéria: temperatura da água entre os 20°C e 45°C (óptima entre os 35°C e 45°C), humidade relativa superior a 60%, zonas de reduzida circulação de água, presença de outros organismos (como algas) em águas não tratadas ou processos de corrosão ou incrustação.
O período de incubação da Legionella varia entre dois a 10 dias após o contacto, seguindo-se um quadro de pneumonia que quase sempre justifica internamento hospitalar. A doença pode também surgir como forma respiratória não pneumónica, com um período de incubação mais curto (dois a três dias), assemelhando-se a uma síndrome gripal, conhecida como Febre de Pontiac.
Arrepios, febre alta, dores de cabeça e dores musculares são os primeiros sintomas manifestados. Em pouco tempo aparece a tosse seca e nalguns casos a dificuldade respiratória, diarreia e vómitos. Há ainda situações em que o doente pode sentir-se confuso ou entrar em delírio.
A doença dos legionários é detectada através de exames laboratoriais e é tratada com recurso a antibióticos. Atinge especialmente adultos, entre os 40 e 70 anos, com maior incidência nos homens. Fumadores, pessoas com problemas respiratórios e doentes renais têm mais probabilidade de contrair a doença.
O controlo Legionella pode ser feito com um programa de vigilância e manutenção de instalações e equipamentos que utilizem água e que são susceptíveis de conter a bactéria. Até ao dia 8 de Fevereiro tinham sido detectados em 2018 15 casos da doença dos legionários (nove em mulheres e seis em homens, 87% em pessoas com mais de 50 anos).
[caption id="attachment_116364" align="alignnone" width="2160"] O Hospital Termal esteve encerrado em 2005, 2009, 2012 e 2013 por causa desta bactéria (Foto de Arquivo)[/caption]