Luizinho Leal recupera história do Mosteiro do Vale Benfeito em livro

0
448
A obra conheceu a luz do dia no ano passado, mas só agora começa a ser,
- publicidade -

Investigador, que nasceu a 3 quilómetros do que restava do convento, constrói com palavras um Mosteiro que já não existe. E já tem nova obra na forja, sobre a história da freguesia da Amoreira

Foi com o recurso às palavras e após anos de apurada investigação, que Luizinho Leal foi capaz de reconstruir a história do Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição do Vale Benfeito. Fê-lo através de um livro, com quase 300 páginas, recheado de documentos e reproduções de quadros que servem para passar em revista o monumento que “nasceu” nas Berlengas, mas transitou, por volta de 1535, para a Amoreira. O mosteiro era masculino, pertencia à Ordem de São Jerónimo e ali resistiu três séculos, até à extinção das ordens religiosas.
A obra foi concluída e editada ainda no ano passado, mas como o autor deambulou pela política, como candidato à Câmara de Óbidos nas autárquicas, pela CDU, optou por retardar o lançamento e a divulgação do livro.
Trata-se de um documento histórico de fôlego, que partiu de um trabalho desenvolvido em 2018, com Vanessa Rolim e António Rodrigues, após um desafio lançado pela Junta da Amoreira, para a realização de uma conferência.
Terminado o evento, o ainda professor de Educação Musical sentiu que “tinha um capital de pesquisa que não podia desperdiçar” e abalançou-se na escrita de um livro em que se propôs “descobrir algo que estava esquecido”. “Construí um mosteiro, que não existe, com palavras”, resume o obidense, que explica como se faz a descoberta de algo que não existe: “Fazendo uma regressão do passado, procurando ler o que se encontra nas fontes e interagir com a documentação, interpretar e procurando compreender um passado que existiu e de que pouco resta”.
No fundo, o que seminarista, na adolescência, procurou fazer foi “perseguir o passado e a trazê-lo à tona sob forma de livro”, num impulso de culturalidade. “O simples facto de falarmos sobre o mosteiro já é uma grande vitória”, assevera Luizinho Leal, que lamenta se ter deparado com uma “história negligenciada pelos autarcas”.
Aqui chegados, porém, a pergunta impõe-se: por que não escrever um romance histórico, agora tão em voga? A resposta é célere. “Não sou romancista. Admito que haja pessoas que, através dos romances, expliquem a história, mas a minha vertente é mais académica. E deixa uma prova muito mais sustentada”, sublinha o antigo seminarista, que ilustra um olhar espiritual sobre o mosteiro e assume desencanto com a religião, após uma vida de trabalho em prol da igreja, nomeadamente na direção de coros.
“Este livro é um protesto contra as causas da negligência política e clerical quanto ao abandono do património, em particular, nestes últimos 186 anos. Ajudou-me a refletir porque fui crente e hoje estou nas raias do ateísmo”, afiança Luizinho Leal, que recusa o estatuto de homem da cultura, mas prefere um papel de “perseguidor” da cultura.
Depois de “O Real Mosteiro dos Jerónimos do ValBemfeito (Amoreira D’Óbidos”, há um novo livro na forja sobre o “outro lado” da história da freguesia. “Agora, tenho de olhar para a Amoreira do ponto de vista histórico, porque sinto que a freguesia pode ter algo a ganhar em termos culturais, económicos e sociais com estas investigações históricas”, observa o autor, que, em certa medida, fez uma viagem à infância. “Nasci a 3 quilómetros do que restava do mosteiro, brinquei por ali e senti que era algo que devia fazer pela minha terra”. Venha o próximo capítulo desta história.

- publicidade -