Redução das vendas em banca e das assinaturas em papel obrigam jornais a sair da zona de conforto e pensar fora da caixa.
O negócio dos jornais tem sofrido fortes alterações nos últimos anos e os números mostram que há uma degradação drástica, generalizada, no que se refere às vendas. À medida que as tradicionais formas de financiamento se tornam insuficientes, as empresas de comunicação que gerem os títulos são obrigadas a pensar novas formas de obter receita. Sobreviver significa ter de encontrar novas formas de chegar ao público.
Os números recentes da venda de jornais não deixam margens para dúvidas. De acordo com o inquérito às publicações periódicas, do Instituto Nacional de Estatística, entre 2014 e 2020 as vendas de jornais em Portugal caíram para metade. Em 2014, foram vendidos no país 171 milhões de exemplares. Seis anos depois as vendas caíram para os 85,8 milhões. Estendendo a análise a jornais e revista, e abrindo o espectro temporal, o problema agudiza-se. De acordo com o Pordata, em 1999 o setor atingiu o auge, com 486,7 milhões de exemplares vendidos. A partir daí a linha do gráfico cai a pique, até aos 121,3 milhões em 2020, ou seja, 25%.
O início da queda abrupta coincide com a viragem do milénio, a ascensão da internet e a crescente facilidade de acesso à informação. Ao mesmo tempo, decorre uma mudança geracional, com alterações nos hábitos de leitura e na forma como, sobretudo os mais jovens acedem à informação.
Durante décadas, o negócio dos jornais podia ser gerido como qualquer outro negócio, em que a venda direta do produto pagava o custo de produção. No arranque do século XX, a publicidade começou a ser uma fonte de receita viável, e, durante décadas, o modelo de financiamento dos media não precisou de se alterar muito.
Agora, a realidade é diferente. Fazer jornalismo envolve meios técnicos e humanos que dificilmente se suportam com uma venda de jornais em papel cada vez mais reduzida, enquanto as empresas ganharam, com a internet e as redes sociais, novos meios de fazer chegar mais rapidamente ao consumidor a sua mensagem.
Às empresas de comunicação, resta dar o passo que tem sido mais difícil de dar desde a viragem do milénio e tornar num aliado aquele que tem sido o principal inimigo: o digital.
A questão fundamental não é, contudo, o que fazer, mas sim como fazer. O modelo de negócio tradicional da imprensa não resulta no digital, é um facto comprovado. A maioria das pessoas não está disponível para pagar para ler uma notícia simples online. E a publicidade online, que é dominada pelos gigantes tecnológicos como a Google e a Meta, também não é suficiente.
Para serem sustentáveis online, os media precisam de criar novos conteúdos e novas formas de o entregar ao consumidor, de modo a persuadi-lo de que vale a pena pagar por esse conteúdo.
Segundo um estudo elaborado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism sobre doze exemplos de meios digitais na França, Alemanha, Espanha e Reino Unido, os novos jornais europeus já nascidos em suporte digital são mais bem-sucedidos em países onde os media tradicionais perderam a força, e muitos deles foram fundados com o primeiro objetivo de produzir jornalismo de qualidade ou de impacto social.
O princípio do utilizador pagador está presente, mas “o progresso na aquisição de assinantes é gradual” e “o mercado publicitário online continua difícil”, refere o estudo da Reuters, pelo que estas publicações que estão a crescer no meio digital incentivam o consumo através de newsletters temáticas e podcasts em “vídeo, conteúdos patrocinados, várias formas de pagamento e diversificação comercial”.
A personalização é outro fator determinante, através do cruzamento de dados. Tal como a publicidade que recebemos nos nossos aparelhos móveis é adaptada às pesquisas e gostos pessoais, também os media terão que adaptar as suas plataformas para que os conteúdos que chegam à interface do utilizador sejam capazes de o agarrar.
Mesmo maximizando a obtenção de receita online, será difícil, com o imediatismo necessário, tornar o negócio dos jornais rentável só com o online e a edição tradicional. Outro complemento passa pela integração das empresas na comunidade, uma realidade que é particularmente cara à imprensa regional.
Se os jornais são o registo histórico das comunidades, através dos seus arquivos, também serão capazes de ser fator de discussão do passado, presente e futuro, através da organização de eventos congregadores da comunidade que se propõem servir desde a fundação. Pode ser em papel, numa newsletter ou num podcast… Venha o leitor e escolha.