Os tempos que se vivem são de dúvidas e incertezas, mas o relógio não pára e o Montepio Rainha D. Leonor celebrou no dia 11 de Março o seu 160º aniversário. De resto, a estrutura de saúde da associação está de reserva para a eventualidade de ser requisitada para apoiar o Serviço Nacional de Saúde durante a pandemia de Covid-19, que já trouxe quebras acentuadas na facturação.
“A estrutura do Montepio está de reserva para a eventualidade de ser requisitado para dar um apoio de retaguarda ao Serviço Nacional de Saúde, disponibilizando algumas camas para doentes comuns”, disse João Marques Pereira, presidente da associação mutualista Montepio Rainha D. Leonor à Gazeta das Caldas.
“Os doentes com Coronavírus serão sempre tratados pelo SNS, nós eventualmente ficaremos a tratar os outros doentes que existam e que os hospitais possam não ter tempo e disponibilidade para tratar”, esclareceu o responsável.
Actualmente as consultas de especialidade estão todas suspensas, a gastroenterologia está suspensa e a clínica dentária também suspendeu a actividade, sendo que em ambas só se atendem urgências. “O que está, ainda, a funcionar é a imagiologia, mas praticamente só o TAC e o Raio-X”, contou João Marques Pereira. “As cirurgias foram todas suspensas, o internamento está a receber os chamados doentes comuns e temos a rede de cuidados continuados”, frisou.
Estas alterações têm tido impactos lógicos ao nível da facturação. Na Casa de Saúde do Montepio, que facturou no último ano 4,8 milhões de euros, nota-se “uma diminuição muito grande na facturação, por ventura na ordem dos 50% ou mais”. E ainda sem contas feitas, até porque estamos praticamente no início desta crise.
O responsável realça “a preocupação de manter todos os postos de trabalho”. “Temos muita gente em casa de férias e com licenças sem vencimento e outras situações de reserva”, nota João Marques Pereira, admitindo que em termos financeiros a casa de saúde está “a passar um mau bocado”. Contudo, o dirigente mostra-se optimista “que depois haverá possibilidade de recuperar” financeiramente.
A título de exemplo, das cerca de 800 pessoas que eram atendidas num dia normal, passou-se para cerca de metade.
FACTURAÇÃO ATINGIU OS 7,4 MILHÕES DE EUROS
Fundada a 11 de Março de 1860, a Associação Mutualista Montepio Rainha D. Leonor celebrou recentemente o seu 160º aniversário. Inspirada na rainha que fundou as Misericórdias e o Hospital Termal nas Caldas, a associação desenvolve a sua acção na área assistencial e social. O Montepio conta actualmente com cerca de 8000 associados e emprega mais de 220 trabalhadores, aos quais se acrescentam cerca de uma centena de médicos e outros técnicos que prestam serviços, apesar de não terem vínculo laboral.
Em 2016, a facturação era de 5 milhões de euros e no ano seguinte passou para os 6,5 milhões de euros. Esse valor subiu em 2018 para os 6,8 milhões de euros e no último ano voltou a subir para os 7,4 milhões de euros.
A estrutura de receitas assenta em três grandes pilares divididos em fatias semelhantes: o Serviço Nacional de Saúde e a ADSE, as companhias de seguros e os particulares. Cada um representava cerca de um terço das receitas totais, mas os particulares têm apresentado uma tendência de crescimento face às outras, principalmente devido às Residências Assistidas, que já representam receitas de 940 mil euros em serviços e cerca de 200 mil em rendas.
Inauguradas a 15 de Maio de 2011, são 93 fracções de apartamentos T0 e T1 com capacidade para 195 pessoas e com uma lavandaria e uma cozinha (onde se confeccionam 800 refeições diárias para todo o universo da associação).
A lotação está completamente esgotada, apesar de haver alguns apartamentos vazios, porque foram comprados, mas ainda não estão a ser utilizados pelos proprietários.
Também no centro de apoio a idosos a capacidade máxima, de 60 utentes, está atingida.
NOVO HOSPITAL MELHORA QUALIDADE DOS SERVIÇOS
O Montepio Rainha D. Leonor tem projectada a criação de um novo hospital nas Caldas, no edifício da antiga EDP. O imóvel foi adquirido no último ano, por 1,5 milhões de euros, e a construção implica um investimento de mais 3,6 milhões de euros. “Vai melhorar a qualidade do serviço prestado”, afirma João Marques Pereira. “Por exemplo, os internamentos vão ter outras condições e vamos ter mais diversificação, com mais consultas e de especialidades diferenciadas”, contou, acrescentando que os próprios “especialistas vão ter condições de trabalho que não têm agora”. Outro campo que deverá conhecer um aumento de qualidade com a mudança é a cirurgia, que será “mais actuante e diversificada, mas a melhoria vai ser em todos os sectores”.
O Montepio tem 26 especialidades e esse número deverá manter-se ou aumentar ligeiramente. “Já cobrimos o leque essencial das especialidades, mas algumas não têm grande significado, porque as condições não são as mais adequadas e isso desincentiva a procura. Quantitativamente não haverá grandes mudanças, qualitativamente sim”, expõe.
Inicialmente a ideia da administração era que o novo hospital fosse inaugurado no dia em que se celebrava o 160º aniversário. Tal não foi possível e neste momento não há uma data prevista. “A pandemia de Coronavírus veio intrometer mais factores acrescidos de dúvidas na calendarização, não sabemos quando é que isto vai parar e quais as sequelas. No fim vamos fazer contas e reequacionar todos os cronogramas”, explicou.
O antigo edifício da EDP tem uma vantagem: é que as separações que dividiam os gabinetes são facilmente removíveis, o que confere ao edifício sete pisos amplos e, portanto, uma grande flexibilidade para desenhar novos espaços.
O projecto inicial, da autoria do arquitecto Bruno Barata, prevê que no piso 1, metade do qual fica abaixo do nível do solo, funcionarão a imagiologia e a fisioterapia. No piso 2 serão instaladas as urgências, a clínica dentária e as consultas externas. O piso 3 contemplará a área de internamento, incluindo uma área de cuidados continuados. No piso 4, que, tal como os seguintes, é mais pequeno, dado que integra a torre central do edifício funcionará a farmácia e instalações do pessoal, no 5 a gastroenterologia e otorrinolaringologia, no 6 a zona administrativa e a direcção e no 7 o bloco operatório.
O edifício actual não será vendido nem alienado, prevendo-se que se mantenha como sede e como edifício institucional e museológico, com o espólio da associação.