Presidente da República presidiu na Fortaleza de Peniche à inauguração do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade com duas ministras
Os ex-presos políticos e familiares foram saudados por todos os que assistiram ao fim da manhã do passado sábado à inauguração oficial do Museu Nacional da Liberdade e da Resistência (MNRL) que está instalado na antiga cadeia política na Fortaleza de Peniche. A sessão de abertura decorreu de forma simbólica e emblemática no Pátio da Cisterna, outrora recreio dos detidos, ocorreu precisamente 50 anos depois da libertação dos últimos presos políticos, apenas possível dois dias depois da Revolução dos Cravos. Um marco que o Presidente da República se quis associar, tendo Marcelo Rebelo de Sousa percorrido todos os espaços que estão agora abertos ao público e, mostrando-se particularmente atento às explicações dadas pela diretora do museu Aida Rechena, quis saber ao pormenor como se processaram as fugas mais emblemáticas da antiga prisão do Estado Novo que foram protagonizadas por Dias Lourenço e por um grupo liderado por Álvaro Cunhal. “Infelizmente temos poucos monumentos que mostram que a ditadura existiu”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, mas registou que em Peniche “sem dúvida se percebeu que havia um símbolo único do que foi Portugal durante 48 anos”.
O Governo fez-se representar por duas ministras – Dalila Rodrigues (Cultura) e Rita Júdice (Justiça) – e ainda pela secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro. Dalila Rodrigues evidenciou os “muitos sentidos e significados” do novo museu, porque “é muitas coisas em simultâneo”, sendo que “é de liberdade e de direitos humanos que se trata”.
Pedro Sobrado, presidente da empresa estatal Museus e Monumentos de Portugal – que sucedeu à Direção-Geral do Património Cultural – destacou que este equipamento público só foi possível devido à “generosa colaboração” da Câmara Municipal de Peniche e garantiu que “antes de mais, este é um museu da cidade”. A antiga fortificação militar será uma praça aberta de entrada livre em todo o exterior, no parlatório (onde os presos recebiam visitas com uma divisória de vidro pelo meio), na cafetaria e na livraria ‘Resistência e Liberdade’. “Com esta livraria retribuímos ao Município de Peniche a sua generosidade, dotando a cidade de um espaço que já teve no passado e que hoje fazia falta”, frisou o responsável.
O presidente da Câmara Municipal de Peniche elogiou o empenho da diretora do MNRL, Aida Rechena, num dia de “particular importância e sensibilidade”, agradeceu publicamente a todos os antifascistas pela “luta e entrega das suas vidas para que Portugal pudesse ter acordado com a madrugada da liberdade em 25 de abril de 1974”, numa gratidão que estendeu aos militares que fizeram a Revolução dos Cravos. Henrique Bertino recordou também as lutas pelo povo de Peniche durante a ditadura, concretamente as greves dos pescadores da sardinha (1962, 1972 e 1973), “todas elas reivindicando melhores condições de trabalho e uma mais justa partilha dos rendimentos da pesca”. Quanto ao futuro, o autarca mostrou preocupação pelos recursos que “permitam com a maior brevidade possível a reabilitação do sistema amuralhado, particularmente na frente-mar”, que “exige medidas excecionais para defender a segurança da estrutura da Fortaleza de Peniche”.
As obras para a transformação do antigo presídio fascista em museu nacional, desenhadas pela equipa do arquiteto João Matos, teve também o acompanhamento do Comité Executivo que pensou e zelou pelo aparecimento deste espaço museológico, com especial destaque para os antigos presos políticos que também passaram por Peniche, os resistentes Domingos Abrantes e Fernando Rosas, que usaram da palavra. O financiamento dos trabalhos foi atribuído pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, cujas duas candidaturas aprovadas ascenderam a mais de 3,7 milhões de euros, canalizadas pelo Programa PT2020.
Na ocasião foi também apresentado o livro ’50 Anos da Libertação dos Presos Políticos em Portugal 1974-2024’ editado pela empresa pública Museus e Monumentos de Portugal. Numa edição simultânea em português e inglês, a obra contém o nome de todos os 2.626 presos políticos que passaram pela cadeia de Peniche e foi coordenado pela diretora do MNRL, Aida Rechena. ■