Natércia Tempero, o adeus à Câmara 46 anos depois

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Funcionária do município desde 1976, Natércia Tempero reformou-se a 28 de fevereiro

Trabalhou mais de 40 anos no serviço de Contabilidade, 23 dos quais também a dar apoio na Assembleia Municipal

Corria o ano de 1976. Natércia Tempero, então com 21 anos, com o curso complementar do liceu concluído e sem vontade de prosseguir estudos superiores, queria arranjar trabalho. Sabendo da vontade da filha, Fernando Colaço, então presidente da Junta dos Vidais, falou com o presidente da Comissão Administrativa, Ergildo Ferreira Velhinho, que lhe disse que precisavam de uma pessoa para o Parque de Campismo da Foz, durante os três meses de verão. A 1 de junho, Natércia Tempero começa a trabalhar no parque de campismo, localizado junto à Lagoa. Fazia as contas dos campistas e, ao fim de semana, apresentava o relatório ao encarregado do parque, José Alves. Este era, simultaneamente, o encarregado da limpeza da cidade que, contente com o trabalho da jovem, tecia-lhe elogios na Câmara. Como a secção de Contabilidade estava a precisar de uma pessoa, ela cumpriu apenas um mês de trabalho na Foz e, no auge do verão de 76, começa a trabalhar nos Paços do Concelho, que então se situavam junto à Praça da Fruta. Mais tarde, foi feito concurso e a funcionária permaneceu na Contabilidade. Entretanto houve eleições e passou a trabalhar com José Lalanda Ribeiro, depois Luís Paiva Sousa.
“Não me consigo esquecer do dia em que o Eng. Paiva e Sousa morreu (1981). Foi durante a manhã, perto da hora de almoço, estávamos a trabalhar e ouve-se a porta grande do edifício bater, ao fechar, aquele som ficou-me sempre na memória”, recorda à Gazeta das Caldas.
Natércia Tempero trabalhou com todos os presidentes de Câmara eleitos e realça que, embora com personalidades diferentes, foi sempre uma experiência enriquecedora.
Em fevereiro de 1998, para além das funções que desempenhava na Câmara, passou também a acompanhar os trabalhos da Assembleia Municipal, cabendo-lhe tratar de todo o expediente, desde a entrada da correspondência, senhas de presença e organização da pasta do presidente, com os documentos por ordem. “Com um cariz mais político, a pessoa tem de ser imparcial na maneira de trabalhar”, salienta a funcionária que, embora inicialmente tivesse declinado o convite, aludindo falta de tempo, acabaria por aceitar.
“Já conhecia grande parte dos deputados muito bem porque os presidentes de Junta iam muito à contabilidade receber os pagamentos, antes de serem feitos por transferência bancária”, recorda. A funcionária ficou a exercer funções durante mais de 20 anos e confessa que gostou. “As pessoas foram sempre muito simpáticas comigo”, diz, acrescentando que também sempre se deu bem com todos, da esquerda à direita. E, mesmo quando as assembleias terminavam às 2h00 da madrugada, no dia seguinte, às 9h00, já estava na Câmara a trabalhar.
Em 2004 é constituída a Associação de Desenvolvimento da Juventude, com o intuito de gerir o Centro da Juventude e foi convidada pelo então vereador Hugo Oliveira para ser tesoureira. Lá permaneceu durante oito anos, até que, em 2012, a legislação passa a impedir as associações subsidiadas pela autarquia tivessem funcionários a desempenhar funções.
Em 2008 é inaugurado o CCC e, com ele um novo desafio. A vereadora da Cultura e responsável pelo CCC queria uma pessoa de confiança na bilheteira e incentivou alguns funcionários a concorrer, como foi seu caso, e que acabaria por ficar, até hoje. “Interessei-me por ser uma área nova e por me permitir ver outras pessoas”, conta.
A dificuldade em dizer não aos convites levou a que em 2019 acedesse a integrar a direção do Centro Social e Paroquial dos Vidais, localidade de onde é natural e residente.
Natércia Tempero deixou as suas funções profissionais a 28 de fevereiro. Podia ter-se reformado em dezembro de 2020, quando faltava um ano para o mandato terminar, e não o fez atendendo aos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal. À Gazeta das Caldas reconhece que vai ter saudades. Na última Assembleia Municipal, o presidente da Câmara deixou-lhe o repto para que agora fosse assistir, o que deverá acontecer já na de 8 de março. Ao longo do seu percurso profissional, houve um momento recente que a marcou, quando foi homenageada, de surpresa, pelo então presidente, Tinta Ferreira, na cerimónia do 15 de Maio. “Foi uma coisa que nunca ninguém teve”, disse, emocionada. Já antes tinha sido agraciada pelos deputados municipais com um ramo de flores e um papiro em prata.
Agora reformada, Natércia Tempero não pretende descansar. Vai continuar a cuidar do jardim, a dar apoio no Centro Social, aproveitar o tempo livre e dedicar-se mais à família. ■