Nadadoras salvadoras são, na sua maioria, jovens estudantes do ensino superior
Na manhã de sexta-feira, 13 de agosto, o sol está escondido, num dia nublado. A praia da Lagoa na Foz do Arelho está longe de estar cheia, mas os olhos de Catarina Carvalho não prestam, por isso, menos atenção ao que se passa. A caldense, de 18 anos, tornou-se nadadora-salvadora há duas semanas. “Sou surfista e tenho uma relação muito forte com o mar e como tinha um colega a tirar o curso decidi tirar também”, contou à Gazeta.
Em época de exames escolares, admite, “não foi fácil conciliar” as atividades, mas no final ficou “muito feliz”, porque gosta “imenso” de desempenhar aquela função e ajudar a salvar vidas. Ela faz natação desde os 8 anos, “o que facilitou a tarefa”, mas, ainda assim, salienta a exigência da formação.
O dia começa às 9h00, com “o bom dia à Dona Ofélia” [Gomes], que há 35 anos aluga barracas na praia. Pouco depois, o posto de praia está montado e as bandeiras colocadas e a partir daí é vigiar os banhistas.
“Deste lado é mais descansado, em 15 dias fiz meio salvamento”, diz, em jeito de brincadeira, explicando que teve “apenas” que entrar na água uns três metros e trazer duas pessoas para a margem. Mas isso não quer dizer que o trabalho acabe. Há que alertar os banhistas de que não podem ter embarcações na zona concessionada, ou que não podem estender as toalhas na zona de passagem da moto4, por exemplo. Aí, nem sempre encontram do outro lado o entendimento e respeito que seria de esperar. “Nunca senti discriminação por ser mulher”, esclarece. São 19h30 e o dia termina, com o retirar da bandeira.
Filipe Vieira, da associação Oeste Rescue, explica que houve no passado casos de mulheres nadadoras-salvadoras na região, mas muito pontuais. A maior afluência deu-se na última década e para tal terá contribuído a abertura das forças armadas ao sexo feminino. Em termos formativos sente que geralmente na parte teórica as mulheres igualam ou superam os homens, mas no âmbito físico é necessária uma abordagem diferenciada. Na prática, elas “são uma mais-valia, porque têm uma sensibilidade que a maioria dos homens não têm tão vincada, tal como o trato com as crianças”.
Na praia de São Martinho do Porto a dupla das Marias vigia o areal. Maria Couto, de 20 anos, está pelo terceiro ano como nadadora-salvadora. Já Maria Margarido, de 19, estreou-se este ano. São ambas estudantes de enfermagem e assim conseguem conciliar um trabalho de verão com a atividade que querem seguir, nomeadamente a prestação de auxílio. Também elas nunca sentiram discriminação por serem mulheres, mas por serem jovens sim.
Maria Couto diz que a maioria das ocorrências nesta praia são na areia, nomeadamente, pessoas indispostas ou crianças perdidas. Segundo as nadadoras-salvadoras, o facto de estarem na praia e de poderem ajudar o próximo, mas também adquirir conhecimentos que poderão ser úteis no futuro são das melhores coisas da profissão.
As jovens planeiam voltar ao areal nos verões até terminarem os cursos e entrarem no mercado de trabalho. Entretanto, também aqui já é hora de retirar a bandeira, neste caso, às 20h00, já que é colocada às 10h00. ■