Hoje o centro nocturno das Caldas resume-se praticamente à Praça 5 de Outubro, mas durante muito tempo a realidade foi mais risonha e… divertida!. Nos anos 60 os caldenses passeavam-se pelo Parque, o Casino e a Praça da Fruta e em finais de 70 abriram as primeiras boîtes. Mas o grande “boom” de discotecas deu-se na década de 80: de Leiria a Torres Vedras contavam-se mais de 20.
Foram também anos dourados para o discosound e para os disco-jóqueis, reconhecidos na altura como verdadeiras vedetas. Contudo, nem tudo foram “rosas” e a droga e álcool roubaram algumas vidas, assim como os acidentes na antiga estrada da Foz.
Actualmente os jovens interrogam-se: “Onde vamos sair?”. É que existem poucos espaços com animação nocturna. Porém, naquele tempo, fazia-se a mesma pergunta, mas pelo motivo contrário: a oferta era tanta e tão diversificada que todas as noites podiam ser diferentes.
Estamos no princípio dos anos 80 e é sábado à noite. Não há telemóveis nem Internet nem redes sociais. Em casa, a programação dos dois canais da RTP atrai principalmente os mais adultos e em muitos lares a televisão ainda é a preto e branco. Há pouco entretenimento dentro de casa e para a juventude a animação está lá fora: nos cafés, nos bares e nas discotecas.
Nas Caldas, a Praça da Fruta é o ponto de encontro para miúdos e graúdos e por volta das 21h00 cafés como a Zaira, o Central e o Convívio começam a encher-se de grupos de amigos que ali iniciam a noite. À porta dos estabelecimentos é comum que se juntem cerca de 100 pessoas e quem não aparecer arrisca-se a ficar sem boleia para a próxima paragem. Um carro de cinco lugares costuma levar oito passageiros – é que as autoridades são mais transigentes e há menos operações policiais.
Sem precisar o ano – tendo em conta que alguns destes estabelecimentos foram fechando à medida que outros iam abrindo – é possível indicar os principais bares e discotecas que fizeram parte da rota festiva da maioria dos caldenses nos anos 70 e 80. Nas Caldas da Rainha as primeiras discotecas foram o Ferro Velho (Avenal) e o Inferno da Azenha (Quinta de Santo António).
O FERRO VELHO E O INÍCIO DAS DISCOTECAS
Jorge Sales inaugurou o Ferro Velho em Abril de 1972. “Tal como o Inferno da Azenha, o Ferro Velho chegou a funcionar nos anos 60, mas num regime particular e não oficializado. Como roubávamos clientela ao Casino [posteriormente Casa da Cultura e hoje apenas Céu de Vidro], este apresentou uma queixa denunciando que o Ferro Velho não estava legal”, conta o antigo proprietário. Nesta altura as mesas eram de madeira e os principais apontamentos decorativos, tanto no Ferro Velho como na Azenha, da autoria do mestre Ferreira da Silva. No bar não se servia mais do que vinho e chouriço assado.
Só em 1968 é que – o então dono Vasco Luís – abriu pela primeira vez ao público, mas o estabelecimento voltaria a fechar por ordem da Direcção Geral de Espectáculos porque só tinha uma casa de banho.
“Depois em 1972 eu e o Pedro Félix, que também trabalhava no aeroporto de Lisboa, decidimos que queríamos abrir uma discoteca. Tínhamos a hipótese do Ferro Velho ou do Inferno da Azenha e acabaríamos por optar pelo primeiro porque a renda era mais barata e pelo menos tinha uma casa de banho”, explica Jorge Sales, 80 anos. Passado pouco mais de um ano o sócio Pedro Félix venderia a sua cota a Alice Pimentel, esposa de Jorge.
Como Jorge Sales trabalhava de segunda a sexta-feira no aeroporto (era chefe das Informações da Direcção Geral de Turismo), o Ferro Velho só funcionava ao sábado, excepto em Agosto. “Era o meu mês de férias e por isso abria todos os dias”, revela o caldense, acrescentando que naqueles tempos as portas abriam logo às 22h00.
Antes dos clientes chegarem Jorge e Alice já tinham preparadas as sandes de pão caseiro e o gelo. Naquele tempo ainda não tinham sido inventadas as máquinas de fazer gelo, por isso este era preparado num frigorífico logo a partir de domingo.
Noites de Verão significavam casa cheia com mais de mil pessoas a dirigirem-se ao antigo celeiro do Avenal. Mesmo com a discoteca lotada não trabalhavam no Ferro Velho mais que três funcionários: o barman, o disco-jóquei e o porteiro. Jorge Sales nunca contratou seguranças. “Quem armava mais confusão eram os forcados, principalmente quando se juntavam grupos rivais. Cheguei a ter que pôr alguns na rua, mas as situações resolviam-se essencialmente falando”, lembra.
A cabine do DJ (que era a frente de uma carrinha pão-de-forma Volkswagen) ficava ao lado do bar precisamente para que o disco-jóquei pudesse dar uma mãozinha no serviço das bebidas (variava-se entre a Cuba Libre, a sangria, o Bacardi, o gin, a vodka laranja e o whisky). Nesta época a maioria dos DJs actuava exclusivamente numa discoteca e servia de importante chamariz aos clientes. Se estes mudavam de estabelecimento, o normal era que levassem consigo um grupo de pessoas que apreciava o seu gosto musical.
Como Jorge Sales viajava com frequência para Londres e para os Estados Unidos (as grandes capitais discográficas), trazia para Portugal discos que normalmente só estariam disponíveis um ano após o seu lançamento. Eis uma vantagem que colocava este espaço nocturno um passo à frente dos restantes.
Juntavam-se no Ferro Velho clientes de todas as idades: na pista de dança reuniam-se pais e filhos e não era estranho se os primeiros fossem para casa mais cedo e confiassem os seus rebentos ao casal proprietário. “Cheguei a levar muitos deles a casa, já depois de encerrar a discoteca. Mas essa confiança também só existia porque o Ferro Velho tinha um ambiente muito familiar”, diz Jorge Sales.
Para o antigo proprietário “o Ferro Velho foi um marco porque simbolizou o arranque das discotecas na região. Passados cinco anos começaram a abrir muitos espaços num raio de 50 quilómetros. Foi quando eu decidi fechar, em 1983”. Jorge Sales dá conta que a partir desse ano as discotecas tornaram-se muito profissionalizadas, com um nível de organização e promoção bastante avançado. Para não falar da fiscalização que se tornou mais rigorosa. “Tive que optar e a verdade é que aquela não era minha vocação. Eu tinha o Ferro Velho mais numa onda para estar com os amigos”, realça.
Ainda nos anos 80 havia nas Caldas o Queens (Rua Heróis da Grande Guerra) e as suas famosas matinés às quartas-feiras: neste dia os alunos da “Técnica” e do “Liceu” tinham a tarde livre e como a maioria ainda não estava autorizada a sair à noite, aproveitava as festas durante o dia para conviver. Onde hoje fica o Hotel Cristal encontrava-se a Aguarela, uma discoteca que na altura pertencia ao Hotel Malhoa e, pelo facto de Raul Solnado ser um dos sócios-gerentes, era frequentada por vedetas e artistas.
“CAMINHO DA MORTE” PARA A FOZ
O Café Tabaco foi das primeiras casas a abrir na Foz do Arelho. Passados dois anos surgiu a Green Hill, depois a Dreamers, o Solar da Paz e o Sítio da Várzea. Em plenos anos 80 a Foz do Arelho era ponto de paragem obrigatório para milhares de pessoas que vinham não só das Caldas, mas também da Benedita, Rio Maior, Bombarral, Torres Vedras, Santarém e até de Lisboa. Ainda assim, ir para a Foz era um risco.
“Todos os sábados sabíamos que ia morrer alguém vítima de um acidente rodoviário na antiga estrada da Foz. As árvores estavam muito próximas da via, não havia rotundas e as lombas eram altíssimas. A curva mais terrível ficava à entrada da Fábrica do Sabão”, recorda Paulo Caiado, autor do blogue adolescenciacaldasanos70e80.blogspot.pt (Eu Gozei a Minha Adolescência nas Caldas da Rainha nos Anos 70 e 80).
“Estrada da Morte”: assim era apelidado o caminho para a Foz, onde inclusive foram colocados cartazes com mensagens de aviso e carros destruídos que ali haviam sofrido acidentes de forma a sensibilizar os condutores para o perigo. “É verdade que alguns conduziam alcoolizados e outros sem carta, mas as más condições da via e o excesso de velocidade eram as principais causas dos acidentes”, explica Paulo Caiado.
Jorge Constantino abriu o Café Tabaco em 1978. O nome foi inspirado nos estabelecimentos franceses que vendiam tabaco e adoptavam essa mesma designação. Como Jorge vendia as principais marcas de cigarros no seu bar, decidiu que o nome Café Tabaco lhe assentaria que nem uma luva. Entre as marcas mais vendidas o antigo proprietário destaca a SG (gamas Ventil, Filtro e Gigante), assegurando que a Marlboro não estava acessível à maioria dos clientes.
Durante quatro anos o Café Tabaco foi também mercearia e tinha apenas nove bancos ao balcão. O espaço era tão pequeno que muitos dos clientes se juntavam à porta. Chegavam aos 50. Em 1982 Jorge Constantino decidiu abrir um café maior, reaproveitando uma antiga adega que ali ficava a cerca de dez metros. O novo Tabaco tinha capacidade para 200 pessoas e recebia com frequência espectáculos de música ao vivo.
Embora o café só tivesse licença até às duas da manhã, raramente se fechavam as portas a essa hora. “Só lá para as seis ou sete da manhã é que as pessoas começavam a ir-se embora. Era normal que aparecesse a Guarda e lá tinha eu que pagar mais uma multa”, revela Jorge Constantino, 73 anos, acrescentando que às vezes os clientes ajudavam a pagar as coimas.
No Tabaco reuniam-se tanto homens como mulheres, tanto o “rico” como o “pobre”, o estudante e o trabalhador, o advogado e o operário. Jorge confiava tanto nalguns dos seus clientes ao ponto de ir para casa dormir e deixar-lhes a chave do café. Estes prometiam-lhe que assentavam as bebidas que consumissem e que lhe pagavam depois. Segundo o antigo proprietário, nenhum deles ficou a dever-lhe.
“Cheguei a já estar deitado e ouvir uma pedrinha na minha janela. Era um cliente que queria que eu abrisse o café para que pudesse comer qualquer coisa…”, recorda Jorge Constantino. Normalmente era Cila, a sua esposa, quem se responsabilizava pelos petiscos. “Às vezes pediam-lhe um bacalhau com batatas e ela largava a música e ia para a cozinha. Mas as nossas tostas também eram famosas, chamavam-lhes de cozido à portuguesa por serem muito grandes e bem aviadas!”, conta, destacando ainda os batidos de fruta e os hambúrgueres.
E não é que a Green Hill nasceu dentro do Café Tabaco? Quem o assegura é Jorge Constantino, relembrando que Luís Romão vinha muitas vezes tomar um copo ao seu bar depois do trabalho no Lagoa Bar, propriedade do pai da esposa, José Félix. “Foi ali em conversa que ele comentava que muita gente começava a frequentar a Foz e que o terreno do sogro (que na altura era uma pecuária) seria um bom local para construir uma discoteca. E assim o fez”, lembra.
Quando abriu, por sua conta, o Solar da Paz, Jorge encerrou o Café Tabaco. Corria o ano de 1986 e tornou-se inconciliável manter as duas casas abertas tal era a dose de trabalho.Inicialmente o Solar funcionava como restaurante, mas rapidamente passou exclusivamente a bar-discoteca. Na altura o investimento no novo estabelecimento foi de 8000 contos (quase 40.000 euros). “Não tinha esse dinheiro todo, emprestaram-me”, realça.
De terça-feira ao domingo o Solar abria às 15h00 e toda a família de Jorge Constantino ajudava no serviço. A cabine do disco-jóquei pertencia à Cila, que ainda hoje é recordada pelo seu bom gosto musical. A esposa de Jorge foi uma DJ de sucesso por mais de 20 anos, embora não dominasse perfeitamente as técnicas de passagem nem trabalhasse com os aparelhos mais modernos. Cila chegou mesmo a ser convidada para actuar em bares da capital.
O casal deixou a discoteca em 2005 e a partir desse ano Jorge Constantino foi mantendo o espaço alugado. O último Verão do Solar da Paz data de 2011. “Nas duas vezes que arrendei as pessoas só me pagaram metade, por isso agora só alugo se me pagarem um ano adiantado. Na minha altura tanto o Tabaco como o Solar foram bons negócios, mas isso também só aconteceu porque trabalhávamos muito. Sempre disse às novas gerências para abrirem logo à tardinha, caso contrário só da meia noite às seis da manhã não rende”, afirma.
OS CONCURSOS DE MISSES NA DREAMERS
Em 1984, dois anos antes da abertura do Solar, Domingos Matos (Ranhadas) inaugurava a Dreamers, uma discoteca que ficava virada para o mar e onde mais recentemente funcionava o restaurante Adamastor. O mesmo gerente foi o responsável pelo nascimento da Bonnie & Clyde em São Martinho do Porto (já lá vamos).
A Dreamers tinha capacidade para cerca de mil pessoas e era o espaço ideal – ao contrário da Bonnie – para organizar eventos maiores. Passagens de modelos e concertos foram dois marcos desta discoteca.
Como os espectáculos de música ao vivo implicavam um grande investimento (às vezes quase 400 contos, ou seja, 2000 euros), Domingos Matos deixou de promovê-los. Chegaram a actuar na Dreamers António Rios (nacionalmente conhecido pelas suas actuações de revivalismo da música dos anos 60) e Paco Bandeira.
Já os concursos de misses só eram concretizáveis porque Ranhadas contava com a ajuda de muitos amigos. “Só pagava a publicidade. De resto a malta entreajudava-se, desde as lojas de vestuário e calçado que participavam no evento, até ao fotógrafo Valter Vinagre e à equipa de cabeleireiros… nenhum deles cobrava. No final pagava um jantar a todos”, garante o antigo gerente.
Para surpreender a clientela, Domingos Matos organizava frequentemente sorteios de televisões a cores, leitores de CD e aparelhagens de som. Dispunha-os em pirâmide, de forma a espectacularizar o concurso. O prémio só era anunciado por volta das três da manhã para que as pessoas permanecessem mais tempo na discoteca.
Embora a concorrência fosse acesa, Ranhadas frisa que “nos anos 80 ninguém se queixava porque havia público para todos”. Bons tempos, recorda, realçando que naquela altura os clientes bebiam mais, não só porque havia maior poder de compra, mas também porque havia muito menos controlo do álcool nas estradas.
PUBLICIDADE FAZIA-SE PELO BOCA A BOCA
A maior parte dos estabelecimentos nocturnos fazia publicidade através de cartazes ou papéis A4 afixados nas próprias discotecas. Geralmente anunciavam-se os grupos musicais que iriam dar os próximos concertos. Depois o passa a palavra fazia o resto.
Domingos Matos foi dos gerentes mais inovadores da década de 80 e tinha por estratégia espreitar a concorrência para não lhe ficar um passo atrás. Por exemplo, foi dos primeiros a fazer publicidade com uma Asa Delta que percorria cerca de 80 quilómetros de costa (de Sintra à Figueira da Foz) com uma faixa que fazia a divulgação do programa de festas da Dreamers. Ranhadas chegou mesmo a largar panfletos nas praias, mas as autoridades proibiram-no porque a acção poluía o areal.
Nas viagens que fazia para Ibiza e sul de Espanha o empresário retirava ideias. “Eles estavam muito mais avançados que nós, mas mesmo assim dava para aplicar algumas coisas à realidade portuguesa”, conta, destacando, já nessa altura, o papel dos relações públicas. Claro está que tanto na Dreamers como na Bonnie quem desempenhava essa função eram os empregados de balcão. Estes deveriam ser pessoas influentes e bem parecidas: os primeiros funcionários de Ranhadas trabalhavam todos na Zaira, um dos cafés mais populares das Caldas.
Introduziu-se mais tarde o ficheiro do cliente (escrito à mão) e começaram a enviar-se cartas com convites e postais de parabéns personalizados. Atenção: neste tempo não havia correio electrónico. O primeiro computador de Domingos Matos tinha apenas 720 KB de memória, mas já permitia fazer as etiquetas para os envelopes e registar as bebidas que mais se vendiam. Nesta época era comum que os clientes comprassem uma garrafa de bebida (especialmente whisky) que tinham na prateleira com o seu nome para gastar ao longo do tempo que durasse.
“IAM A PÉ PELA LINHA DO COMBOIO”
Em Maio de 1981 Domingos Matos e António Monteiro abrem a Bonnie & Clyde. Como na altura as únicas casas de referência eram o Ferro Velho e o Inferno da Azenha e São Martinho do Porto tinha muito movimento durante o Verão, os dois amigos decidiram que aquela vila seria o local ideal para montar uma discoteca.
“Antigamente as férias de Verão começavam em Maio e só terminavam em Outubro. Vinham para São Martinho muitas famílias endinheiradas de Lisboa e muitos estrangeiros”, conta Ranhadas, salientando que a Bonnie nasceu como um espaço mais moderno e requintado que as discotecas da Quinta de Santo António e do Avenal. Destacam-se os apontamentos em veludo, as paredes com espelhos, um espaço VIP e um varandim no primeiro andar onde os jovens aproveitavam para namorar.
Ainda hoje as quintas-feiras da Bonnie são recordadas como o dia da semana em que se reuniam na discoteca pessoas mais velhas, na sua maioria professores. Aos domingos organizavam-se matinés para a juventude.
Principalmente os mais novos deslocavam-se até São Martinho de comboio, aguardando depois até às seis e tal da manhã, hora a que passava a primeira circulação descendente do dia. Aproveitavam e compravam pão para confortar o estômago, muitas vezes maltratado pelo excesso de álcool durante a noite, enquanto esperavam. Também havia quem fizesse o percurso Caldas – São Martinho a pé, seguindo sempre pela linha do comboio, ou então quem resolvesse dormir nas barracas da praia. Ou simplesmente se deixasse adormecer…
Inicialmente Domingos Matos cobrava 50 escudos de entrada (25 cêntimos), mas depois adoptou o método do consumo mínimo. Trabalhava-se à porta fechada com um porteiro que era responsável pela admissão dos clientes.
Hoje a discoteca ainda pertence a Ranhadas, mas encontra-se encerrada, abrindo apenas pontualmente.
OS CONCERTOS DE ROCK PINK PANTHER
Curiosamente, enquanto a Bonnie & Clyde apostava num estilo musical mais suave – funk, discosound e reggae – em São Martinho surgiu outro espaço que ficou conhecido pela sua sonoridade mais pesada: a Pink Panther.
Para Paulo Vaz, 57 anos, esta discoteca é das que lhe traz melhores recordações. “Inicialmente a Pink Panther era mal rotulada e associada à droga. Muitos criticaram o facto de terem contratado disco-jóqueis residentes noutras casas, outros o de organizarem concertos rock. Tanto uma coisa como outra não eram comuns nas discotecas da altura”, refere o caldense. Bandas como os Street Kids estrearam-se ao vivo na Pink Panther e muitas entrevistas do jornalista Luís Filipe Barros para o programa Rock em Stock da rádio Comercial foram feitas a artistas que ali actuaram. Segundo conta Paulo Vaz, só existiam em Portugal cinco discotecas que passavam música exclusivamente rock. Pink Panther era uma delas.
Ainda em São Martinho havia o Feelings e em Salir do Porto a Snoopy e os Apartamentos. Em Alcobaça é de recordar a Sunset, a Princess e o Moinho, na Nazaré o Jeans Rouge, em Meirinhas a Kyay e em Leiria o Eurosol (e a sua famosa abertura de pista com raios laser).
CIRCUITO DAS BANDAS PASSAVA PELO BADANAITE
A noite também passava por Óbidos e para lá da vila: Discoteca Ruby (Bombarral), Túnel (Torres Vedras), ou Horta da Fonte (Cartaxo). O percurso entre muralhas incluía o veterano Ibn Errik Rex (também conhecido por Ginjinha do Montez, fundado por este coleccionador de antiguidades dos anos 60), a Estalagem do Convento com a sua boîte na cave, as festas do Marinho, a Cave do Vale, a Biquinha e a D’Ayala. A partir de 1987 o Badanaite entrou no roteiro e Jorge Pimenta foi o responsável.
Joca Pimenta já actuava como disco-jóquei há sete anos quando abriu o seu próprio espaço. “Naquele tempo os DJs tinham alguma influência e quando transitavam de discoteca levavam atrás de si um grupo de pessoas. Inicialmente o Badanaite começou a ser frequentado por essas mesmas pessoas que apreciavam o meu trabalho”, conta.
O nome “Badanaite” faz referência à alcunha com que Jorge Pimenta foi baptizado nos Estados Unidos: chamavam-lhe o “Bue The Night” por normalmente se deitar tarde.
Inicialmente a área da discoteca não ultrapassava os 100 metros quadrados, sendo o espaço maioritariamente ocupado por mesas e cadeiras. Se os clientes queriam dançar, afastavam a mobília. Depois das obras de ampliação o bar ficou com capacidade para mil pessoas e passou a incluir um palco, uma zona de jogos e uma pista de dança. A decoração inicial assemelhava-se às dos típicos bares sevilhanos inspirados na tradição taurina. Também se serviam petiscos, como caldo verde e chouriço, e vendia-se vinho de garrafa.
Às quintas-feiras actuavam os melhores músicos. “Passaram pelo Badanaite as melhores bandas nacionais da altura, desde Luís Represas, Rui Veloso, Paulo Gonzo, Mariza ou os Excesso. Muitos artistas também lá lançaram os seus discos”, recorda Jorge Pimenta, referindo-se a nomes como Fúria do Açúcar, Pedro e os Apóstolos e Dulce Pontes. É que “naquela época era comum os grupos actuarem nos bares, pois assim testavam o primeiro contacto com o público. Como Óbidos estava perto de Lisboa, também entrava no circuito”, refere o proprietário que na altura trabalhava na editora Polygram, o que também facilitava o acesso aos músicos.
Faz 10 anos que o Badanaite fechou definitivamente, embora esteja licenciado e possa reabrir em qualquer altura. A decisão de encerrar as portas prendeu-se com motivos pessoais. “Tive dois filhos e precisava de tempo para eles”, conta Jorge Pimenta, salientando que com o passar dos anos a legislação se tornou cada vez mais burocrática. “A lei estava sempre a mudar e por isso era complicado manter um estabelecimento que cumprisse todos os requisitos. Lembro-me de passar a ser obrigatório assinalar as saídas de emergência e ter um sistema de exaustão para o fumo”.
Os melhores anos do Badanaite coincidiram com os anos em que o Oeste era rotulado como um dos principais centros de diversão nocturna do país. Agora, passados 20 anos, “há tudo em todo o lado, mas deixou de haver nas Caldas”, nota Joca Pimenta.
A ERA DO DISCOSOUND
O rock dos anos 70 foi sendo substituído por sonoridades mais ligeiras e comerciais. Na década de 80 a música latina, o discosound e o funk ganharam popularidade e as pessoas deixaram de dançar de olhos fechados imitando os movimentos de um guitarrista. Os sorrisos passaram a estar autorizados na pista de dança e a boa disposição era bem-vinda.
“A música tornou-me mais alegre e menos agressiva”, esclarece Joca Pimenta, que se iniciou aos 16 anos como disco-jóquei no Ferro Velho, passando também pela Bonnie & Clyde, Queens, Inferno da Azenha, Green Hill e Aguarela. Desta última discoteca o DJ guarda os conselhos de Raul Solnado, na altura um dos proprietários do Hotel Malhoa: “numa das noites, por volta das quatro da manhã, a pista estava ao rubro e ele disse-me que estava na hora de encerrar porque um espectáculo deve terminar em grande para criar nas pessoas o desejo de voltar”.
Em primeiro lugar estava o bom gosto musical do disco-jóquei, para segundo plano ficava a sua qualidade técnica. A prioridade era animar a malta e não alimentar o ego do DJ. “Nunca tive vergonha em meter qualquer tipo de música. Bastava-me saber que as pessoas gostavam daquele disco que já tinha motivo suficiente para o pôr a tocar”, explica Joca Pimenta.
Quando o fenómeno das discotecas disparou existia bastante competição entre os disco-jóqueis. É que os discos não estavam acessíveis ao virar da esquina nem a informação se encontrava disponível à distância de um clique. Pelo contrário. A música mais recente estava em Inglaterra, nos Estados Unidos, França e Espanha. A Billboard e a Música & Som eram das revistas mais procuradas pelos disco-jóqueis para obterem informação sobre as últimas tendências no panorama musical.
“Sempre que víamos um colega a entrar na discoteca baixávamos a luz da cabine, para que este não conseguisse ler o nome do disco”, revela o proprietário do Badanaite, salientando que, com o avançar dos anos, a rivalidade deu lugar à interajuda e cooperação.
Gabriel Fernandes – DJ Gabi – começou em 1982, quando ainda se trabalhava com mesas de mistura que não tinham sequer entrada para os auscultadores. Com 15 anos estreou-se na Bonnie & Clyde, seguindo depois para a Octopussy (Peniche), Dreamers, Green Hill (onde se manteve como residente por uma década), Casa da Música (Óbidos), Rock’s Café (Caldas da Rainha) e Solar da Paz.
“Naquele tempo poucas casas tinham cabines com boas condições e ainda se acertava a passagem de uma música para outra misturando com os dedos”, explica Gabriel Fernandes, adiantando que as discotecas abriam por volta das 22h00 com música ambiente. À meia noite dava-se a abertura da pista com discosound, seguindo-se pop, reggae e finalmente o rock. Os slows protagonizavam os momentos mais aguardados da noite. Paulo Caiado descreve-os como o estilo musical ideal para namorar.
“Os slows eram músicas lentas que se dançavam agarradas e uma forma disfarçada de levar uma tampa porque se a rapariga negava o pedido para a dança também significava que não queria namorar connosco. Basicamente o convite para um slow era menos arriscado que um pedido de namoro”, conta.
Mas um slow também tinha a sua dose de ciência: “tinha de ser uma canção de amor lamechas e não bastava ter um tempo lento, propiciando o arrastamento de pés; a temática também devia ser propícia às carícias na face, ao correr dos lábios pelas orelhas, nuca ou pescoço e ao deslizar das mãos”, escreve Paulo Caiado no seu blogue.
As décadas de 80 e 90 foram anos dourados para os DJs, que na altura ganhavam mais do que muitos pais de família. Aos 15 anos, Gabriel Fernandes recebia 500 escudos por noite e como trabalhava de quarta-feira a domingo amealhava cerca de 10 contos por mês (50 euros). “Não há dúvida que era uma profissão bem paga e muito reconhecida, tanto que influenciávamos estilos e modas”, comenta o DJ Gabi, 49 anos, para quem a Green Hill continua a ser discoteca que mais marcou a noite oestina. Não só pelos 30 anos em que se manteve aberta, mas também por todas as gerações que atravessou.
Por mais estranho que pareça às novas gerações, nos anos 80 as discotecas tinham empregados de mesa que andavam de tabuleiro na mão a atender os clientes que se sentavam às mesas. Isto porque a música não era posta tão alta e as pessoas conversavam mais. As bolas de espelhos eram colocadas ao centro da pista e inicialmente só existiam projectores de luz branca (o efeito das cores era obtido através de micas de várias cores colocadas à sua frente). Só mais tarde apareceram os rotativos. A evolução dos aparelhos de luz foi tão significativa que depois surgiram os light-joquéis.
ANOS NEGROS POR CULPA DA DROGA
“A seguir ao 25 de Abril, com as pessoas que vinham de África, começaram a chegar as drogas leves”, afirma Paulo Caiado, acrescentando que as substâncias circulavam nas escolas, mas sobretudo no Parque. “Especialmente para os rapazes foi uma fase muito complicada porque começavam com os charros e daí derivavam para drogas mais fortes”, salienta. Entre as raparigas, “os gajos com mais pinta eram os mauzões, precisamente aqueles que consumiam”. Algumas que os namoraram também acabaram viciadas.
Gabriel Fernandes conta que viu muitas vezes passar droga em frente à cabine onde misturava os discos. Ser disco-jóquei era uma profissão de risco. “Era preciso ter boas amizades, uma estrutura familiar estável e uma mentalidade muito forte para conseguir dizer não”, diz o DJ, relembrando aquelas pessoas que cumprimentava no dia-a-dia e que depois se transformavam noutros indivíduos assim que consumiam.
Anos negros. É assim que Paulo Vaz recorda aquela época, notando, contudo, “que nas Caldas o cenário não foi tão mau como noutros pontos do país porque existiam grandes grupos de amigos e as drogas penetram mais facilmente nos pequenos. Como se houvesse uma espécie de pressão do amigo que denunciaria aquela situação”. Além disso, sublinha, havia uma boa relação entre a sociedade caldense e a polícia – preservava-se a proximidade em lugar da repressão – o que terá contribuído para que a droga não levasse a melhor em alguns casos.
Mas não era só neste ponto que as Caldas se distinguia de outras capitais nocturnas. Aqui sair à noite ficava muito mais barato que noutras cidades e também aqui a democratização dos espaços chegou mais cedo. “Nos anos 80 nota-se uma transformação nos cafés, bares e discotecas, que passaram a receber pessoas de todas as classes sociais sem discriminação. Havia respeito entre todos”, revela Paulo Vaz.
Para Paulo Caiado as discotecas foram sinónimo de liberdade e alegria e o sítio onde se fizeram escolhas que se revelaram determinantes no futuro. “Foi nas discotecas que aprendemos o que estava certo e errado, como nos deveríamos comportar com outras pessoas e ganhámos o respeito pelas mulheres. Foi onde crescemos e decidimos o caminho que queríamos seguir: dizer sim ou não ao álcool e às drogas”.
Dos anos 80 o caldense também não esquece os jeans com remendos ou as calças de bombazina que eram moda entre os rapazes, ou as botas de cano alto e os jeans que estreitavam até ao pé no caso das raparigas. Eles não prescindiam das suas fragrâncias Água Brava e Paco Rabanne, elas cheiravam todas a Eau Jeune. No final da noite não havia perfume que disfarçasse o cheiro a tabaco e suor: é que era permitido fumar dentro das discotecas e não estavam ainda instalados equipamentos de extração de fumo.
Antes de regressarem a casa, muitos noctívagos faziam mais uma paragem para tomar o pequeno almoço. O Oásis, a Padaria Teixeira, a Padaria do Beco e o Café Rosa estavam entre os eleitos. Em especial o Óasis tinha a particularidade de funcionar 24 horas por dia e reunir àquela hora da manhã operários das fábricas, camionistas e pessoal que chegava da festa.
Enquanto uns diziam “bom dia”, para outros ainda era “boa noite”. “Os desacatos só aconteciam quando não havia respeito e as pessoas eram mal educadas, caso contrário aquilo até corria bem e se fosse preciso pagávamos um copo de aguardente aos trabalhadores. Não nos podíamos esquecer que às vezes o que gastávamos numa noite eles ganhavam numa semana”, conta Paulo Caiado.
Os sótãos antes das discotecas
As discotecas, inicialmente conhecidas por “boîtes”, não eram o primeiro local de diversão frequentado pelos jovens. Antes de atingirem os 16 anos, os mais novos encontravam formas alternativas para fazerem a festa. As garagens e os sótãos serviam de remédio, assim como os convívios organizados pelas escolas. O curioso é que nos eventos realizados pelo “Liceu” os alunos da Escola Comercial não eram bem-vindos e ao contrário verificava-se a mesma recusa.
A rivalidade entre escolas estendia-se à rivalidade entre o centro da cidade e o Bairro da Ponte. “O Sotão dos Crepos era frequentado pelos queques, assim nos chamavam, e o da Manjedoura pelos amigos do grupo SAPEC- BX (Sociedade Anónima dos Polidores de Esquinas Caldenses – Bairro Xangai) que pertencia ao Bairro da Ponte”, comenta Paulo Caiado. Só mais tarde o Sótão do Kiko, na Rua do Parque, conseguiu reunir no mesmo espaço os dois grupos rivais.
Discotecas improvisadas, os sótãos eram decorados com sofás, bolas de espelhos, posters e até se arranjavam cabines de DJs com gira-discos. Inclusivamente vendiam-se bebidas.
O bar Xadrez resistiu e persistiu durante 35 anos
No dia em que assinalou o seu 35º aniversário (9 de Abril), o Xadrez abriu as portas pela última vez. A festa de encerramento contou com casa cheia, cerca de 500 pessoas – entre novos amigos e antigos clientes – que se quiseram despedir do bar que durante mais de três décadas foi uma referência da cidade.
“Saímos em grande”, afirma o proprietário João Duarte, explicando o fecho por “o pouco movimento já não justificar o sacrifício”. “Foram muitos anos de noite e desgaste, muitos copos bebidos que só se beberam porque se estava a trabalhar, muitos cigarros fumados e muitas horas de sono perdidas”, acrescenta a esposa Fátima Duarte, adiantando que o próximo objectivo será alugar ou vender o imóvel.
Na primeira decoração do Xadrez destacavam-se os espelhos, os apontamentos em veludo, os sofás e os padrões axadrezados. Havia mais lugares sentados do que em pé e o bar abria logo a seguir ao almoço até às quatro ou cinco da manhã. Frequentado por vendedores de automóveis, bancários ou trabalhadores da construção civil, o Xadrez era o local escolhido para muitas reuniões de negócios. Inicialmente a maioria dos clientes era homem e 90% tinha uma garrafa de whisky reservada. João Duarte chegou a guardar nas prateleiras mais de 400 garrafas exclusivas.
Jorge Galeão, um dos clientes mais antigos do bar que marcou presença na festa de encerramento, lembra-se que o número da sua garrafa era o 110. O bancário conta à Gazeta das Caldas que o Xadrez fazia parte da sua rotina diária e que contribuiu para tornar inesquecíveis muitas das suas noites de juventude. “A seguir ao trabalho, por volta das seis, passava pelo bar e muitas vezes depois do jantar voltava para beber mais um copo”, afirma, acrescentando que é “triste ver um dos melhores bares das Caldas fechar, após tantos anos como uma referência na cidade”.
Para acompanhar a evolução dos tempos, João Duarte remodelou o bar por quatro vezes, tornando-o mais amplo e criando uma pista de dança. O Xadrez chegou a ser palco para espectáculos ao vivo e noites de karaoke. As festas de Carnaval e de aniversário são recordadas como as de maior sucesso.
Nos dias de maior movimento João Duarte contava com a ajuda de cinco funcionários, mas nas noites mais fracas, com menos de 15 clientes, bastava-lhe a sua presença e a do porteiro. “Foram 35 anos e nem sempre o negócio correu bem. Vários factores contribuíram para isso, desde a diminuição do poder de compra à mudança dos hábitos das pessoas, que hoje não convivem como antigamente porque existem outras formas de comunicação”, revelou o proprietário.
Após 40 anos casados mas sempre a trabalhar com horários opostos – ele de noite, ela de dia – João e Fátima Duarte prometem que irão aproveitar o tempo que agora ganharam para “voltar a namorar”.
A062 marcou as Caldas nos anos 90
Octávio Nunes, Luísa Fernandes, Pedro Falcão, João Paulo Feliciano e João Bernardes juntaram-se em meados dos anos 90 para criar a A062 – Artes e Comunicação. A associação adoptou para nome o antigo indicativo telefónico das Caldas (062) e foi criada oficialmente em 1996.
Curiosamente, a A062 surgiu “porque houve uma exposição bienal na Expoeste e o Pedro Falcão e o Pedro Bernardo quiseram participar com uma mostra de fotografia. Juntos foram à Câmara pedir alguns apoios, mas disseram-lhes que era mais fácil se houvesse alguma associação ou estrutura a quem pudessem passar os recibos”, conta Octávio Nunes, 48 anos. Entretanto, como a Dreamers fechou, terminaram os concertos que ali eram organizados e “a malta sentia falta de bons espectáculos”.
Eis que surgem os concertos no auditório GAT (localizado junto ao Parque) e um conceito inovador para a altura: “normalmente as bandas nunca tocavam com os decibéis adequados ao tamanho das salas, o que tornava as actuações muito barulhentas. Aquilo que tentámos fazer foi precisamente pôr bandas a tocar com boas condições acústicas, pedindo-lhes que adaptassem versões das suas músicas à sonoridade daquele espaço”, revela Octávio Nunes, salientando que tanto os músicos como o público actuavam e assistiam sentados. Um aspecto um tanto raro nos concertos de rock daquele tempo. A A062 chegou depois a organizar o “Super GAT”, uma edição em que se convidaram seis bandas para gravar um CD.
Durante esse período exista nas Caldas uma espécie de “viveiro” de bandas locais. “Surgiam muitos grupos e o mais engraçado é que ir tocar ao GAT era uma espécie de consagração para as bandas porque a sala estava sempre cheia”, afirma o co-fundador que tocava nos Red Beans.
Além da vertente musical, a A062 também se caracterizava pela sua aposta na área das artes plásticas, design e fotografia. Pedro Falcão era responsável por convidar artistas a expor – na altura nomes desconhecidos, hoje referências na arte contemporânea – e criou a secção Art Attack, aquela que resistiu por mais anos na associação. Outro dos seus projectos foi o Slow Motion, que decorria na ESAD e reunia filmes de artistas consagrados. Foi também editada uma revista da associação (semelhante a uma Fanzine) cuja tiragem rondava os 200 exemplares.
De 1999 a 2001 realizaram-se mais de 30 eventos da A062, entre os concertos no GAT e as iniciativas do Art Attack e Slow Motion.
A A062 vivia de apoios do IPJ e da Câmara, mas subsistia essencialmente graças a uma gestão inteligente de poucos recursos. O dinheiro amealhado nos concertos era uma importante fonte de receita e é de registar que nenhum dos espectáculos no GAT deu prejuízo.
A antiga Fábrica das Calças chegou a funcionar como sede da associação e a fazer parte de um projecto que pretendia transformar aquele espaço num estúdio de gravação áudio e vídeo. A ideia não chegou a concretizar-se porque os fundadores acabariam por passar as pastas a outras pessoas.
Após um interregno de quatro anos, a A062 ressurgiu pela mão de apoiantes e seguidores da organização inicial, chegando a organizar uma série de iniciativas entre 2011 e 2013. Actualmente encontra-se novamente em standby.
Durante os anos 90 a A062 foi uma importante catapulta às actividades culturais que se realizaram nas Caldas, fazendo desta cidade uma referência na vertente musical e das artes plásticas.
Só para lembrar que a Lourinhã faz parte da zona oeste e tinha uma das mais famosas discotecas , que abriu em 1976 o Animatógrafo, lançando o músico na foto Nelo de Carvalho na zona oeste.
Nos anos 80 em Santa Cruz existia uma grande discoteca o Casino Velho, quem se lembra?