“Nunca houve tanta juventude…como agora”

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Escrever sobre Jovens e Juventude nos dias de hoje, vem-me à memória as palavras do poeta Walt Whitman que dizia que “Nunca houve tanta Juventude ou experiência como agora” depois de dizer que “Nunca houve tanta iniciativa como agora”

Os jovens com quem me cabe trabalhar são aqueles que conjuntamente com as características próprias da Idade são vítimas dos rótulos do grupo social em que vivem. Estes rótulos em vez de ajudarem são muitas vezes formas de estigmatização que em nada os ajudam a serem considerados como cidadãos sujeitos de direitos.
Jovens em situação de Rua, Toxicodependentes, Desempregados, Alunos mal comportados, Alunos não atingem os objectivos, Jovens em abandono escolar, Jovens delinquentes, Jovens radicalizados, são algumas dos rótulos usados para agrupar os jovens com quem trabalho e quando mais o faço mais me pergunto se falamos dos jovens ou dos sintomas que eles apresentam. Por detrás do sintoma existe a pessoa..


Reparem! certamente já ouviram o comentário “Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos, só passam o tempo a falar em vez de trabalhar.” mas isto foi escrito por SÓCRATES, ou algo assim “Os jovens são maus e preguiçosos. Nunca serão como a juventude de outros tempos(Inscrição em cerâmica, Babilónia) ou ainda desabafos “O pai teme os seus filhos. O filho acha-se igual ao seu pai e não tem nem respeito nem consideração aos seus pais. O que ele quer é ser livre. O professor tem medo dos seus alunos. Os alunos cobrem o professor de insultos”, Platão. Todos estes comentários foram escritos à cerca de 2500 no entanto poderiam ser hoje publicados no nosso jornal sem grande espanto.

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Mas em que situação se encontram os jovens no nosso meio social?

Fenómenos, como,  do desemprego Juvenil tomou proporções insuportáveis tanto na região Oeste como no país como na Europa. Além disso, bem conhecidos por todos, comprovamos que os fenómenos de precariedade da degradação das condições de trabalho aumentam e com elas as expectativas e a construção do projeto de vida dos jovens sofre uma profunda transformação.
Ao empobrecimento gradual das classes de mais baixos rendimentos e da classe média, somou-se uma mudança sociocultural, um mal-estar generalizado que tem a ver com a redução das expectativas, com uma nova ideia do futuro que já não está associada à ideia de progresso, mas sim a uma incerteza crescente. Os jovens de hoje vêm assumindo que as suas condições de vida serão piores do que as de seus pais. As perspectiva de condições de vida melhor desvanece-se e em seu lugar fica uma perspectiva de degradação dessa mesma vida.
Essa crença tem um impacto sobre o comportamento, valores e sociedade.  Assim, no meio de uma grande diversidade de jovens, encontramos muitos indivíduos bloqueados, paralisados, invisíveis. Uns com uma boa formação, outros com uma formação média ou baixa, mas ambos ficam em suas casas nos seus bairros, nos seus grupos, e não circulam, não interagem nem mesmo para protestar. Alguns consomem substâncias psicoativas que lhes agravam a passividade, outras vezes consomem produtos de lazer de forma compulsiva. Porque para existir hoje deve-se ser consumidor e não um produtor.
Quiçá, pode-nos parecer que estes comportamentos são surpreendentes, mas se os olharmos em detalhe não são mais do que adaptações a um contexto que oferece poucas oportunidades para criar projetos de vida próprios. É verdade que os jovens activos aproveitam as muitas oportunidades neste mundo global para: viajar, conectar-se e crescer, mas estes são uma minoria.

Como podemos contribuir para que os Jovens tenham um papel mais activo?

A emancipação é uma necessidade dos indivíduos para construírem uma sociedade baseada na solidariedade entre gerações. Tudo indica que temos de melhorar a formação e construir um modelo social e culturalmente produtivo que gere riqueza e oportunidades e que seja sustentável. Mas para isso talvez seja necessário ver a emancipação dos jovens não como resultado do ponto de vista económico, mas como uma necessidade
social, se fizermos isso, possivelmente encontraremos mais rapidamente novos modelos de produção.
O sistema educativo pode ajudar a mudar a ordem das expectativas, porque a promessa feita pela escola (com base no sistema industrial) “se estudares trabalharás” há muito tempo que não se cumpre. E os jovens sabem-no e por isso o interesse na escola diminui e com ele chega o fracasso e o abandono escolar precoce. Não é tanto uma questão de métodos, mas sim, do significado que tem hoje a formação e a educação. Vivemos um “esvaziamento de sentido” e um isolamento crescente dos indivíduos que não conseguimos mobilizar para participar em projetos colectivos.
No nosso trabalho com jovens  e jovens com menos oportunidades, especialmente
vulneráveis, vemos como alguns dos seus comportamentos e dinâmicas ao longo do tempo se tornam modos sociais generalizados. Isso acontece porque as classes médias são
atingidas pela precariedade material, mas também porque as primeiras mudanças
sociológicas têm impacto em primeiro lugar nos grupos mais desfavorecidos.
Existe um problema relacionado com condições materiais de vida, mas acima de tudo existe um vazio, o projeto conjunto foi segmentado e emergem comunidades, grupos, grupúsculos, ou indivíduos encerrados sobre si mesmos e privatizações de espaços físicos e afectivos. Por exemplo, muitas vezes o grave problema da radicalização jihadista na Europa é analisada como um problema de pobreza, mas a questão é mais complexa e envolve questões mais psicossociais: a proposta do radicalismo (de qualquer tipo) fornece a identidade, um sentido para a vida, uma possibilidade de ser útil à comunidade, a transcendência, o acompanhamento. Digamos que a capacidade de consumo não é o suficiente para viver.
Não devemos esquecer os eufemismos com os quais o mercado requer aos trabalhadores
especialmente aos jovens: flexibilidade, trabalho temporário, etc. Levando os jovens a um trabalho temporário precário. É uma questão de domesticação social em que 90% dos jovens aceitam as condições do contrato, funções, horários de trabalho, etc. ilegal
apenas para ter um emprego enquanto se preparam para a mudança, a adaptação
e a reciclagem perpétua. Muito criativo para alguns e muito ameaçador para a maioria.
Enquanto os adultos estão imersos nas contradições de um mundo global que não entendem. Existe um processo de falência que pode não nos permitir ter sucesso nas respostas.

Algumas ideias para melhorar a  “Situação do que é ser Jovem Hoje” :

Escutar os jovens, antes de mais, ouvir não basta! sobre quais são os seus problemas e como podemos todos fazer parte da solução.
Apoiar novos dispositivos que ajudem os jovens das aldeias e das cidades da região do Oeste a exercer sua cidadania. Não basta convidar os jovens é necessário ir ao encontro dos grupos de Jovens sejam eles formais sejam informais, sobretudo ir ao encontro para escutar colocar questões e não para dar respostas.
A juventude é muito diversificada, e difere por motivos de classe social, de escolaridade do território rural ou urbano em que vive , por isso, quando falarem com os jovens não generalizem nem julguem  e considerem e respeitem os jovens de diferentes matizes, todos eles seja qual for a sua condição ou comportamento são fundamentais na construção da solução.
Os adultos tornem-se referentes adultos prontos a acompanhar os jovens, a os contradizer, a provoca-los e a darem-lhes conforto.
Há que experimentar para conhecer e tomar decisões. Todos devemos compreender falhar faz parte da aprendizagem, ou pelo menos provar e mudar. Em vez de punir os jovens pelas suas falhas, arranjem oportunidades para se poderem por à prova.

Formação e Atitudes dos Educadores.

Promovam desafios e trabalhos diferentes, atividades voluntárias ou de participação social ou cultural, numa dinâmica de testar/avançar e não de avaliar/reter. Considerem que é tão importante ter essas experiências de vida como ter obtido diplomas.
Há olhos que olham a realidade dos jovens e não a veem. Sabemos que para ver temos que educar o olhar. O que há para ver é o que é geralmente invisível ou não se quer ver: As desigualdades, as rupturas, as necessidade, o abandono, a marginalização, a pobreza, o sofrimento. Sem esta visão, não há esperança de humanização.
Sem a comoção de perceber a diferença não podemos aspirar a despertar o espírito crítico em relação àquilo que nos oferecem. Pode-se e deve-se começar a ver as diferenças dentro da própria aldeia ou cidade e depois avançar em considerações sobre os meandros da nossa sociedade.

Acabo com um convite enviem-nos histórias do que é ser jovem ou de como se relacionam com jovens, deixo-vos aqui os meus contactos: helluis@gmail.com
twiter: @helluis

Hélder Luiz Santos
Director de formação
SwTI – Street work Training Institute

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