Nome incontornável da história da vila, deu aulas sozinho durante anos no Colégio João Bento da Silva
O comendador José Bento da Silva deu o nome ao colégio onde muitos são-martinhenses estudaram no dealbar do século XIX e no arranque do século XX. Mas o homem que, verdadeiramente, deu corpo ao ensino naquela vila durante décadas foi Francisco Nunes Elyseu, um professor que, diariamente, fazia o trajeto entre Alcobaça e São Martinho do Porto de bicicleta para mudar a vida de quem, de outra forma, não poderia prosseguir os estudos.
Num tempo em que apenas as capitais de distrito tinham ensino secundário liceal, São Martinho destacava-se. O colégio José Bento da Silva tinha sido um desejo formulado por aquele ilustre filho da terra, mas seria um alcobacense, nascido em 1874, que lhe viria a dar forma. Enquanto cumpriu o serviço militar, frequentou a Escola Politécnica e o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Chegada a hora de decidir onde ensinar, surgiu-lhe a missão de assegurar o ensino secundário junto à baía azul.
Inicialmente, fora contratado para ministrar cursos de pilotagem, mas as necessidades da vila eram muitas e teve de adaptar-se. Entrou no Colégio José Bento da Silva e por lá ficou durante décadas, ajudando muitas centenas de alunos a prosseguir os estudos para além da 4ª classe. E fê-lo sozinho, pois, sem capacidade para contratar mais docentes, a escola confiou-lhe alunos entre o 1º e 7º anos do liceu. A todos acolheu. A todos ensinou. Rezam as crónicas que a todos apenas exigia que fossem bem educados e estudassem.
Deu aulas sozinho durante anos, mas criou e manteve o ensino secundário e liceal na vila por décadas
Foi um dos fundadores dos bombeiros e comandante da corporação
Em 1898, e com apenas 24 anos, recebeu a autorização necessária para ser professor particular do ensino secundário, o que lhe permitiu criar o ensino secundário na vila. Passa a morar em São Martinho e dedica-se, ainda mais, ao colégio, reservando parte do salário para comprar material para uma escola que não cobrava aos alunos mais carenciadsos.
Além de dar aulas, fazia questão de preparar os alunos para os exames e, ainda, acompanhá-los a Leiria, ao Liceu Rodrigues Lobo, onde se procedia à avaliação dos conhecimentos dos estudantes. A preparação de Francisco Nunes Elyseu valeu aos alunos de São Martinho resultados exemplares, o que motivava grandes elogios por parte dos colegas examinadores do liceu da capital do distrito.
Em 1933, é nomeado oficialmente diretor do colégio, como reflexo do trabalho desenvolvido. Deu aulas até aos 72 anos, quando se mudou para Lisboa. Três anos antes, recebeu o Grau de Oficial da ordem de Instrução Pública, pelos serviços prestados à educação.
Nos meses de verão, quando a atividade letiva estava suspensa, lecionava aaos filhos dos veraneantes, mas também prestava auxílio aos estrangeiros que visitavam a baía e não sabiam falar Português.
Porém, a dedicação do professor Eliseu a São Martinho do Porto não se ficou pelo ensino, já que, entre outras atividades, foi um dos fundadores da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de São Martinho do Porto, tendo sido comandante da corporação. Em frente ao quartel foi erguido um busto em sua honra, ainda antes de morrer, em Lisboa, em 1965, depois de um percurso dedicado ao ensino e à vila que adotou como a terra natal.