Obidenses juntaram-se e deram novo fôlego a tradição milenar

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Dezenas de obidenses juntaram-se para cortar os Maios, que depois foram espalhados pelas ruas da vila
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A 1 de maio a tradição voltou a cumprir-se. A vila “acordou” com as suas ruas decoradas, fruto do trabalho de dezenas de obidenses

Desde criança que João Paulo Rodrigues se lembra de ver o pai ir apanhar os Maios (giestas floridas, rosmaninho, alecrim e outras flores silvestres), que depois ele e outros obidenses cortavam e decoravam, na noite de 30 de abril, as ruas da vila e enfeitavam os adros das igrejas. Mais tarde, passou ele a ir também aos campos, juntamente com outras pessoas da terra, apanhar as flores e cumprir com a tradição, inclusive quando entrou para a União de Freguesias de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa.
No entanto, a pandemia chegou e a iniciativa deixou de se concretizar. O ano passado, e para não deixar morrer a tradição, João Paulo Rodrigues voltou aos campos, juntamente com a mulher, o filho e a sogra, para apanhar os “Maios”. Enquanto os estavam a cortar, à porta da vila, passou o empresário Eurico Santos e, juntos, firmaram logo ali o compromisso deste ano mobilizar mais obidenses e as suas famílias para perpetuar a tradição. E assim foi. Na manhã de 30 de abril eram cerca de 20 os obidenses que partiram para apanhar os Maios nos campos da região. O alecrim foi colhido na zona do Arelho, o rosmaninho ao redor da lagoa e as giestas no Sobral da Lagoa, explicou João Paulo Rodrigues, especificando que antigamente as plantas eram colhidas junto ao Santo Antão.
Depois foram transportadas para a vila e colocadas em diversos montes para, ao fim da tarde, serem cortadas em pequenos pedaços que depois foram espalhados pelas ruas, noite fora, criando aromáticos tapetes na calçada. Os pelourinhos e os adros das igrejas foram enfeitados com as iniciais dos oragos, com flores “roubadas” dos jardins das casas da vila, também já uma tradição.
“Queremos fazer de os Maios uma grande celebração dos obidenses e trazer as crianças a participar, para que esta celebração se possa perpetuar”, explicou Eurico Santos, que participa este ano pela primeira vez na iniciativa.

Vivência em comunidade
Também Ana Gomes, que mora em Óbidos há cerca de um ano, juntou-se ao grupo que, no fim da tarde de terça-feira, cortava os ramos à porta da Vila. “Achei que era engraçada esta partilha em comunidade e, como temos filhos pequenos, que seria uma coisa gira de fazerem”, contou à Gazeta das Caldas. Ao lado, Caetana Correia, de oito anos, ajudava a mãe. Uma tarefa trabalhosa, mas que desempenhava com vontade e na expetativa de ver o resultado do dia seguinte: “as ruas enfeitadas e a cheirar bem”, salientou.
É também comum que a noite seja passada em confraternização, com um pequeno repasto acompanhado de música tradicional. Foram recolhidas algumas oferendas junto das casas comerciais de Óbidos para a compra do bacalhau e do azeite, enquanto que outros ofereceram carne e a junta de freguesia garantiu o carvão, para fazerem o repasto na Praça de Santa Maria. “Antigamente, quando chovia nesta noite, as pessoas refugiavam-se no telheiro (na Praça de Santa Maria) e depois continuavam o trabalho. Este ano decidimos voltar ao coração da vila e a confraternização está aberta a todos quantos quiserem aparecer”, explicou Eurico Santos.
De acordo com o empresário obidense, tiveram pessoas a contactá-los pois souberam da iniciativa, através das redes sociais, e queriam participar. “Houve quem fizesse a viagem de Braga para passar os dois dias em Óbidos e participar na iniciaitva e visita guiada”, pela Associação de Defesa do Património de Óbidos, pelas ruas da vila, devidamente decoradas, na manhã de 1 de maio. ■

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