O enólogo obidense Rodrigo Martins conta, aos 36 anos, com vários vinhos premiados no seu palmarés. Em 2016 conseguiu que dos oito vinhos que enviou para o concurso internacional de Londres, sete tenham sido distinguidos. Já no concurso mundial de Bruxelas o júri deu uma medalha de ouro ao vinho branco produzido da Adega Cooperativa de Alcobaça, que tem Rodrigo Martins como enólogo.
Sem rejeitar que se trata de um reconhecimento pelo seu trabalho, este técnico diz que o mérito é também da região Oeste, durante muitos anos associada a vinhos de baixa qualidade, mas que tem conseguido inverter essa imagem, associando-se agora a vinhos de mais prestígio.
Rodrigo Martins sempre teve duas paixões: a música e a vinhas. Foi a entrada no curso de Agronomia, em Lisboa, que acabaria por ditar o seu futuro, levando-o a perceber que era a viticultura a carreira profissional que queria abraçar.
Terminada a licenciatura foi estagiar para a Quinta de Pancas (Alenquer), seguindo-se o primeiro emprego em Alcobaça, na Associação Agrícola de Alcobaça, onde pediu desde logo à entidade patronal que quando abrisse um mestrado em Enologia, que gostaria de o frequentar. Essa oportunidade surgiu em 2006 e concluída essa fase da sua vida académica, a Adega Cooperativa de Alcobaça convidou-o para ser seu enólogo.
Entretanto, foram aparecendo outros convites e, em inícios de 2009, Rodrigo Martins estabelece-se por conta própria como consultor e a trabalhar com projectos no Douro, Alentejo, na Adega Cooperativa de Alcobaça e na Quinta dos Capuchos (também em Alcobaça). Manteve também alguns trabalhos em Rio Maior.
Actualmente acompanha 12 projectos entre o Douro e o Alentejo, o que implica uma grande disciplina pois faz questão de ir a cada um dos sítios todas as semanas.
Só ao Douro vai, em média, 40 semanas por ano, fazendo 800 quilómetros por viagem. Feitas as contas, durante os sete anos que acompanha o projecto, Rodrigo Martins já terá feito “170 mil quilómetros só para o Douro, o que equivale a mais do que quatro voltas ao mundo”, conta à Gazeta das Caldas.
Ao todo, o enólogo estima que faça anualmente cerca de 120 mil quilómetros no acompanhamento a estes projectos, de empresas de pequena e média dimensão, que depois complementa com deslocações ao estrangeiro, para participar em feiras onde ajuda na promoção dos vinhos.
Rodrigo Martins é também júri em alguns concursos de vinhos em Portugal e num em Londres.
Há cerca de dois anos, juntamente com um colega de universidade – o agrónomo Pedro Cabanita – criou uma empresa que vende exclusivamente os vinhos que produz, denominada Autentic Wines (vinhos autênticos).
Distinções entre 15 mil vinhos a concurso
O primeiro prémio que Rodrigo Martins ganhou foi com o vinho Memória, da Quinta dos Capuchos (Alcobaça), no concurso mundial de Bruxelas, em 2009, onde arrecadaram a medalha de ouro. Desde então a Quinta dos Capuchos todos os anos tem enviado vinhos para este concurso e tem sido distinguida. Este ano enviaram, pela primeira vez, o vinho Memória branco, que ganhou a medalha de ouro.
“É muito importante haver uma distinção, mas é ainda mais importante haver uma continuidade e reconhecimento contínuo dos vinhos e com esta empresa isso tem acontecido, quer no concurso mundial de Bruxelas, quer no de Londres”, disse.
Em 2013 enviou os vinhos do Douro para o concurso de Londres e dois deles foram premiados. Mas o grande feito foi este ano, em que dos oito vinhos enviados para concurso no International Wine Challenge (Londres), sete foram premiados. Estiveram a concurso mais de 15 mil vinhos, provenientes de 54 países, com 200 provadores credenciados no concurso de prova cega, o que “torna mais difícil, mas também mais valiosa a distinção”, explica o enólogo.
Mas a maior surpresa verificou-se no concurso mundial de Bruxelas, com a distinção, com a medalha de ouro, do vinho “Montes Branco 2014”, da Adega Cooperativa de Alcobaça. Foi a primeira vez que a adega enviou vinhos para concursos internacionais e recebeu logo o galardão de ouro. Para o enólogo é uma distinção importante porque normalmente as pessoas associam as produções das adegas cooperativas a vinhos de menor qualidade e é uma forma de potenciar aquela adega que trabalha desde 1956.
E qual o segredo para ganhar tantos prémios? “Trabalho, dedicação e ter uma equipa em todas as empresas muito motivada”, é a resposta pronta de Rodrigo Martins.
O enólogo considera que cada vez fazem-se melhores vinhos e não esconde que lhe dá um gosto particular as distinções que recebem os vinhos da região, até porque sempre esteve conotada com uma produção de volume, granel e baixa qualidade. Uma imagem que está a desaparecer e, sobretudo a nível externo, começa a haver um grande interesse por estes vinhos, nomeadamente os brancos.
De acordo com Rodrigo Martins os solos do Oeste têm um grande potencial, facto que justifica as apostas que têm sido feitas por empresas do Douro e Alentejo nesta região. “Com as alterações climáticas que se tem registado, com verões mais quentes e secos, estas regiões com maior influência do mar têm maior aptidão natural para produzir frutos de melhor qualidade”, explica, acrescentando que este é um sector que ainda pode crescer.
Actualmente, na Europa, o Reino Unido é o principal mercado externo, a par da Bélgica, Polónia, Suíça e Suécia. Já fora da Europa, o Brasil, Estados Unidos e a China são os principais mercados. Para Rodrigo Martins “o caminho é claramente o mercado interno e o centro da Europa pois são países com estabilidade, poder de compra e que reconhecem valor aos nossos vinhos”.
Para além disso, acrescenta, aliam a qualidade a preços baixos, especificando que os vinhos premiados têm preços que oscilam entre os 3,5 euros e os 15 euros.