Ourivesarias aderem aos graffiti (autorizados) para embelezar as protecções exteriores

Marco “Cary” Almeida, natural de Lisboa e a residir nas Caldas, já fazia graffitis e um dia viu uma fotografia de um portão intervencionado na Alemanha. “Como não havia nada disto nas Caldas achei que podia fazer essa proposta a algumas pessoas que pudessem estar interessadas”, contou à Gazeta das Caldas.
Através da loja Surfoz, na rua Heróis da Grande Guerra, começou por fazer um primeiro trabalho na grade da ourivesaria Bica do Brito.
A sócia-gerente da ourivesaria, Helena Bica Brito, ficou entusiasmada com a ideia quando lhe foi apresentada. “Estava farta de ver as portas todas pintadas” e quis desta forma poder ter um graffiti que fosse mais bonito.
Há cerca de dois meses que as grades foram pintadas e até ao momento ninguém degradou os graffitis realizados.
Marco Almeida garante que como identificou os seus graffitis as grades não voltarão a serem pintados por outros writers. “Existe um código de conduta entre os writers”, explicou.
A segunda ourivesaria a aderir a esta iniciativa foi a de Carlos Bica, por sugestão da sua irmã, Helena Bica Brito. Também as grades deste estabelecimento tinham sido pintadas por diversas vezes com graffitis e o ourives preferiu que desta vez fosse desenhado algo mais interessante.
Carlos Bica gostou muito do resultado final e salienta o facto de ter tido muitos comentários positivos. “As pessoas ficaram deslumbradas com o trabalho deste jovem. Nem esperava que as reacções fossem tão boas”, afirmou.
Na passada segunda-feira, 18 de Julho, Marco Almeida fez mais uma intervenção, na ourivesaria Carvalho. Segundo um dos proprietários, Álvaro Carvalho, os rabiscos que aparecem em vários locais da cidade “são consequência da sociedade em que vivemos” e, por isso, sempre teve uma atitude benevolente dos desenhos que fizeram nas suas grades.
Com a proposta de Marco Almeida de pintar as grades, achou que seria mais interessante deixar uma imagem mais bonita. “As pessoas até acabam por reparar mais no nosso estabelecimento e é uma forma de incentivar o respeito mútuo”, considera.

Graffitis são forma de expressão

Marco Almeida, de 27 anos, desistiu recentemente do curso de Design Gráfico e Multimédia na ESAD por dificuldades financeiras, mas gostaria de regressar à escola. “Neste momento por questões financeiras não posso continuar a estudar. Ainda fiz metade do ano, mas não pude completar. Foi-me atribuída uma bolsa de estudo e depois retirada”, contou.
Entre Caldas e Lisboa, “Cary” vai fazendo vários trabalhos de pintura para tentar angariar algum dinheiro, desde paredes de quartos de criança a portões de casas. “Basta que as pessoas digam o que querem e eu faço”, desde desenhos abstractos a cartoons, mas também pinturas realistas.
No caso das três ourivesarias foi-lhe pedido que fizesse trabalhos relacionados com as Caldas e com os próprios estabelecimentos comerciais.
Sobre os muitos desenhos que estão espalhados em vários locais da cidade, alguns dos quais nas grades de outras ourivesarias, Marco Almeida disse compreender e gostar desses graffitis.
“É lógico que não deixa a cidade bonita, mas compreendo a razão. É uma necessidade de comunicação que estas pessoas têm”, defendeu.
O artista gostava que fossem disponibilizados espaços para esta forma de expressão e começou mesmo a desenvolver um projecto de intervenção em 40 edifícios que estão abandonados nas Caldas. “O projecto não avançou porque não houve vontade por parte da Câmara”, comentou, mostrando disponibilidade para retomar o projecto se tiver condições para isso.
Aproveitando a tradição artística das Caldas, Marco Almeida gostaria, por exemplo, de fazer intervenções com loiças nas paredes.