Professores de Óbidos e Cadaval em maior risco de burnout

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Inês Campos Matos, médica interna de saúde pública, foi a primeira a investigar o risco de burnout nos professores da região|Beatriz Raposo
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Inês Campos Matos, médica interna de saúde pública, quis saber qual o risco de burnout nos professores da região e, para isso, questionou quase 200 docentes das Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral, Cadaval e Peniche. Os resultados indicaram que 40% se encontra em risco evidente, sendo que a percentagem é maior nos concelhos de Cadaval e Óbidos.

“Reacção extrema ao stress profissional cumulativo e prolongado, que afecta o bem-estar físico e psicológico dos docentes, influencia negativamente o seu relacionamento com os alunos e a qualidade do seu ensino, e se associa a fenómenos como a intenção de abandono da profissão”. É esta a definição de burnout que Inês Campos Matos, médica interna de saúde pública, apresenta no estudo “Docentes e Síndrome de Burnout”, que avalia o risco de incidência deste distúrbio nos professores das Caldas, Bombarral, Óbidos, Peniche e Cadaval.
Desgaste, esgotamento, exaustão física e stress são quatro sintomas que andam lado a lado com o burnout que, no caso da nossa região, atinge em pleno 8,3% dos 192 inquiridos. Responderam ao inquérito “Maslach Burnout Inventory” seis docentes de Óbidos, 67 de Peniche, 70 de Bombarral, 42 das Caldas da Rainha e sete do Cadaval.
“Os professores são um grupo com um risco acrescido de doença mental”, realça Inês Campos Matos, acrescentando que um em cada três professores sofrerá, ao longo da sua vida, uma doença de saúde mental.
O burnout está associado a uma dedicação excessiva ao trabalho (e a um consequente esquecimento da vida pessoal), a sentimentos de depressão e agressão e à diminuição das capacidades cognitivas.
Para a investigadora, a exaustão emocional, a falta de realização pessoal e a despersonalização são os três principais factores que caracterizam o burnout. Em particular, a despersonalização acontece quando os professores deixam de ver os seus alunos como pessoas para passar a encará-los como objectos e “coisas”, adoptando uma postura fria e impessoal para com os mesmos.
O burnout pode surgir por motivos individuais (idade, ambiente familiar ou personalidade), mas principalmente por causas organizacionais (exigência no trabalho, recursos disponíveis e valores do estabelecimento de ensino) e sociais (o estatuto que os professores ocupam na sociedade).
Numa escala de zero a seis – ou seja, de “nunca” a “todos os dias” – os 192 docentes avaliaram 22 afirmações, como por exemplo: “sinto-me emocionalmente esgotado”, “sinto que trato alguns alunos como se fossem objectos impessoais”, “sinto-me com muita energia” ou “sinto que estou a trabalhar demasiado para a minha profissão”.
Os resultados indicaram que 40% dos docentes está em risco de burnout ou já sofre do distúrbio, sendo que em Peniche, Caldas da Rainha e Bombarral  o “burnout pleno” é  inferior a 10%, enquanto que em Óbidos a percentagem é de 15% e no Cadaval sobe para os 32%.
Outro dado relevante é que nas Caldas mais de metade dos inquiridos mostrou não ter qualquer sinal de burnout.
Mais: embora apenas 8,3% dos 192 professores sofram de burnout, 32,3% revelam apresentar pelo menos dois dos três factores indicativos desta doença (exaustão emocional, falta de realização pessoal e despersonalização).
O estudo realizado por Inês Campos Matos concluiu ainda que são os professores mais novos (até 44 anos), do pré-escolar e do ensino especial, a leccionar em Peniche e com turmas até 20 alunos (ou só com uma turma), os que apresentam menos indícios de burnout. Do lado oposto encontram-se os docentes com mais de 55 anos, solteiros, do 1º e 2º ciclos e a dar aulas no Cadaval e em Óbidos.
O estudo revela também que o sexo feminino tem três vezes mais probabilidade de sofrer burnout do que o sexo masculino, os professores do 1º e 2º ciclos do ensino básico mais seis vezes que os docentes do pré-escolar, e os profissionais do Cadaval estão 11 vezes mais em risco que os das Caldas da Rainha.
O estudo “Docentes e Síndrome de Burnout” foi apresentado nas primeiras Jornadas Pedagógicas da Região Oeste Norte, organizadas em Julho pelo USP Zé Povinho do ACES Oeste Norte e pelo Centro de Formação da Associação de Escolas Centro-Oeste.

[caption id="attachment_68152" align="aligncenter" width="756"]Cadaval e Óbidos são os concelhos em que os professores apresentam maior risco de burnout ou burnout pleno Cadaval e Óbidos são os concelhos em que os professores apresentam maior risco de burnout ou burnout pleno[/caption]

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