Projecto social da Mcdonald’s em Portugal é gerido por um caldense

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O caldense João José Sá Nogueira é o director executivo da Fundação Macdonalds
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O gestor João José Sá Nogueira, 74 anos, é caldense e durante décadas esteve ligado à indústria do papel. Hoje é o administrador e director executivo da Fundação Roland Macdonald. Durante a sua coordenação, já foi construída a primeira “casa longe de casa” que se destina às famílias de crianças que se encontram a fazer tratamentos no Hospital D. Estefânia.
Se não fossem as demoradas burocracias habituais em Portugal e já estaria iniciada, sob a direcção deste caldense, a segunda casa de apoio às famílias, mesmo junto ao Hospital de S. João, no Porto. O responsável já conseguiu angariar perto de um milhão de euros que é quanto vai custar a casa do Porto.

A Fundação Ronald Mcdonald’s surge em Portugal em 2000, na altura em que João Sá Nogueira se reformava do Grupo Inapa, onde foi administrador delegado. Após uma passagem pela unidade industrial do grupo da Papelaria Fernandes, onde esteve até 2004, achou que era altura de sair pois “já estava farto da indústria”, disse à Gazeta das Caldas, este engenheiro químico de formação, que chegou a administrador da Inapa.
Naquela época estava à frente do GRACE (Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial), que tinha como vogal um quadro da  Mcdonald’s Portugal, que o desafiou para liderar o projecto da Fundação Roland Mcdonald’s.
Esta instituição tem como objectivo promover iniciativas que contribuam para o bem-estar das crianças e seus familiares e começou em 2001 a criar as condições para construir uma casa destinada a albergar os familiares das crianças em tratamento em hospitais. Após um estudo, chegou-se à conclusão que o que precisava mais de apoio era o D. Estefânia.

A primeira casa da fundação, criada em Lisboa, junto ao Hospital da Estefânia e o projecto da casa congénere no Hospital de S. João no Porto

João Sá Nogueira, que tinha aceite a liderança da fundação, começa desde logo a organizar eventos de solidariedade para angariar fundos para esta obra.

PRESENTE EM 31 PAÍSES

A Fundação Roland Mcdonald’s está presente em 31 países e há, por todo o  mundo, mais de 300 casas deste tipo. Todas têm o nome da mascote da Mcdonald’s à excepção de França onde a casa tem o nome de Le Maison des Parentes.
Noutros países esta entidade trabalha em parceria com os próprios hospitais e apetrecha alas com condições de conforto para as estadias dos familiares das crianças doentes.
Durante os primeiros anos da fundação em Portugal foi necessário “criar sustentabilidade para o projecto de Lisboa, bem como ganhar credibilidade e notoriedade junto das instituições”, referiu Sá Nogueira.
A fundação negociou com a Câmara de Lisboa a cedência do terreno, mas “foram necessários quatro anos para efectuar a escritura”, contou o director executivo, queixando-se da burocracia.
A primeira pedra seria lançada em 2005, com a presença da então primeira-dama, Maria José Ritta (mulher do Presidente Jorge Sampaio), tendo sido inaugurada em 2008 pela actual primeira dama, Maria Cavaco Silva.
A casa custou 1,5 milhões de euros e é um espaço muito agradável, totalmente equipado para receber 10 famílias em simultâneo e que fica no Largo Conde de Pombeiro nº 15, no centro de Lisboa.

Apoio gratuito a 500 famílias de todo o país

“Ao todo já recebemos 500 famílias de todo o país”, disse o administrador, explicando que nalguns casos se registam reentradas para o caso de tratamentos mais complicados. João Sá Nogueira conta que o tempo de permanência médio para uma família é de 16 dias, mas em casos excepcionais poderá chegar aos seis meses.
“Há um regulamento bastante rigoroso a cumprir”, explicou Ana Patacho, a gestora da casa que se juntou a João Sá Nogueira para uma visita guiada aquele espaço.
A casa possui duas grandes salas de estar, uma ampla cozinha, lavandaria e vários quartos, de tipologia variada e que são distribuídos consoante as necessidades das famílias. Conta com o apoio da gestora da casa e um assistente e, à noite, há seguranças.
O funcionamento deste projecto custa 210 mil euros por ano e as famílias não pagam nada pela estadia.
A maior parte do financiamento para o projecto vem da Mac Donalds e dos seus franquiados. “Mas temos vários apoios em espécie e em serviços oriundos de empresas e da sociedade civil”, explicaram. Desde a comunicação, ao design e ao marketing, até à oferta de painéis fotovoltaicos ou de produtos para crianças que sofreram queimaduras graves, há uma panóplia de dádivas que asseguram o bem-estar de quem está naquela casa.
“Temos voluntários que fazem o jantar às famílias às quartas-feiras, que dão workshops de cozinha e se ocupam de outras áreas como o cabeleireiro, as massagens ou a podologia”, disseram Ana Patacho e Sá Nogueira.

Uma criança com seu familiar na Casa Roland Mcdonald’s.

Minorar o sofrimento proporcionando bem-estar é o objectivo desta casa, onde os responsáveis têm assistido ao criar de laços de amizade e de solidariedade entre famílias e na qual a única coisa que têm em comum é o facto de “os seus filhos estarem doentes”.
Uma das famílias com poucos ou meios deparou-se com o facto de não ter dinheiro para o funeral do filho que faleceu, vítima de doença. Logo as famílias na casa começaram a  organizar uma angariação de fundos para o funeral e “depois nós também ajudámos”, contaram os responsáveis.
Há outros casos mais felizes, como o de duas famílias que se tornaram amigas e uma delas tinha um adolescente que não era baptizado e acabaram por convidar os novos amigos para padrinhos. Duas mães da Madeira, com os respectivos filhos com leucemia, conheceram-se no avião e descobriram que tinham estado ambas emigradas na Argentina. Tornaram-se grandes amigas e ainda hoje quando contactam dão notícias uma da outra. “Temos tido aqui gente fantástica!”, disseram os responsáveis, acrescentando que muitas mantêm o contacto após vários anos.
Para que os irmãos saudáveis se possam entreter enquanto os familiares acompanham quem está doente, a fundação tem um protocolo com o ATL e jardim-de-infância vizinhos que aceitam as crianças durante algum tempo.
Para que a estadia seja o mais agradável possível, os voluntários levam as crianças a jogos de futebol, a museus, à Kidzânia e ao Jardim Zoológico.

“Projectos avançam sem um cêntimo do Estado”

A segunda casa da Fundação Ronald Mcdonald’s vai nascer junto ao pólo pediátrico do Hospital de S. João no Porto, que já se comprometeu a ceder o terreno e a garantir o pagamento da água, energia eléctrica, gás e a vigilância da casa.
“Com estas despesas asseguradas, consigo o funcionamento da casa com 120 mil euros enquanto que em Lisboa, os custos são próximos do dobro”, diz João Sá Nogueira.
Também por causa da diminuição dos custos relacionados com a construção e o facto de ficar dentro da área do próprio hospital, a casa vai custar “apenas” um milhão de euros, sendo até um pouco maior do que a de Lisboa.
E porque não avança a construção? “Por causa da burocracia”, diz o administrador. Há um problema com a cedência do terreno por parte do Estado (o hospital é público) e falta um despacho do Ministério das Finanças. “Estamos nisto há quase 10 anos”, desabafou o responsável, que espera, contudo, ver a obra iniciada em Setembro.
Os projectos da Fundação Roland Mcdonald’s têm avançado “sem um cêntimo do Estado, tudo com recurso apenas à iniciativa privada”, disse o caldense.
Hoje a fundação tem um Clube de Amigos, divulga as suas actividades em newsletters e possui 4.000 amigos no Facebook.
Depois do Porto, há uma ideia nascente para constituir unidade móveis de apoio às crianças que estão em suas casas e necessitam de ventilação assistida.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Família da Usseira encontrou um sorriso “na casa longe de casa”
A jovem Beatriz Ferreira, da Usseira de Óbidos, precisou de um transplante bi-pulmonar, que foi efectuado no Hospital de D. Estefânia.
A mãe, Rosário Ferreira, contou à Gazeta das Caldas que a filha foi transplantada em Junho do ano passado e ficaram por isso na Casa da Fundação até Julho. “Acabámos por transferir a nossa casa para a da fundação, era como se tivéssemos no nosso lar pois era possível manter a nossa independência”, contou Rosário Ferreira. Ao todo ficaram cerca de um mês pois “íamos todos os dias ao hospital para tratamentos”, recordou, acrescentando que ela e a filha almoçavam na unidade hospitalar.
Beatriz Ferreira tinha na época 18 anos e segundo a sua mãe “guardamos as melhores recordações da estadia na casa”.
Agradou-lhe o facto de aquele espaço não ser um muro de lamentações e de permitir a autonomia das famílias apesar de ser também muito bom encontrar “uma sala, um sofá, uma palavra amiga e um sorriso, quando estes eram necessários”, rematou.

N.N.

Memórias
“O meu pai era das Caldas e o meu avô de Santarém”, conta Sá Nogueira, explicando que a sua mãe, leiriense, decidiu ir à Feira de Março mesmo no final do tempo, tendo por isso este caldense nascido em Leiria, em 1938. João Sá Nogueira tem boa memória e recorda que nos primeiros tempos viveu na Rua Capitão Filipe de Sousa, tendo-se mais tarde mudado para a Rua da Electricidade.
Estudou na Escola nº 1 junto ao Parque e frequentou uma escola privada no nº 120 da Rua Capitão Filipe de Sousa, “numa casa que ainda hoje se mantém”.
Entretanto, como não havia liceu, tive que ir para Leiria e depois Coimbra antes de ingressar no Técnico, no curso de Engenharia Química. Não chegou, por ora, a terminar o curso e vai para a tropa. E é como militar que ruma a Moçambique, terra que gosta tanto que, depois de casar ainda lá viveu durante uns anos, tendo lá nascido o seu primeiro filho.
“Creio que ter ido para Moçambique e lidar com situações onde os problemas humanos vêm ao de cima, me foi útil para toda a vida”, disse.
Regressado à então Metrópole, João Sá Nogueira retorna ao Instituto Superior Técnico para terminar o curso, o que fará em 1966. Logo lhe surgiram dois convites: um para trabalhar no papel e outro para a cortiça. Escolheu o primeiro e foi na indústria do papel que fez carreira.
Durante a sua juventude, as Caldas da Rainha “era uma cidade cosmopolita com uma vida social e cultural muito intensa, uma média burguesia muito boa e uma cultura muito diferente do resto do distrito”. Sá Nogueira recordou que na década de 40 a vinda dos refugiados da segunda guerra vieram arejar mentalidades e como era comum as senhoras irem ao café enquanto que noutras localidades como Santarém ou Leiria “simplesmente não saíam de casa”.
Contribuíam para o tipo de vida cosmopolita caldense, a afluência às termas, os concursos hípicos, de ténis e os eventos de cariz cultural.
Em relação aos museus caldenses, João Sá Nogueira considera que “temos muitas capelinhas em vez de uma grande catedral”, disse, referindo-se aos vários museus municipais. Na sua opinião, “foi uma pena ter-se perdido o museu da Tauromaquia que, bem sei que seria para apenas um nicho, mas ainda assim, teria sido importante num projecto de requalificação da Praça de Touros”.
Pela sua mão, foi recentemente organizado no CCC um concerto de solidariedade com a fadista Cuca Roseta, a favor das obras de ampliação da igreja da Foz e que foi um êxito.  “É preciso organizar mais eventos deste tipo, cativando a sociedade civil, as empresas e as associações. Estas devem sentir a cidade como sua para depois agir e participar”, disse o gestor.

N.N.

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