Psicóloga caldense presta apoio aos bombeiros que combateram as chamas no norte do distrito

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Gazeta das Caldas
A psicóloga e voluntária nos Bombeiros de Óbidos ganhou o gosto pela intervenção em cenários de crise | Fátima Ferreira

Psicóloga clínica de formação e bombeira voluntária na corporação de Óbidos, Joana Duarte, de 29 anos, esteve presente nos incêndios que decorreram no norte do distrito de Leiria para  prestar ajuda psicológica aos soldados da Paz e os seus familiares.
Os fogos estão apagados, mas deixaram marcas nos bombeiros, a quem Joana Duarte continuará agora a apoiar.

No próximo fim-de-semana Joana Duarte, juntamente com uma equipa de psicólogos, irá percorrer várias corporações de bombeiros que estiveram nos fogos, para lhes prestar apoio  psicossocial. “É um trabalho pró-activo”, diz à Gazeta das Caldas, explicando que vêem se os bombeiros precisam de apoio psicológico e se há necessidade de os encaminhar para outras entidades. Já o apoio a civis é garantido pelos psicólogos do INEM.
Joana Duarte foi para Pedrógão Grande pela primeira vez na noite de 17 de Junho, quando deflagraram os incêndios. Um telefonema da coordenação do INEM às 22h00 pedia a sua comparência no local pois havia relatos de bombeiros feridos que estavam a ser evacuados. “Não sabia bem para ao que ia”, recorda a bombeira que pelo caminho foi conhecendo mais pormenores sobre o incêndio.
A chegar a Pedrógão Grande encontraram as estradas cortadas, mas tiveram a sorte de aparecer um bombeiro de Castanheira de Pêra que lhes abriu caminho. Joana Duarte foi então para o Centro de Saúde de Pedrogão, onde trabalhou em articulação com o posto de comando e recolhia informação para perceber o que era necessário fazer. Foi depois chamada para ir prestar apoio em Castanheira de Pêra, de onde eram os bombeiros feridos, para onde seguiu às 6h00 da manhã de domingo.
“O que fizemos foi estar disponíveis para que os bombeiros, se assim entendessem, falassem connosco”, explicou a psicóloga, acrescentando que nestas alturas poucos o fazem pois estão concentrados na sua missão de apagar o fogo.
À tarde começaram a receber pessoas que iam sendo evacuadas das aldeias e a fazer de tudo um pouco. “A nossa  missão é direccionada aos bombeiros e familiares, mas nestes grandes teatros de operações fazemos tudo o que é necessário”, contou. Uma as tarefas que fez foi distribuir máscaras aos polícias que andavam a fazer as evacuações das aldeias e estabilização das pessoas que chegavam. Alguns estavam transtornados porque não queriam abandonar as suas casas e outros preocupados por não haver telecomunicações para falarem com os familiares.
“Chegavam-nos pessoas com histórias muito intensas”, recorda a bombeira, acrescentando que viveram-se momentos de grande carga emocional, em que tiveram que lidar com a dor e sofrimento das pessoas que estavam devastadas.
Joana Duarte regressaria a Óbidos já perto da meia-noite desse domingo.

Gosto pela intervenção em crise

No passado fim-de-semana começou a trabalhar directamente com os bombeiros para participaram no incêndio, passando pelos vários quartéis. “Quando o fogo está activo os bombeiros não querem estar no quartel, estão muito direccionados para a sua missão. Se houver necessidade fazemos logo intervenção, mas muitas vezes o que se faz é uma primeira triagem do que se poderá fazer à posteriori”, explica a psicóloga.
Considera que os bombeiros são muito resilientes, mas que por vezes também sentem necessidade de apoio psicossocial. Joana Duarte fala com eles sobre as suas vivências, até porque alguns não partilham o que passaram com mais ninguém e “passaram por situações muito críticas, nomeadamente os que estiveram nas primeiras horas de incêndio ou nas zonas de cadáveres”.
Para a jovem psicóloga, esta foi uma experiência marcante, em que “as emoções estão à flor da pele”. Realça também a solidariedade que tem existido, desde o segundo dia de incêndios, e que pôde testemunhar no local. “Está tudo envolvido numa causa muito nobre, faz-se e ajuda-se onde se pode”, disse.
Joana Duarte, de 29 anos, é natural das Caldas da Rainha, onde actualmente tem um consultório clínico e trabalha na Câmara de Óbidos, onde presta apoio na autarquia nas escolas do concelho. É voluntária nos Bombeiros de Óbidos há sete anos, onde chegou para apenas tirar um curso de primeiros socorros e acabou por ficar. “Hoje gosto muito de fazer intervenção em crise”, conta à Gazeta das Caldas, acrescentando que nunca saiu do país nestas funções, mas se fosse convidada não hesitava.
A jovem bombeira salienta ainda que este trabalho só é possível devido ao comando que tem, aos ex-comandantes que a incentivaram e aos colegas, que são quem a ajuda fazendo o seu serviço quando está fora.