Ter melhores instalações, mais médicos e assistentes técnicos, poder transformar mais Unidades de Cuidados de Saúde Primários (UCSP) em Unidades de Saúde Familiar (USF) ou, pelo menos, deixar os utentes com médico de família. Estes são algumas das metas de Ana Pisco, directora do Agrupamento dos Centros de Saúde do Oeste Norte (ACES ON), que compreende os concelhos da Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral e Peniche.
Em entrevista à Gazeta das Caldas, a responsável conta que desde Agosto passado a lista de utentes sem médico de família aumentou em dez mil pessoas. No total, há 28 mil utentes sem médico de família, cerca de 16% da população dos seis concelhos do Oeste Norte.
O ACES Oeste Norte assegura mais de meio milhão de consultas por ano, sendo que abrange a área mais envelhecida de toda a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT).

GAZETA DAS CALDAS: Neste momento um utente que queira marcar uma consulta no centro de saúde das Caldas tem de se deslocar pessoalmente, entre as 8h00 e as 16h00. Isto porque não se consegue telefonar para o Centro de Saúde. Acha isto normal?
ANA PISCO: Trata-se de uma questão complicada, devido a um problema com o sistema telefónico, que já foi reportado à ARS de Lisboa e Vale do Tejo. Se estivermos a atender uma chamada, as restantes pessoas continuam a ouvir sinal de chamada e não de interrompido.
Não é um problema só nosso. Vários ACES já se queixaram do mesmo, os telefones chamam ininterruptamente apesar de estar alguém a fazer a chamada. O problema é de tal ordem que agora vamos iniciar um projecto com o CHO (Centro Hospitalar do Oeste) e até já pedimos três telemóveis dado que de outra forma o hospital não nos consegue contactar. As linhas estão ocupadas frequentemente.

GC: Quando é que acha que esta situação poderá estar resolvida?
AP: Não sei responder… Ainda por cima não depende directamente da ARSLVT mas sim dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. É este serviço que gere e supervisiona esses trabalhos, abrindo concursos, a nível nacional.

GC: Como é que sugere, então, que os utentes do ACES Oeste Norte contornem esta situação?
AP: A melhor forma é marcar consulta através do e-mail da sua unidade de saúde (pois quase todas já dispõem de correio electrónico) ou então através do Portal do Serviço Nacional de Saúde.

GC: E funciona?
AP: Sim, funciona desde que o utente tenha médico de família pois caso contrário não consegue… A nível nacional temos vindo a trabalhar para afinar os problemas de parametrização, ou seja, por vezes pretendemos marcar uma consulta de saúde de adultos e erradamente o sistema marca para outra especialidade.
Temos uma pessoa a fazer a actualização do portal e das várias agendas e nem sempre as horas coincidem pois os horários dos médicos também vão mudando.
Em caso de erro de agendamento, o melhor é entrar em diálogo com responsáveis da Unidade de Saúde.

GC: Uma grande maioria da população que vem aos centros de saúde é envelhecida e pouco contacta com as novas tecnologias. Têm que continuar a vir marcar consultas presencialmente?
AP: Não precisa de ser a pessoa a vir marcar. Poderá ser um familiar. Nesta fase, o que é desejável é isso. Temos algumas juntas de freguesias que marcam as consultas aos próprios utentes via internet. Alvorninha, Óbidos, Amoreira, Olho Marinho são alguns exemplos que fazem esse serviço ao cidadão.

GC: Quando for solucionado o problema da rede telefónica, as pessoas poderão continuar a marcar consultas desse modo?
AP: Podem. Precisamos agora é de resolver este problema estrutural e de gestão da linha telefónica.

GC: Quando é que pensa que possa estar resolvida esta situação? O problema regista-se desde quando?
AP: Penso que o problema poderá estar ultrapassado em poucas semanas. Já o estamos a viver há algum tempo. A nossa central está ligada a Lisboa e há frequentemente sobrecarga. É um problema que todos os ACES’s têm estado a reportar e a própria ARS tem dificuldade em nos contactar.

GC: Qual é a percentagem de consultas marcadas pela Internet?
AP: Não sei dizer a totalidade… O que posso dizer é que nas agendas dos médicos há uma hora que está liberta para marcar consultas pela Internet. Normalmente as pessoas têm vaga. Só temos o constrangimento dos mais velhos não acederem à Internet… Também não têm consulta as pessoas que não têm médico de família.

GC: De quantos médicos precisa? Por que não tem mais?
AP: Neste momento temos 97 médicos, sendo que está a decorrer um concurso no qual estão contabilizadas três vagas para este agrupamento. Temos aqui uma questão complicada: desde Agosto aumentámos em 10 mil o número de utentes sem médico de família. Neste momento, só para os utentes regulares precisamos de mais 13 médicos. Se contarmos com os não regulares, ainda precisamos de mais seis. O problema é que não nos é possível contratá-los directamente.
Os nossos ficheiros ao nível da ARS é dos que têm mais unidades ponderadas (uma pessoa com mais de 75 anos equivale a dois utentes e meio). Temos a população mais envelhecida de todo a ARSLVT.
O ficheiro de um médico deve ter 2300 unidades ponderadas e os nossos chegam a perto dos 2800.
As crianças e os idosos consomem mais consultas e têm maior carga de doenças e é preciso mais facilidade no acesso. Todas as nossas unidades estão com utentes a mais, sobretudo se tivermos em conta as unidades ponderadas.
Quando tivermos médico de família para toda a gente vamos ter que reduzir os ficheiros dos médicos de família. No limite, a maior parte das USF modelo B têm cerca de 1800 a 1900 utentes. Temos médicos com 2000 utentes, o que é uma carga brutal.

GC: Quantos médicos se vão reformar nos próximos anos?
AP: Muitos… é algo que nos preocupa. Alguns estão em USFs modelos B… Já tenho dois ou três com mais de 65 anos e que continuam cá.
A média de idade dos médicos do quadro é de 63 anos, logo há vários com mais de 65 anos. Entre os assistentes técnicos há também pessoas que estão a chegar à idade de reforma.
Este ano vão sair três médicos ou, pelo menos, vão entregar os documentos para a reforma, depois mais dois que estão com atestados de longa duração e ainda dois ou três que se possam aposentar.

GC: E necessita de mais enfermeiros?
AP: Em 2018 tivemos um reforço na enfermagem, área que estávamos desfalcados pois tivemos vários profissionais que saíram por aposentação. Temos 124 enfermeiros, mas já estamos confortáveis. O número ideal seria 140.

GC: Quais são as maiores falhas em relação aos funcionários?
AP: Neste momento o nosso grande problema é a falta de assistentes técnicos e assistentes operacionais. E talvez por isso algumas unidades não conseguem fazer o atendimento telefónico.
Temos 107 assistentes técnicos, mas precisaríamos de 140. Apesar de tudo, temos vindo a receber mais alguns funcionários por mobilidade.
Entre as 24 assistentes operacionais, algumas estão a exercer funções de assistentes técnicas. A falta de assistentes operacionais, que executam funções de esterilização, limpeza e apoio aos gabinetes médicos, leva a que o ACES tenha recorrido a serviços externos.

 

16% da população sem médico de família

 

GC: Quantos utentes do ACES Oeste Norte têm médico de família?
AP: Têm médico de família 147 mil pessoas. Sem médico são 28 mil utentes, o que equivale a 16% da população. De referir que este número engrossou a partir de Agosto passado, com mais 10 mil pessoas sem médico de família.
No entanto, na sua maioria estas pessoas têm cuidados de saúde que são prestados por três médicos que voltaram, a meio tempo, após terem-se reformado. Actualmente também temos um protocolo com a Misericórdia das Caldas que permite assegurar um médico em Alvorninha, desde Janeiro, e já fizémos uma proposta igual à Misericórdia do Bombarral.
Ainda em relação às Caldas, a ARSLVT autorizou a contratação de um médico que está a fazer uma prestação de serviços de 40 horas.
A ARSLVT tem cerca de um terço da população do país. Aqui, temos quase todos os dias migrantes a querer fixar-se. Temos uma grande comunidade de franceses. Há muitos brasileiros e angolanos que nos procuram. Muitas vezes são pessoas que conseguiram emprego nesta zona. O que é certo é que o número de vagas não tem sido correspondente a este aumento de população.

GC: Corre bem a prestação de serviços médicos por parte de prestadores de serviço?
AP: As prestações de serviço nem sempre correm bem porque não temos qualquer vínculo com esses médicos e eles faltam muito. A própria empresa de prestação pode não conseguir encontrar prestadores para garantir a carga horária que pedimos.
A ARS permite-nos ter 160 horas neste regime e é raro o mês em que esta é cumprida. E também não o fazem conforme nós pedimos: queremos duas horas por dia em polos mais distantes do concelho e os médicos não vêm… preferem vir um dia e fazer 10 horas seguidas. São estas atitudes que não nos permitem dar acessibilidade às pessoas. E temos que aceitar as condições deles, caso contrário as pessoas não têm médico.
A ARS deu-nos a possibilidade de avançar com uma avença e com o protocolo com as Misericórdias locais de modo a tentar colmatar este constrangimento.

 

“Pedi dez médicos. Foram-me dados três.”

 

GC: Ao todo, precisa de 19 médicos, o que está a ser feito para os contratar?
AP: Há concursos que decorrem em duas épocas a nível nacional. A primeira são colocados em Julho/Agosto e depois há uma segunda época e eles são colocados em Janeiro. Eu pedi dez e foram-me dadas três vagas.
No ano passado vieram cinco médicos no primeiro concurso, mas depois eles saíram porque concorreram para mobilidade para a zona Norte, de onde eram oriundos. Ainda houve dois médicos que se reformaram.
Os internos que nós formamos aqui ao longo de quatro anos acabam por não conseguir ficar cá e têm que ir para outros locais.
Acho que deveria haver alguma obrigatoriedade de ficar algum tempo nas zonas onde são colocados e para onde concorrem. A bem das populações e dos utentes.

GC: Haverá novidades em relação ao reforço da equipa?
AP: Sim, vamos passar a ter dois dentistas e duas assistentes de gabinete. As consultas vão começar a funcionar, aguardamos apenas a chegada do material, em Alcobaça e Peniche, assim como nas Caldas e Óbidos, onde já há cadeira própria. No mínimo haverá uma cadeira por cada concelho. Acede-se à consulta após referenciação do médico de família.
No entanto vamos continuar a ter cheque dentista, algo que está acessível a seniores, crianças e pessoas com doença aguda. Quem não é abrangido pelo cheque dentista vai passar a ser atendido neste serviço.

GC: Os dois médicos dentista são suficientes?
AP: Não, mas foi assinado um protocolo com as câmaras no sentido de haver uma colaboração para esta prestação de cuidados.

GC: Qual é o orçamento do ACES Oeste Norte?
AP: Nós não temos orçamento próprio. Não temos autonomia financeira, nem temos NIF. Dependemos da ARSLVT. Qualquer aquisição é feita através da ARS, desde o lápis, borracha até à cadeira do dentista. Tudo o que queremos adquirir tem que ser autorizado pela ARS. Temos um fundo de maneio (muito reduzido) para as situações urgentes e imediatas. Enviamos as facturas e a ARS é que paga tudo o que tem a ver com a electricidade, com limpeza, ou com a segurança.
Tudo o que queremos adquirir está sujeito às regras da função pública.

A delegação de competências será benéfica

GC: Com a delegação de competências para as autarquias, acha que poderá mudar alguma coisa no ACES Oeste Norte?
AP: Penso que sim… Até porque os maiores eixos de despesa do ACES são a manutenção dos edifícios, da frota automóvel e a parte da limpeza e da higienização. Penso que as autarquias nos poderiam dar uma ajuda nestas áreas.
As nossas viaturas, por exemplo, são do século passado! Mandámos abater várias. No entanto, já recebemos dois carros eléctricos: um está no UCC do Bombarral e outro na USF Pedro & Inês em Alcobaça. Temos dois motoristas para fazer domicílios nas Caldas e um outro profissional vai buscar material a Lisboa.

“Faço um balanço muito positivo sobre as USF”

 

GC: Que balanço faz sobre as USFs?
AP: Faço um balanço muito positivo sobre as USF. As de modelo A têm um desempenho muito bom e que nos coloca num patamar elevado.
Benedita e Tornada são das primeiras. Surgiram em 2006 e passaram logo em 2008 para USF modelo B, assim que este foi regulamentado. Depois entrámos numa fase de maior estagnação até 2011. Com tantos doentes sem médico, enfrentamos problemas de recursos humanos em qualquer grupo e que nos impede de formar novas USF.
No final de 2017 foi criada uma em Peniche e este ano esperamos conseguir criar mais uma. Mas ainda não vou revelar a sua localização.

GC: As USF têm mais autonomia?
AP: Sim, as USF têm mais autonomia organizativa e também uma maior carga de trabalho. Os médicos têm que fazer um atendimento mais rápido e, se dentro de equipa alguém faltar, os restantes têm que se substituir entre si.
Há uma responsabilização da própria equipa. Os médicos das USF ganham uma remuneração diferente consoante os objectivos que cumprirem e a carga do ficheiro que têm.

 

GC: Gostaria que houvesse mais USF?
AP: Claro que sim. O meu limite era serem todas modelo B. Até em termos de gestão era muito mais fácil para mim porque delegava muitas funções neles e ficava mais aliviada.

GC: Nesse sentido gostaria que as próprias UCSP acabassem por desaparecer?
AP: No limite as UCSP vão desaparecer. A Coordenação Estratégica para os Cuidados de Saúde Primários assim o aponta. Em cinco anos deveríamos já ter tudo transformado em USF e há quem advogue que as UCSP devem passar a USF, mesmo que seja só na designação do nome, mas acho que se as USF são para constituição voluntária não o poderemos fazer, teremos que motivar os profissionais de saúde para que o façam.
No entanto, é difícil motivá-los quando não há recursos humanos, quando não há médicos.
Sempre fui contra fechar portas, não fechei nenhuma. As equipas têm que se deslocar lá. Mesmo no ano passado, com a crise de médicos que se registou na Amoreira e Olho Marinho, continuámos sempre com os pólos abertos.
Comparando com um ser humano, os primeiros 10 anos de vida das USF são anos de aprendizagem, depois é preciso fazer reajustes, e acho que estamos nessa fase.

GC:Os reajustes serão feitos em que áreas?
AP:Na definição do que são as USF, na sua evolução e na autonomia dos próprios ACES. Não estou a falar em questões financeiras porque não sei se é, de todo, desejável que tenhamos autonomia financeira.
Em termos de organização há necessidade de ter mais autonomia. Não posso estar dependente da ARS ou de um concurso público para fazer um determinado número de coisas. E já tivemos essa autonomia, que perdemos a partir de 2011, com a Troika, pelo que penso que estava na altura de rever a reforma e dar-lhe um novo ânimo e maior capacidade de decisão.
Passamos o tempo a reparar material e gastamos imenso. Temos uma equipa só para reparar mesas, biombos e cadeiras, com pessoas que vieram através do centro de emprego.

GC:O Perfil da Saúde do Oeste, mostra que a região tem uma baixa taxa de natalidade, é pobre e tem uma baixa capacidade de internamento. O que pode, e está a ser feito, para minorar esta situação?
AP: Com base nesse perfil vamos iniciar um plano e elencámos várias áreas, nomeadamente as doenças cardiovasculares, mental, oncológicas e diabetes. A parte preventiva e de informação cabe mais à Saúde Pública e temos já algumas câmaras com nutricionistas a colaborar, no âmbito do projecto Cidade dos Afectos.
Vamos apostar no estilo de vida saudável, alimentação e exercício físico ao nível da prevenção e começar a trabalhar na área da diminuição dos internamentos.

Foco ao nível da prevenção

GC: Quais são os principais problemas da população?
AP: As doenças cardio vasculares são o principal problema, a diabetes e a saúde mental também, embora tenham uma taxa baixa. Têm impacto pela sua carga de consumo de consultas e de medicamentos.
Depois temos a doença oncológica. Neste momento temos vários rastreios a decorrer, como o do colo do útero, do colo rectal e o dermatológico.

GC:Ou seja, o vosso trabalho é sobretudo ao nível da prevenção?
AP:Exactamente. Tudo o que seja alimentação, exercício físico e actividade de vida saudável estamos a prevenir várias coisas como diabetes, doenças cardiovasculares e, de certo modo, com o exercício físico, também a doença mental.
Por outro lado, começámos a fazer consulta de cessação tabágica em dois locais. Até ao fim do primeiro semestre do ano passado tínhamos cessação tabágica só no Coto, mas com a saída do médico por aposentação, abrimos consulta de cessação tabágica no centro de saúde das Caldas e outra no Bombarral, os sítios onde tínhamos mais utentes e onde temos enfermeiro e médico com formação na área.

GC:E a consulta da tuberculose?
AP:Tivemos um problema grave no primeiro semestre de 2018, com a reforma do médico, mas no segundo semestre conseguimos que assinassem um acordo com esse mesmo médico, para meio tempo, em que mantemos a consulta, que agora funciona no Bombarral. Estamos a prestar colaboração ao ACES Oeste Sul, à semelhança do que acontece com a consulta do viajante.

Saída de USF liberta edifício para outras valências

GC:Quando mudar a USF D. Leonor para a freguesia de Sto. Onofre que melhorias vão ser introduzidas aqui?
AP: Aqui vai dar-nos uma capacidade de expansão que neste momento não temos. A USCP está numas instalações reduzidíssimas, o que nos obriga a ter alguma ginástica de gabinetes em certas alturas.

GC: Essas melhorias serão, sobretudo, ao nível de espaço?
AP: Sim. Por exemplo, os dois psicólogos que deveriam estar no ACES neste momento estão em Óbidos porque não temos sítio onde os colocar.

“Há médicos que dão consultas em Londres e na região Oeste”

GC: Falando em Óbidos, tem havido falta de médicos para os utentes do Centro de Saúde. Actualmente a resposta está garantida?
AP: Neste momento a situação está resolvida. Entrou uma nova médica e os 1200 utentes que estão sem médico de família têm um médico aposentado, a meio tempo, a fazer a consulta.
Ao todo, está um médico na Amoreira e Olho Marinho, um no Vau, um em A-dos-Negros e estão dois médicos em Óbidos, sendo um deles aposentado. São cinco, sendo que um deles está a meio tempo.

GC: Uma das razões apontadas para essa frequente falta de resposta é o facto dos médicos serem contratados através de empresas prestadoras de serviço e, logo que têm oportunidade, vão embora. É verdade?
AP: Sim. Houve uma médica que veio ao abrigo do protocolo com Cuba, esteve cá três anos e, terminado o protocolo, saiu. Entretanto, passou para a prestação de serviços e quando uma unidade passa para essa modalidade é sempre muito complicado, quer em termos de assiduidade, quer de atribuição de médicos para aquela carga horária porque não há médicos no mercado.

GC: O que é preciso fazer para os atrair?
AP: É muito complicado. Se olharmos para a média de ordenado de um português os médicos ganham bem, mas se formos comparar com o que ganham estes profissionais noutros países, a diferença é muito grande, ainda mais com a facilidade que há hoje em viajar.
Neste momento há médicos que vão semanalmente, em prestação de serviço, a Londres e também fazem horas no ACES Oeste Norte através de empresas de prestação de serviços.

“Não vamos fechar Alfeizerão”

GC: Também em Alfeizerão foi tornado público a falta de médicos.
AP: É verdade, há falta de médicos em Alfeizerão e S. Martinho do Porto. Desde início do ano passado uma das médicas está com atestado de longa duração e provavelmente será aposentada. Alfeizerão e S. Martinho não têm número de utentes suficiente para ter dois médicos em cada lado e as duas médicas partilhavam o ficheiro com um médico de Alfeizerão.
Essas médicas passaram para as 40 horas, o que aumentou a carga do ficheiro e dá-nos ainda menos hipótese. Depois foi lá colocado um médico que saiu por mobilidade e eu não posso colocar a vaga a concurso enquanto a médica não se aposentar.
Falta-nos um médico. Neste momento temos a prestação de serviços a ajudar, com todas as contingências.
O problema é que as pessoas acham que vamos fechar o centro de saúde em Alfeizerão porque até se fez uma unidade nova em S. Martinho, mas isso não vai acontecer.

GC: Não está previsto o fecho de nenhuma unidade de saúde?
AP: Não. Podemos ter dificuldades em colocar médicos e no acesso que estamos a dar, mas não vamos fechar.

GC: Quais são os concelhos com maiores carências de médicos e enfermeiros?
AP: Peniche e Bombarral. Espero poder abrir uma vaga para o Bombarral e duas para as Caldas da Rainha. São três vagas para o ACES. Quando os profissionais vierem, vou dizer-lhes os sítios para os quais preciso de médico e pergunto-lhes para onde querem ir, depois de verem as condições que têm nos sítios e a equipa de trabalho.

GC: Estamos a falar da falta de quantos médicos nestes concelhos?
AP: Na UCSP das Caldas preciso de quatro médicos: um para a Foz do Arelho, um para Alvorninha e dois para as Caldas. Para o Bombarral precisamos de três médicos. Na UCSP Litoral (Alfeizerão) precisamos de um, na D. Nuno (Aljubarrota) precisamos de um e em Peniche precisamos de quatro.
Em Peniche, como a unidade está a receber obras de beneficiação, que deverão estar prontas este mês, aí pensamos que poderá ser mais aliciante. No Bombarral o edifício é bom.

GC: Como é feita a articulação, por exemplo, dos nutricionistas?
AP: As câmaras da Nazaré e Óbidos, por exemplo, têm nutricionistas que estão em articulação connosco. Quando os municípios não têm nutricionista tenta-se arranjar uma estratégia para que eles possam contratar, porque têm mais facilidade em fazê-lo e partilhar connosco.
Relativamente aos psicólogos, temos três no ACES e há quatro outros que trabalham connosco na parceria da Saúde Mental. Para o ACES precisávamos de mais um psicólogo.
Temos ainda a parte da Pedopsiquiatria em colaboração com o Hospital de Santa Maria, em que vêm cá uma vez por mês dar consulta.

Gripe ainda com pouca expressão

“Neste momento ainda não há praticamente gripe, ou há muito poucos casos. Nada que se estime superior ao pico que tivemos, em 2015”, explica Ana Pisco.
O ACES entrou a semana passada na segunda fase do plano de contingência da gripe, que consiste na desmarcação de consultas programadas para os médicos terem mais vagas e no alargamento das equipas. Só numa terceira fase, e caso seja necessário, é que está previsto o alargamento em termos de carga horária.
Tendo em conta que nos anos anteriores o principal problema foi a grande afluência ao Serviço de Urgência por situações de doença ou gripe, e a consequente falta de camas, o ACES desafiou o CHO a fazer uma reunião conjunta com os lares e unidades de convalescença. Na sequência desse encontro, o CHO criou uma linha de contacto para que essas unidades possam reportar as situações antes de a transferirem para o hospital.
Foi feita outra reunião para os despertar para a campanha da vacinação. “Normalmente atingimos taxas de vacinação acima dos 60% da vacina da gripe nos lares”, explicou Ana Pisco.

O ACES Oeste Norte em números

•6 concelhos
(Caldas da Rainha, Alcobaça, Óbidos, Nazaré, Peniche, Bombarral)
•18 unidades de saúde
•6 Unidade de Cuidado de Saúde Personalizado (UCSP)
•9 Unidades de Saúde Familiar (USF)
•3 Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC)
•1 Unidade de Saúde Pública (USP)
•171.600 habitantes (população abrangida)
•179.000 utentes
•147.000 com médico de família
•28.000 sem médico de família
•10 veículos ligeiros

Consultas dadas em 2018

•Consultas programadas:
241 mil (2017) e 236 mil (até Novembro de 2018)

•Consultas não programadas:
317 mil (2017) e 327 mil e 500 (até Nov. 2018)

•Total de actos médicos:
558 mil (2017) e 563 699 (até Nov. 2018)

•Total de actos não médicos (psicologia, serviço social, fisioterapia, higiene oral):
3 186 mil (2017) e 5 128 (até Nov. 2018)

 

CHO vai garantir exames aos utentes do Centro de Saúde

“O CHO vai realizar exames complementares a utentes que se desloquem às nossas unidades”

A interligação entre os centros de saúde e o Centro Hospitalar do Oeste é cada vez mais efectiva. Será possível fazer exames no hospital a doentes diagnosticados nos centros de saúde e o seu médico de família analisá-lo em tempo útil. O CHO está também a preparar-se para poder fazer o rastreio durante o primeiro trimestre de gravidez das utentes que são seguidas no ACES, evitando assim a ida ao privado.

GC: A presidente do CHO já anunciou que pretende restringir o acesso às urgências contando para isso com a ACES Oeste Norte. Já houve contactos entre as duas entidades?
AP: Temos reunido mensalmente. Começámos por preparar, em articulação, a campanha da gripe.
Foi também definido que o CHO vai passar a prestar-nos serviço em exames complementares de utentes que se desloquem às nossas unidades com doença aguda. Por exemplo, um doente que venha à nossa unidade com dificuldade respiratória é enviado, pelo médico de família, ao hospital para fazer uma análise e Raio X do tórax, recebe o resultado e vem novamente ao seu médico para este prescrever a receita.
Há uma complementaridade. Pretendemos que o utente perceba que nos cuidados de saúde primários pode ser atendido com exames complementares feitos no próprio dia com uma qualidade idêntica à que é feita nos serviços de urgência.
Por outro lado, três unidades do concelho das Caldas, as USF de Tornada, Bordalo Pinheiro e Rainha D. Leonor (três modelo B) aceitaram fazer uma experiência-piloto com o hospital. Os doentes com prioridade de triagem de cor verde ou azul (considerados menos urgentes) são convidados a aceitar agendamento directo de consulta nestas unidades e têm a garantia de que são atendidos no mesmo dia ou, no limite, em 24 horas. O objectivo é libertar a urgência e para que o doente não esteja lá tantas horas à espera.
Também pedimos para estabelecer protocolos para a esterilização do material e começar com o rastreio da gravidez no primeiro trimestre.
Para nós é muito importante que esse rastreio seja feito no hospital das Caldas, mas antes é preciso a aquisição de algum equipamento. O Conselho de Administração está disponível para o fazer e podermos avançar. A grávida faz o rastreio no primeiro trimestre e depois volta para os nossos serviços para ter as restantes consultas de gravidez, sendo depois referenciada para a consulta de Obstetrícia. Estamos com grandes problemas em termos de ecografias e este rastreio inclui a ecografia do primeiro trimestre para além de outras análises.
Isto para nós é muito importante porque neste momento as grávidas têm que fazer as ecografias no privado. Gostaria que tal já fosse possível no segundo semestre de 2019.
Temos outros protocolos, nomeadamente na saúde mental, com as equipas de saúde mental.
Já em Abril tínhamos assinado na ARS os critérios de referenciação tanto para os médicos de família em relação ao hospital, como vice-versa. Isto foi feito com o anterior Conselho de Administração e ficámos a saber que tínhamos sido o primeiro ACES a fazer um protocolo de referenciação com um hospital, por escrito, e que estamos a tentar implementar em todos os serviços.

GC: A experiência piloto com as três USF pode ser depois replicada?
AP: Este projecto está a ser feito, com algumas alterações, no hospital de Barcelos. Por outro lado, como vamos ter a possibilidade de pedir as análises e os Raio X, também vai criar nos utentes a confiança de que se vier à USF este fará os exames que forem necessários.
Paralelamente, todos os doentes que tivermos que enviar, com urgência, para o hospital levarão uma carta e serão triados e vistos por um profissional diferenciado, que o possa encaminhar.
GC: A incapacidade de resposta por parte do CHO tem levado os utentes que são referenciados pelos centros de saúde para outros hospitais, o que aumenta os custos, tanto para os serviços como para os utentes. A situação continua?
AP: A situação está a ser alterada. Em primeiro lugar porque saiu uma legislação em que podemos referenciar para onde o utente quiser ir e há a possibilidade de escolher o hospital que tenha menos tempo de espera.
Além disso, a plataforma onde fazemos a referenciação já não é actualizada desde 2014 (vai ser substituída este ano) e estão ali carregados muitos utentes que não tiveram consulta e que estão a mascarar os tempos de espera.
O Hospital envia-nos listagens de utentes que estão há mais de x tempo. Nós filtramos e fazemos o envio para as respectivas unidades, que avaliam se aquele utente ainda precisa da consulta ou se já foi atendido e o sistema é limpo.
Tem a ver com prioridades de doentes e muitas vezes o que fazemos é um contacto telefónico para tentar resolver o problema e que o utente seja atendido em tempo útil.

GC: Tem alertado para a necessidade de trabalhar em rede para fazer um efectivo plano de saúde. Essa articulação está a ser trabalhada?
AP: Sim, até porque a passagem do CHO a EPE facilita essa articulação. Tem, por exemplo, majoração de consultas e um contrato que os obriga a ser mais céleres e a terem um maior interesse em prestar aquele serviço bem e em tempo útil.

 

Comissão de utentes reúne com entidades ligadas à saúde

A Comissão de Utentes do CHO vai realizar, no próximo dia 30 de Janeiro, pelas 14h30, no Inatel da Foz do Arelho, uma reunião com as entidades ligadas à saúde e que terá como tema “Saúde no Oeste e Soluções”. Entre os assuntos em debate, estarão o balanço do ano pela comissão de utentes, soluções pela saúde e a construção de um novo hospital.
Na passada terça-feira já tinham confirmado a presença no encontro a presidente do Conselho de Administração do CHO, Elsa Baião com dois assessores bem como os autarcas das Caldas da Rainha, Óbidos e Bombarral.