Vinte e um dos 23 alunos do Colégio D. Leonor que frequentaram a disciplina de Direito do 12º ano obtiveram a classificação de vinte valores. E os dois restantes tiveram 19 e 17 valores.
O estabelecimento de ensino diz que isso se deve ao facto de ser uma disciplina opcional para a qual os alunos estão muito “motivados”, mas uma análise aos resultados do 12º ano evidenciam que as notas das disciplinas que não têm exames nacionais estão inflacionadas. Isso faz com que os alunos deste colégio tenham vantagem no acesso ao ensino superior. Comparando as médias das disciplinas optativas anuais, o Colégio regista 18,1 valores, enquanto as escolas Raul Proença e Bordalo Pinheiro, registam, 16,0 e 15,4 valores, respectivamente.
Direito, Sociologia, Inglês, Química, Física e Biologia foram as disciplinas opcionais anuais das turmas de 12º ano do Colégio neste último ano lectivo. Sendo opcionais, não estão sujeitas a exame nacional e, portanto, a sua classificação final depende exclusivamente da avaliação do professor.
Em 2015/2016 a média geral das notas obtidas nestas cinco disciplinas foi de 18,1 valores. Para este resultado contribuíram principalmente as classificações atribuídas em Direito: 21 dos 23 alunos que escolheram esta opção foram classificados com 20 valores. Os dois restantes com 19 e 17, o que perfez uma média de 19,8 valores à disciplina.
Química surge com a segunda melhor média global (18,3), seguindo-se Sociologia (18,1), Inglês (17,6), Biologia (17,6) e Física (17,4). No total frequentam o 12º ano desta escola 193 alunos.
Gazeta das Caldas teve acesso às pautas de avaliação do Colégio e deu conta de casos em que alunos do curso de Línguas e Humanidades com notas negativas a disciplinas como Português e História (sujeitas a exame nacional) obtiveram entre 17 a 20 valores a Direito ou Sociologia. De destacar o exemplo de um aluno que nem sequer ficou aprovado para exame a Português (obteve sete valores), mas que tanto em Sociologia como em Direito é avaliado com 20.
Já as Escolas Secundárias Raul Proença e Rafael Bordalo Pinheiro apresentaram médias gerais (relativas às disciplinas optativas do 12º ano) de 16,0 e 15,4 valores respectivamente. Ambos os resultados distanciam-se significativamente da média do Colégio Rainha D. Leonor: 18,1. Na Raul Proença abriram 11 disciplinas opcionais (para 338 alunos) e na Bordalo Pinheiro seis disciplinas (para 114 alunos).
Gazeta das Caldas questionou o Colégio Rainha D. Leonor sobre o facto de 91% dos alunos de Direito terem tido 20 de nota final àquela disciplina, tendo recebido a seguinte resposta da Direcção Pedagógica:
“De facto houve notas de excelência nesta disciplina, o que são óptimas notícias. Apesar de estarmos perante um número que não é representativo da generalidade da turma – já que esta é uma disciplina opcional frequentada por alunos de duas turmas, o Colégio Rainha D. Leonor orgulha-se, naturalmente, do empenho e dedicação dos seus alunos que conseguem resultados de excelência. Tendo em conta a particularidade da disciplina, com a qual os alunos desta faixa etária se identificam, pois começam a despertar para a realidade desta área enquanto instrumento regulador da vida social, é natural que a motivação seja maior do que noutras áreas, e isso reflecte-se nos resultados”.
O nosso jornal perguntou ainda como se justifica a disparidade das notas entre as disciplinas que vão a exame e as disciplinas optativas, mas não obteve resposta. O Colégio também não se pronunciou sobre os casos de alunos com notas negativas a Português e História que tiveram 17 e 20 valores a Direito ou Sociologia.
Para a média final de um aluno as classificações das disciplinas optativas têm o mesmo peso que as das disciplinas específicas sujeitas a exame nacional (algumas bianuais e trianuais). Por isso, esta inflação das notas às disciplinas optativas, embora não conte para os rankings dos exames, tem impacto nas médias de acesso à faculdade.
PÚBLICO VERSUS PRIVADO
Um estudo do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da Universidade do Porto, publicado na “The International Journal of Higher Education Research” (uma revista de referência na área das Ciências da Educação) demonstrava que em Portugal os alunos das escolas privadas têm maior probabilidade de aceder ao ensino superior do que os das escolas públicas.
Contudo, e de acordo também com a Universidade do Porto, os alunos das privadas acabam depois por ter pior desempenho no ensino superior do que os do público. Um estudo que seguiu o percurso académico de 4280 estudantes universitários constatou que entre os 2260 que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três primeiros anos provinham de escolas públicas e apresentavam melhores resultados do que os das privadas.
O estudo do CIIE separa, contudo, as escolas privadas com contrato de associação daquelas que não dependem de financiamento estatal. E conclui que nas que tem contrato de associação, as médias finais estão mais próximas das das escolas públicas do que das das privadas sem contrato de associação.
Carlos Cipriano e Maria Beatriz Raposo
“No Colégio não se fazem testes na maioria das disciplinas opcionais do 12º ano”
Bernardo Horta, 21 anos, foi aluno do Colégio Rainha D. Leonor do 5º ao 12º ano e contou à Gazeta das Caldas que “não se fazem testes na maioria das disciplinas opcionais do 12º ano”, dando como exemplo as unidades curriculares de Inglês, Direito e Física.
“O método de avaliação passa por fichas, trabalhos e mini testes”, assegurou, acrescentando que a Inglês o seu único momento de avaliação foi uma prova oral. “Passávamos as aulas a preparar as lições de Inglês que depois íamos dar às crianças da Santa Casa da Misericórdia. Raramente demos matéria”, afirma Bernardo Horta.
O ex-aluno deu conta que a exigência nas disciplinas opcionais era menor que nas disciplinas sujeitas a exame. Os professores diziam-lhe, inclusive, para se “preocupar” mais com as segundas do que com as primeiras.
No último ano lectivo Bernardo Horta concluiu o 12º ano na Escola Secundária Raul Proença e notou diferenças desta escola para o Colégio Rainha D. Leonor. “Até mudar de escola eu só conhecia uma realidade: a do Colégio. Pensava que não fazer testes era normal. Assim que cheguei à Raul Proença verifiquei que o método de avaliação incluía testes tanto nas disciplinas com ou sem exame”, realçou.
Gazeta das Caldas confrontou o Colégio Rainha D. Leonor com estas declarações, mas não obteve resposta.
É impressão minha ou aqui anda marosca?
Isto é o que dá dar notas de 20 valores a quase todos os alunos para inflacionar as notas e assim estes alunos terem um acesso mais fácil ao ensino superior… (e as escolas terem melhor ranking em portugal).
Mas aqui há um problema, como as notas não reflectem o que estas crianças realmente sabem, quando chegam ao ensino superior ou ao exames nacionais, espalham-se ao comprido e obtêm notas negativas ou mais baixas que nestes colégios, o que para elas deve ser estranho.
Mas é o que há quando uma escola privada apenas dá vintes para que esta tenha melhor ranking nas escolas nacionais e assim ter melhores chances de atrair alunos. E claro, o pessoal andar a dizer que “o privado é melhor que o público”, sim, é melhor mas de maneira artificial, visto que as notas não reflectem a real qualidade dos seus alunos.
As escolas públicas dão notas realistas porque eles não competem para ter os melhores alunos ou os com mais dinheiro, porque vai dar exactamente ao mesmo: é grátis para todos, logo todos recebem a nota que realmente valem, não que ajuda a ficarem melhor colocados no curso X ou Y ou para que a escola pública tenha melhor ranking.
Tretas! É na escola privada e na publica igual. Eu frequentei até ao 12º uma escola pública, área electrotécnia/eletronica e tínhamos 2 ou três disciplinas onde ninguém tinha menos de 15-16 valores, e a maior parte tinha 18 a 20 valores.
Este sistema de entrar na universiidade por notas e exames está a ser distorcido. Os alunos não estudam para saber, mas para concorrer as poucas vagas que o governo oferece. Mas o pior de tudo é a deturpação das notas dos colégios privados e o rigor das notas no ensino público, o professor da escola pública, pensa que ajuda o aluno sendo mais rigoroso nas avaliações e acaba por prejudicar a sua conclusão do 12o e a sua entrada para o curso e universidade pretendida.
Disciplinas sem exames? acabem ou passem a ter exames…
Façam exames e a desbunda é atenuada.
Ó Tretas,
Para a gente acreditar no que diz, podia dizer qual é essa escola? A Gazeta não manda só bocas: diz os nomes. É mais convincente…
Espero que a comunicação social, diga aos portugueses (Povo) que que continuam a comer ás cantinas 33 mil crianças. E responsabilizar o sucessivos governos ! O pior desses governos todos , foi o ex-governo neoliberal de coelho e portas ,sempre como apoio do cavaco, o pior presidente de todos os tempos! Quanto ao artigo em sim, não é para admirar!
O MP não pode intervir neste escândalo? tal como investigar os colégios privados cujos alunos resolvem os testes de exame previamente (antes do exame oficial ser realizado…)?