
É num cabeço em Barrantes que três sócios se dedicam à produção de microvegetais (rebentos germinados). Nas suas estufas crescem cerca de 50 variedades diferentes de que abastecem restaurantes gourmet de Lisboa e das Caldas da Rainha.
O projecto Quintal Urbano nasceu há três anos em Lisboa, com o casal Patrícia Justiniano e Nuno Alves, ao qual viria a juntar-se mais tarde o caldense David Barros. Agora os três são agricultores em Salir de Matos.
Patrícia Justiniano (35 anos) e Nuno Alves (37 anos) começaram por fazer “umas brincadeiras” em casa com recurso à hidropenia (cultura em água) e produziam legumes para consumo próprio com recurso a água e a substrato. Estava-se em 2014 e o casal, apaixonado pelo conceito de agricultura saudável e sustentável, continuou a fazer experiências, a plantar várias espécies de aromáticas e de hortícolas. Estes são colhidos pouco tempo após o rebentar da semente, quando desponta a primeira folha. São rebentos com caules minúsculos e concentram o que de melhor possui o vegetal: cor, textura e sabor.
Nessa altura produziam em Lisboa, no terraço da sua casa e, por isso, a designação do projecto de “Quintal Urbano”.
No entanto, quando um cliente lhes pediu um quilo de micro vegetais por semana, perceberam que era altura de crescer. Decidiram alugar em terreno na periferia de Lisboa só com uma estufa, “mas um ano depois tivemos que mudar para aqui para Barrantes para terrenos da família”, contou a caldense Patrícia Justiniano. Ela deixou de ser técnica de análises clínicas (é licenciada em engenharia biotecnológica) e ele deixou a engenharia informática.
Agora têm 200 metros quadrados de área em duas estufas e produzem 40 a 50 variedades de micro vegetais e hortícolas para meia centena de clientes em Lisboa e para oito nas Caldas, todos na área da restauração.
Há um ano, David Barros, 38 anos – que anteriormente era engenheiro físico – uniu-se ao projecto pois já se dedicava à produção de micro vegetais há cinco anos em Tornada. “Juntando as forças é mais fácil trabalhar… Foi ouro sobre azul”, disse o caldense.
Contam que produzem o que os clientes lhes pedem, recordando que tudo o que se coloca no prato é comestível, sejam flores ou qualquer micro vegetal como rabanetes, manjericão, nabos, ervilha, milho doce, rúcula e cenouras ou ainda aromáticas como manjericão, salsa, coentros, mizuna e mostarda. Produzem também ervas que, em alguns locais, até são consideradas daninhas como as urtigas, as azedas e as beldroegas.
“Pedem-nos coisas bonitas e diferentes”, contou David Barros explicando que, além dos 58 clientes de restaurantes ainda fornecem duas lojas da especialidade. O caldense explicou que os seus clientes se preocupam sobretudo com a estética dos seus pratos, logo a cor e a textura dos microvegetais são muito valorizados. O Quintal Urbano ocupa-se também também da distribuição e comercialização do que produzem.
Nestes três anos, dizem, fizeram um investimento de cerca de 50 mil euros e a mudança para as Caldas, terra natal de Patricia Justiniano, foi feita sem parar a produção.
Um vaso de 9 por 9 cm de coentros vivos custa dois euros e um tabuleiro de mistura de vários tipos de couves pode custar 10 euros. “Apanhamos as folhas uma a uma para que estas sejam preservadas e usadas inteiras nos pratos”, explicaram os sócios, ao mesmo tempo que explicam que vendem microvegetais vivos e que depois voltam a recuperar os tabuleiros com terra pois apostam no minimo desperdício possível. A empresa quer crescer de forma sustentável, sem pressas e sem querer deixar de ser um projecto regional dado que não querem perder o controlo sobre a produção.
“Agora falta-nos um pouco de tempo livre para nós”, disse Patrícia Justiniano. A responsável gostava também de “aproveitar os saberes das pessoas da região na utilização das várias plantas”. Além do mais pretende, no futuro, dar a conhecer o Quintal Urbano a escolas e entidades locais e ainda fazer workshops sobre microvegetais.