Quintas pedagógicas da região proporcionam experiências com animais e na natureza, para aproveitar no verão

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A eira é o palco da Quinta das Cocas, cujas estruturas foram e continuam a ser construídas por Micaela com a ajuda da família, a partir de materiais reciclados
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Verão é tempo de praia, mas também de campo. Na região, há quintas pedagógicas que oferecem experiências com animais, ideais para viver em família, bem como atividades para as férias. Venha connosco neste fungagá da bicharada

Cabras anãs passeando pelo terreno, convivendo pacificamente com leitões vietnamitas e até mesmo galos e cocas, que andam em liberdade, enquanto, do outro lado da cerca, gozando de um amplo território, a família ovina pasta. Assim vive a bicharada na Quinta das Cocas, nos Infantes, Salir de Matos, Caldas da Rainha, que alberga mais de 30 animais, incluindo cães, gatos, coelhos anões ou tartarugas, e que abriu ao público este ano. Também no Olho Marinho, Óbidos, o triunfo é… dos porquinhos, que até dão nome à outrora Quinta da Eira, que abriu portas a 8 de abril.
Curioso é também o facto de, na Quinta das Cocas, o palco, onde, a título de exemplo, decorrerão as atividades dos campos de férias, ser precisamente uma eira, e com uma vista privilegiada para o denso pinhal. Semelhanças não faltam, não seguissem as quintas o mesmo conceito, havendo algumas inusitadas, como a acabada de referir. Porém, há uma diferença de realçar: “a Quinta das Cocas não é uma quinta pedagógica, é uma quinta de experiências”, conta a responsável, Micaela Santos.
O trabalho na quinta, que se situa no terreno contíguo à sua casa, é “quase um hobby”, apesar do cuidado dos animais ser a sua “maior preocupação diária”. Profissionalmente, a caldense é gestora. Por isso, Micaela afirma que o seu projeto é algo “mais pequenino”, que “estamos sempre a construir”, e que, “quem sabe, um dia, será uma quinta pedagógica”. Por agora, “as famílias podem vir e usufruir da experiência de estar, da natureza, dos miúdos colaborarem com os animais”.

A Cabana dos Porquinhos fica situada na Rua da Azenha n.º 19, Olho Marinho

Atualmente, a quinta está aberta ao primeiro e terceiro sábados do mês, das 10h00 às 12h00, sendo os acessos livres, apesar de ser necessário efetuar reserva. Ao convívio com os animais acresce a possibilidade das crianças os alimentarem.
“Cheguei a ter aqui algumas crianças que nunca tinham visto uma galinha viva. E isto chocou-me. Daí também o nosso projeto tentar chegar a todas, para que todas possam ter a experiência de conviver com as cabras, as galinhas, os patos, os porcos, as ovelhas…”, afirmou Micaela Santos.
Em agosto, depois de muito incentivo recebido da parte dos amigos, a gestora que adora animais decidiu abrir campos de férias.
A primeira semana já está esgotada, mas ainda há vagas para a segunda e terceira, respetivamente, a última semana de agosto e a primeira de setembro. Tendo trabalhado muitos anos com artesanato, Micaela decidiu convidar Sílvia Jácome, ceramista residente em Salir de Matos, para abrir o programa das festas, numa semana em que também haverá ioga com Ana Patrícia Vinagre. Na segunda semana, a professora de ioga e biodanza volta a ser convidada, juntando-se a ela Susana Pestana, que irá contar a história de “Maria, o pequeno raio de Sol”. Na terceira semana, o palco será de Tânia Gomes, autora de “O ouriço que só comia bagas vermelhas”, e o segundo convidado ainda está por decidir.

Manon le Corre é fã de animais desde criança, e o seu pai tem um hotel para cães na mesma quinta
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Para além destas atividades, serão feitos saquinhos dos aromas com plantas de cheiro, como a alfazema, a sálvia ou o alecrim; a construção de uma moldura da natureza, com folhas e objetos recolhidos na quinta, ou ainda a pintura de um saco tradicional de algodão, como recordação da semana na quinta. E, claro, também não faltarão os jogos tradicionais, como o do pião, o jogo da corda ou das sacas. O objetivo é “tirá-los dos ecrãs e eles terem a noção que podem fazer coisas com as mãos para além de mexer nos telemóveis”. Cada semana tem o custo de 85 euros, com almoço incluído, e as reservas podem ser feitas através da página do Facebook.
Mas as novidades na quinta não ficam por aqui. Julho foi o mês de dar início às festas de aniversário. Não há trampolins nem insufláveis, mas há atividades na horta, entre outras diversões que os pais podem selecionar, sendo a primeira oferta, juntamente com os convites em formato digital, as lembranças do aniversariante para os convidados e uma hora de pinturas faciais com uma animadora, que também pode ser estendida.
A quinta tem andado a todo o gás, com a ajuda dos padrinhos, que oferecem 10 euros por mês para cobrir despesas com a alimentação e cuidados de saúde dos animais, em troca de descontos e vantagens, como a possibilidade de viver um dia por mês em que o espaço está por sua conta. A venda de merchandising sustentável, como o jogo das cocas (uma variante do jogo do galo), cujas peças são cabeças de animais da quinta em biscuit e o tabuleiro um bordado feito à mão, também ajuda a pagar as contas, estando os produtos no centro de aprendizagem, os Anos Verdes e redes sociais.
Hoje, já são mais de trinta os animais que vivem na quinta das “malucas das cocas”, as primeiras galinhas a chegar à estação, e que andavam sempre a fugir das mãos de Micaela. E já estão todos praticamente apadrinhados, apesar de novos padrinhos serem bem-vindos, porque um animal pode ter vários.
Mas tudo começou apenas com Óscar, o carneirinho, em 2018. “Ele veio para cá na barriga da mãe, que veio emprestada, e, quando nasceu, o meu filho disse-me: Temos de ficar com ele! A seguir ao Óscar veio a Jacinta, e depois dela veio o Adão [o bode anão], e uma panóplia de animais… A título pessoal, não me passava ainda pela cabeça algum dia fazer disto um projeto de vida”, contou.
Em 2021, os animais da quinta da EBI de Santo Onofre foram transferidos para a Quinta das Cocas, que, assim, ganhou patos, uma cabra, e porcos, que geraram mais porcos… Mas os animais não perderam o contacto com os alunos da escola, também frequentada pelo filho de Micaela, que os vão visitar.

Manon le Corre e João Bruno gerem a Cabana dos Porquinhos, que abriu a 8 de abril

Uma quinta para animais resgatados
A Cabana dos Porquinhos, no Olho Marinho (Óbidos), é lar para animais resgatados. “Eles viviam sozinhos, atados a uma corda, e nós decidimos recuperá-los do habitat onde estavam e abrir uma quinta pequena, para quem não tem possibilidade de ir muito longe poder ver animais”, explica a francesa a residir em Portugal há quase oito anos, Manon le Corre, que gere a quinta pedagógica juntamente com o namorado, João Bruno, e cujo gosto pelos animais herdou do pai, que gere o hotel para cães também ali situado.
“Temos araras e um mocho, o Grand Duque, que já estão connosco há quatro anos”, exemplificou a jovem, que estuda na ETEO. As araras viviam, sozinhas, num apartamento, em Lisboa, e o mocho foi encontrado em Espanha, atado a um tronco.
“Todos os animais que estão aqui têm uma vida um pouco complicada, mas já se começaram a habituar ao novo habitat e às pessoas, e estão cada vez mais recetivos ao toque humano. Dantes tinham medo quando nos aproximávamos, mas agora até temos duas cabrinhas que andam sempre à solta, à nossa volta”, continuou.
A quinta está aberta de quarta-feira a domingo, incluindo feriados, das 10h00 às 18h00, realizando visitas diárias e acolhendo grupos escolares, para além de alugar o espaço para festas de aniversário. Outra oferta é a Quinta VIP, em que uma família pode alugar o espaço por um dia, durante o qual ele está por sua conta. Sem esquecer as atividades organizadas em dias temáticos, como o Dia da Família, nos quais se costuma realizar uma caça ao tesouro e há descontos. É na página de Facebook que as atividades vão sendo anunciadas.
Oito pistas de minigolfe complementam os recintos dos animais, construídos por Manon com a ajuda da família, onde habitam quatro cabritas anãs, duas cabras portuguesas, dois porcos-ovelha, um porco vietname, dois porcos Kunekune (os únicos animais da quinta que não foram resgatados), oito coelhos Mini Teddy, dois coelhos gigante, oito galinhas, quatro gansos, duas araras, um mocho, um pónei e duas burras.
“Tenho gostado muito de trabalhar neste projeto, porque não é apenas o meu sonho, mas o de muitas pessoas que nunca tinham visto, tocado ou alimentado um coelho ou uma cabra, e que dizem que é o melhor dia da sua vida”, comenta a jovem francesa, que optou por manter o nome “Cabana dos Porquinhos” mesmo depois da mudança de planos, em que àqueles se vieram juntar todos os outros animais já resgatados, num autêntico fungagá da bicharada! ■

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