
A Rede Europeia das Cidades Históricas com Termas (EHTTA) – da qual Caldas da Rainha faz parte – quer que os cidadãos europeus possam escolher as termas dos vários países onde possam fazer tratamentos comparticipados. Este é um dos objectivos centrais daquela entidade, juntamente com a Associação Europeia das Estâncias Termais, que, a ser concretizada, muito poderá beneficiar Portugal e as próprias Caldas da Rainha (quando as termas reabrirem).
Caldas foi a primeira cidade portuguesa a integrar a rede, em Março de 2015, que irá receber em Maio do próximo ano a Assembleia Geral Europeia, em que participam representantes das termas de 13 países.
Caldas da Rainha estará presente em Estrasburgo, integrada na Rede Europeia das Cidades Históricas com Termas (EHTTA), no próximo dia 15 de Setembro, para fazer lobby junto dos eurodeputados para obter benefícios para o termalismo. A ideia é acabar com as fronteiras também nas termas, criando a possibilidade de os cidadãos que têm apoios ao nível da segurança social, serviços de saúde e de seguros, poderem escolher as estâncias onde querem ser tratados.
A informação foi dada pelo responsável pelas relações internacionais da task-force da associação, Lucas Bruschi, que pertence às termas italianas de Salsomaggiore, na apresentação da rede, que decorreu no passado dia 27 de Agosto, integrada na Feira dos Frutos.
Na reunião será também apresentado um Atlas Termal da Europa, criado no âmbito daquela associação, que consiste numa plataforma informática que reunirá a informação sobre as estâncias termais, incluindo a oferta patrimonial, cultural, hoteleira e de serviços que os termalistas poderão encontrar nas respetivas cidades. Mondariz (Espanha) e Bath (Inglaterra) já fazem parte do Atlas e as Caldas deverá ser a terceira cidade a integrá-lo, a par de Burça (Turquia). A decisão será tomada na próxima assembleia geral, que decorrerá em Outubro em Itália.
Lucas Bruschi disse tratar-se de um “documento muito ambicioso”, cujo objectivo é mostrar às instituições europeias a importância do termalismo.
Referindo-se às Caldas, o responsável salientou que a cidade tem um papel muito importante na rede europeia que envolve 13 países com termas e arquitectura termal. Considera que aqui deve ser combinada a gastronomia, vinhos, património cultural e termas para atrair turistas, destacando que cada vez mais as experiências oferecidas por cada local são importantes.
O responsável italiano visitou o Hospital Termal e concorda com os projectos que a Câmara tem para relançar o termalismo, realçando que é importante criar novos destinos turísticos relacionados com esta área. “Acho que é muito bom construir um novo hotel nos Pavilhões do Parque porque, especialmente turistas americanos, procuram hotéis de cinco estrelas”, disse, acrescentando que é preciso combinar o termalismo tradicional, terapêutico e de bem-estar com alojamento de alta qualidade.
Um mercado em crescimento
Também a Associação das Termas de Portugal (ATP) estará presente na deslocação a Estrasburgo para defender medidas como a “mobilidade dos termalistas, com a possibilidade de os respectivos estados comparticiparem tratamentos efetuados noutros estados-membros”, afirmou João Barbosa, secretário-geral desta associação.
O responsável destacou o “contexto favorável” para o termalismo que se vive, com apoios do quadro comunitário para requalificação do parque termal, formação e investigação. Defendeu que é preciso preparar o sector para a internacionalização e fazer valer junto da tutela os ganhos que se tem ao apostar-se na prevenção e controlo da doença.
João Barbosa referiu que este é um mercado em crescimento, no qual o gasto médio de um turista do segmento de bem-estar é 130% maior do que o gasto médio do turista do sector do turismo a nível global. No ano passado 45 mil pessoas procuraram programas terapêuticos clássicos em Portugal, o que representou 420 mil dias de tratamento, mais 4,1% do que em 2014. Já em relação aos programas de bem-estar, estes foram procurados por 60 mil clientes, representando mais de 58 mil dias de práticas termais. Estes programas tiveram um aumento da procura na ordem dos 97% em relação ao ano anterior.
O termalismo representa em Portugal, de acordo com este responsável, um volume de negócios de 12 milhões de euros anuais, no que respeita diretamente aos balneários termais. Mas esse valor ascende a 21 milhões de euros quando se refere aos negócios relacionados com o turismo de saúde e bem-estar, ao nível dos tratamentos, consultas, hotelaria, restauração e comércio local.
“Este sector não é deslocalizável e é um pólo de desenvolvimento fortíssimo para a região onde se insere”, disse. No entanto, realça que é fundamental trabalhar em rede para ser competitivo. Referindo-se às Caldas disse que o compromisso da Rainha (documento no qual D. Leonor deixa as termas e o hospital termal mais antigo do mundo em herança aos caldenses) é um atractivo internacional.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, deu nota do trabalho já desenvolvido pela autarquia para o relançamento do termalismo e informou que em Setembro serão abertos concursos para obras, no valor de 280 mil euros, e aquisição de equipamentos, no valor de 140 mil euros, de modo a possibilitar a abertura do Hospital Termal em 2017.
O autarca recordou que as Caldas, apesar de ainda não ter as suas termas a funcionar, foi a primeira cidade portuguesa a integrar a rede europeia, seguindo-se depois Chaves e S. Pedro do Sul.
“É preciso dar visibilidade aos produtos das Caldas”
Entre os participantes nesta apresentação estava Elena Dubinina, da Organização Mundial do Turismo, que destacou as potencialidades das Caldas da Rainha a nível turístico, sobretudo quando a nova tendência é a procura de experiências locais e extraordinárias. “É muito autêntica, aqui sente-se o sabor do local”, disse a responsável, sublinhando que o facto de não ser uma grande cidade permite ser visitada a pé de maneira a tomar contacto fácil com os monumentos e a paisagem local, como é o caso do parque D. Carlos I. “Os seus produtos são muito bons, mas é preciso é dar-lhes visibilidade a nível nacional e internacional”, acrescentou, referindo-se à gastronomia e aos vinhos.
A responsável deixa, no entanto, alguns conselhos para que a atractividade das Caldas possa ser melhorada. Em primeiro lugar, a página de internet do município deve ser apelativa e não ter muita informação burocrática, que desincentiva os turistas. “Talvez colocar vídeos e fotos das Caldas e não tanta informação”, sugeriu.
Também é importante constar nas redes sociais, como é o caso do instagram, flickr, facebook e twitter, assim como criar uma hashtag (palavra-chave antecedida pelo símbolo #) para dar uma imagem forte das Caldas.
“Acabam, depois, por ser os turistas a alimentar essa conta com os seus posts”, remata a profissional, que considera importante dar a possibilidade aos turistas de promoverem a própria cidade.
Elena Dubinina sugeriu também a organização de viagens promocionais para jornalistas e bloggers nacionais e internacionais de sucesso, para escreverem sobre as Caldas, permitindo-lhes descobrir o património local, a gastronomia, o termalismo ou a cerâmica.
Para o próximo ano, em Maio, está prevista a realização da assembleia da rede das cidades termais nas Caldas e Elena Dubinina considera que é uma boa oportunidade para organizar um seminário internacional mostrando a dimensão europeia das Caldas. “Acredito que as Caldas já tem um produto, uma atmosfera muito interessante e que agora é necessário promover-se, sobretudo nas redes sociais, de uma forma muito visual, de modo a que possa ser facilmente perceptível pelos turistas”, concluiu.